‘Nova Alerj’ ainda sob o controle de Cabral e Picciani

Governador reeleito do Rio de Janeiro, Sério Cabral (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr) Rio de Janeiro – Antes de ser eleito senador e, posteriormente, governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral […]

Governador reeleito do Rio de Janeiro, Sério Cabral (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Rio de Janeiro – Antes de ser eleito senador e, posteriormente, governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) consolidou seu capital político nos oito anos (1995-2002) em que, como deputado estadual, foi presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Quando deixou a Alerj, Cabral teve o lugar ocupado pelo deputado Jorge Picciani (PMDB), que também presidiu a casa por oito anos (2003-2010) até tentar uma vaga _ no seu caso, sem sucesso _ no Senado nas últimas eleições.

A nova bancada da Alerj, que assumiu em 1º de fevereiro, é a primeira em 30 anos a não contar nem com Sérgio Cabral nem com Jorge Picciani como deputados. Mas, curiosamente, o controle dos dois caciques políticos sobre a Assembléia talvez nunca tenha sido tão grande. Mesmo derrotado na disputa pelo Senado, Picciani mostrou que ainda manda no PMDB fluminense e foi decisivo na eleição em chapa única do deputado aliado Paulo Melo (PMDB) para presidir a Alerj no próximo biênio.

Além disso, Picciani conseguiu fazer com que seu filho _ o deputado em primeiro mandato Rafael Picciani, de apenas 24 anos _ fosse indicado pelo partido para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada estratégica para o governo e uma das mais importantes da Alerj. Com o filho mais velho, Leonardo, ocupando uma cadeira de deputado federal em Brasília, Picciani deve manter a si próprio sob os holofotes ao assumir a coordenação da frente ampla que o PMDB pretende formar em torno da reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes.

O poder de Cabral sobre a Alerj, por sua vez, se traduz na folgada maioria da qual o governador passa a usufruir na casa, ainda maior do que no primeiro mandato. A falta de articulação da oposição na legislatura que se inicia teve como primeira conseqüência a ausência de um adversário viável para Paulo Melo na disputa pela presidência. Sessenta e seis dos 70 deputados votaram no candidato governista para presidente da Alerj. Um deputado do PMDB se ausentou, os dois deputados do PSOL decidiram não votar e apenas a deputada Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador Anthony Garotinho, votou contra o peemedebista.

A eficiência da articulação política comandada pela dupla Cabral-Picciani ficou evidente na vitória de Melo. Sua eleição, que seria um mero ato de continuidade, dada a falta de poder de fogo da oposição, havia se transformado em ameaça de racha na base do PMDB com a decisão do deputado Domingos Brazão de também concorrer à presidência da Alerj. Alertado sobre a possibilidade de fracionar sua base na Assembléia logo na primeira votação importante do ano, Cabral atuou nos bastidores para costurar um acordo no qual Melo e Brazão aceitavam dividir a presidência da Alerj pelos próximos dois anos.

No entanto, com o respaldo do governador e de Picciani, Melo anunciou que não iria cumprir o acordo e que, se Brazão insistisse na disputa, que o fizesse no voto. Surpreendentemente, Brazão, também após aconselhar-se com Picciani e Cabral, mudou de tom: “Não serei candidato e vou votar em Paulo Melo pelos bens maiores que são a governabilidade do Rio de Janeiro e a unidade do PMDB”, disse. Depois de eleito, Melo retribuiu: “Meu coração está aberto para você, meu amigo deputado Domingos Brazão”, disse, lágrimas nos olhos.

Brancaleone

A vida da oposição não promete ser fácil no segundo mandato de Cabral. O campo que apoiou a candidatura de Fernando Gabeira (PV) ao Governo do Rio, formado por PSDB, DEM e PPS, começou a atual legislatura tendo de amargar a defecção de um de seus principais quadros, o deputado André Corrêa (PPS), que surpreendeu a política carioca ao anunciar que vai se licenciar do partido para assumir a liderança do governo Cabral na Alerj. Ainda sob o choque, outros deputados influentes desse campo, como Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e Comte Bittencourt (PPS), apostam na instalação de CPIs para investigar o governo. Somente no primeiro dia de trabalho, já haviam sido protocolados 25 pedidos de CPI na Mesa Diretora da Alerj.

Outro provável foco de oposição a Cabral _ o PR da família Garotinho _ teve uma desastrada atuação de estréia em termos de bancada. Mesmo com a Executiva Regional do partido tendo publicado na véspera uma nota em repúdio à eleição de Paulo Melo e mesmo após a líder Clarissa Garotinho declarar voto contrário ao peemedebista no microfone do plenário, oito dos nove deputados que compõe a bancada do PR votaram a favor de Melo. A única exceção foi a própria Clarissa que, diga-se de passagem, em outubro elegeu com seus próprios votos o resto da bancada do partido.

Indignado, Anthony Garotinho, que agora é deputado federal e presidente regional do PR, divulgou nota na qual afirma que os oito deputados estaduais do partido que não seguiram a orientação da liderança da bancada e votaram em Melo terão seus nomes encaminhados à comissão de ética do partido: “Todos serão ouvidos e, eventualmente, punidos, de acordo com o estatuto do partido. Quem não sabe ser liderado, também não serve para liderar”, disse o ex-governador, manifestando solidariedade à filha, que estreou de maneira traumática na Alerj.

Esquerda

Na oposição à esquerda, existe a expectativa de um novo mandato combativo do deputado Marcelo Freixo (PSOL), que se destacou em seu primeiro mandato na articulação da luta em defesa dos direitos humanos e pelo combate aos milicianos que atuam em diversos pontos do Rio de Janeiro. A excelente votação obtida por Freixo em sua reeleição permitiu a eleição de um segundo deputado do PSOL, a sindicalista Janira Rocha, e a expectativa é que, com munição em dobro, o partido faça algum barulho na oposição a Cabral durante a atual legislatura.

A tradicionalmente combativa bancada do PT na Alerj segue com nomes tradicionais como Gilberto Palmares e Inês Pandeló, mas começa a atual legislatura com duas baixas consideráveis. Uma é Carlos Minc, que foi reeleito, mas deixou a Alerj para reassumir a Secretaria Estadual do Ambiente. Outra baixa na bancada petista da Alerj é Alessandro Molon, que se elegeu deputado federal (o mais votado do PT) e deixará uma lacuna em termos de militância ligada aos direitos humanos, à educação e à fiscalização dos atos do governo, entre outros.

Para substituir o combativo Molon, a esperança da militância do partido está depositada na renovação da bancada, que traz nomes como o ex-prefeito de Paracambi, André Ceciliano, e o ex-chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira. Um dos deputados de quem se espera atuação de maior destaque na esquerda carioca é Róbson Leite, que mal assumiu e já começou a atuar para evitar novas tragédias ambientais como as ocorridas na Região Serrana em janeiro: “Vamos apresentar um projeto para uma Lei de Responsabilidade Ambiental para os municípios”, disse o petista, candidato a “novo Molon” da Alerj.