Gabeira se afasta de Serra e busca fortalecer PV

Depois de buscar, sem sucesso, apoio do tucano para melhorar a arrecadação de sua coligação estadual, relação com Marina melhora

Em julho, Gabeira e Marina estiveram no Morro dos Prazeres (Foto: Marcus Veras/Divulgação)

Rio de Janeiro – A boa relação política entre o candidato ao governo do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (PV), e o presidenciável José Serra (PSDB) subiu no telhado. Depois de comprar a briga do tucano dentro do PV – que se recusava a aceitar a aliança com o DEM de Cesar Maia – e convencer o grupo liderado pelo presidente regional do partido, Alfredo Sirkis, a desistir de lançar a candidatura da vereadora Aspásia Camargo ao Senado, Gabeira se expôs publicamente sem receber de Serra a retribuição desejada, seja em termos de apoio financeiro ou transferência de votos.

Um termômetro da tensão interna causada pelo apoio forçado a Cesar Maia no PV são as tradicionais atividades que o partido promove aos fins-de-semana na orla de Ipanema em época de campanha eleitoral. Até agora, Gabeira pouco foi visto em companhia dos candidatos a deputado de seu partido, apesar de ser morador da zona sul carioca. O nome de Maia tampouco aparece nos materiais impressos do PV. Em contrapartida, o DEM “esquece” de mostrar Gabeira em sua propaganda na televisão.

Essa queda-de-braço colocou o candidato verde na difícil situação de ter que optar entre estar com os seus correligionários ou acompanhar Serra durante as visitas ao Rio do candidato a presidente. Nas primeiras semanas de campanha, a opção claramente foi por acompanhar o tucano (ladeado por Cesar Maia). Assim, Gabeira teve de arcar com a conseqüência de ouvir rumores de que estaria muito distante de Marina Silva, a postulante do PV ao Palácio do Planalto. Durante o debate da TV Bandeirantes, o deputado chegou a ouvir do afiado candidato a governador Jefferson Moura (PSOL) que suas opções políticas o transformaram em “um ex-Gabeira”.

De alguns dias para cá, no entanto, essa realidade começou a mudar. Frustrado pela falta de ajuda financeira por parte da campanha de Serra, Gabeira, que no início da corrida eleitoral almejava atingir o patamar de 35% dos votos do tucano, está a vendo a história se inverter. Agora, é Serra quem despenca nas pesquisas e se aproxima de Gabeira, que aparece com 17% das intenções de voto na mais recente pesquisa do Datafolha. Se as eleições fossem hoje, ambos os candidatos estariam derrotados no primeiro turno.

O fracasso prático da aliança entre Serra e Gabeira ganhou contornos mais nítidos na semana passada, quando o tucano esteve duas vezes no Rio sem se encontrar com o verde. Durante a palestra de Serra aos militares no Clube da Aeronáutica, nem sinal de Gabeira. Dias antes, Serra passou a tarde na Baixada Fluminense, acompanhado pelo prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PSDB), que diz não apoiar Gabeira porque o verde “defende veados e maconheiros”.

“Resultado compensador”

Gabeira, aos poucos, volta aos braços do PV. Isso aconteceu durante o evento em torno do deputado verde francês Daniel Cohn-Bendit, que contou exclusivamente com militantes do partido. Com exclusividade à Rede Brasil Atual, Gabeira deu a entender que seu principal objetivo no momento é ajudar Marina e fortalecer o PV. “Na campanha eleitoral, eu sempre apoiei a Marina. Minha posição é de apoio à Marina e nós avançamos muito no Brasil. Nossa primeira candidatura teve 1% dos votos. Nesse momento, estamos com pelo menos 10% dos votos, o que significa que houve um avanço real do PV. Em termos de posição, é um avanço semelhante ao dos verdes europeus. Nós vamos tentar crescer mais, chegar ao segundo turno, mas o resultado até agora já é um resultado compensador”.

Gabeira também rebateu as insinuações de que estaria mais próximo de Serra do que da candidata do PV. “O que acontece é que, para efeito de competição, eu tinha e precisava do apoio de todos os partidos que são oposição ao governo (Sérgio) Cabral (PMDB) hoje. Então, o Serra me apoiou, eu recebi esse apoio, mas acredito que, entre o apoio dele e o meu engajamento na campanha da Marina, não houve nenhuma contradição”, disse.

Demonstrando menos calma que o colega de partido que o derrotou no debate interno, Alfredo Sirkis também reagiu à insinuação de proximidade com Serra. “De novo essa pergunta? Isso é uma pauta requentada, não existe”, protestou. “O Gabeira já colocou ‘trocentas’ vezes que vota na Marina, apoia a Marina e tem participado da campanha da Marina com todo o entusiasmo. Evidentemente, ele é apoiado pelo Serra. É o mesmo caso do Tião Viana, do PT, no Acre, que tem o apoio de duas candidatas a presidente. Não existe nenhuma falta de sintonia entre Gabeira e o PV, mas sim um esquema de manipulação da informação que quer passar essa idéia”, acusou.

Pivô da crise na coligação com o PSDB, o DEM e o PPS, Aspásia Camargo, que concorre ao cargo de deputada estadual, comemora a presença de Gabeira. “Custamos mais, todos nós, a entrar em cena, e o PV tem a tradição de entrar mais devagar ainda porque é um partido com recursos limitados, a gente não pode contar com o apoio de nenhuma máquina pública”, sustenta.

“Mas, o que eu sinto é um entusiasmo muito grande pelo partido e um reconhecimento das lideranças que estão aí. A Marina, o Gabeira, o Sirkis e eu também estamos juntos nessa virada, as bicicletas caminhando juntas e a campanha sendo feita de forma bastante integrada”, opinou Aspásia.

Tostão contra milhão

A questão dos recursos citada por Aspásia Camargo está no centro do esfriamento da relação política entre Serra e Gabeira. A campanha tucana deveria, a princípio, contribuir com boa parte dos R$ 15 milhões que o candidato do PV estimou como custo de sua própria campanha. O dinheiro, no entanto, não chegou da forma combinada, a ponto de Gabeira no início deste mês ter declarado à Justiça Eleitoral a arrecadação de apenas R$ 100 mil. No mesmo dia, o governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato a reeleição, apresentou receita de R$ 4,7 milhões, ou seja, 47 vezes mais.

Em clara desvantagem e em busca dos recursos prometidos, Gabeira chegou a ir a São Paulo em companhia do líder tucano Márcio Fortes, candidato a vice em sua chapa. Naquele dia, Gabeira chegou a participar de uma atividade nas ruas paulistanas ao lado de Serra, o que acarretou inúmeras críticas do PV no Rio. Para completar, mais uma vez o verde voltou de mãos abanando.

“Já avisei aos militantes que não temos dinheiro e que a campanha vai ser algo simples”, disse o candidato, antes de anunciar que usaria um estúdio caseiro para gravar seus programas para a TV. Indagado se não tentaria recursos junto ao próprio PV, Gabeira foi taxativo: “Não. Eu prefiro que a Marina use o dinheiro na campanha dela”.

A penúria financeira da campanha de Gabeira, no entanto, deverá ser atenuada esta semana, com a entrada prevista de R$ 200 mil doados pelo PV e R$ 500 mil doados pelos PSDB. No total, o candidato verde entra em setembro com um total arrecadado de R$ 1,2 milhão, doze vezes mais do que no início de agosto: “Estávamos sem dinheiro, mas fazendo uma campanha digna. Agora, me sinto fortalecido com as contribuições do PV e do PSDB”, disse Gabeira. Os próximos dias de campanha dirão se o dinheiro doado pelos tucanos reaproximará Serra e Gabeira.