São Paulo – A direção estadual do Psol mantém o nome do professor universitário Gilberto Maringoni, da Universidade Federal do ABC (UFABC), como pré-candidato a governador de São Paulo para as eleições de outubro deste ano, mas uma parcela da militância não pretende desistir da candidatura do filósofo e professor Vladimir Safatle, que realizava a pré-campanha pelo partido desde outubro de 2013 até a primeira semana de maio, quando deixou o páreo em atrito com a dirigência partidária, que o teria retirado sumariamente da disputa. Aparentemente à revelia do próprio Safatle, que afirmou em entrevista recente que prefere estar “fora de cena” durante a disputa eleitoral deste ano, coletivos psolistas organizam abaixo-assinados e campanha para reapresentar o nome do acadêmico como candidato em convenção partidária, com o objetivo de derrotar, no voto, a direção.

O movimento reuniu 2,5 mil assinaturas a favor da volta de Safatle desde 14 de maio e agrega o apoio de lideranças como Luciana Genro, que publicou carta em defesa da candidatura no último dia 22. “Com todo o respeito que devemos ter por Maringoni, seu nome divide o Psol, inviabiliza a frente com o PSTU e a frente de esquerda e não tem condições de se apresentar como um pólo alternativo ao PT e ao PSDB”, comentou a pré-candidata a vice-presidente do partido. “Com Safatle, o Psol e a frente de esquerda podem começar a disputar a influência de massas. Sem ele, nossa derrota na eleição se impõe, o que é inaceitável, sobretudo quando as chances de lutar e de vencer são evidentes e estão postas como uma possibilidade concreta”, conclui Luciana, que buscou distanciar-se da polêmica envolvendo a saída do candidato: “Não é meu propósito discutir quem errou. Trata-se de lutar para termos o melhor candidato.”

Luciana revelou ainda que o atrito em São Paulo atingiu a composição de alianças da pré-candidatura a presidente do senador Randolphe Rodrigues (AP) ao se tornar ponto de divergência com o PSTU, que integrou, nas últimas três eleições presidenciais, a frente de esquerda liderada pelo Psol. Na carta, a ex-senadora chegou a oferecer a vaga na vice-presidência da chapa psolista ao PSTU para garantir a manutenção do acordo, mas, diante da negativa do partido aliado de retomar as conversar, voltou atrás em novo texto, no dia 30 de maio. Ela fez ainda novas críticas às posturas recentes adotadas por lideranças do Psol.

“É urgente uma maior integração política no comando da campanha, para que não sejam tomadas mais medidas que nos enfraqueçam na batalha por representar as demandas e o espírito de junho nesta campanha, como foi a exclusão de Safatle da candidatura em São Paulo e também os recentes movimentos de Randolfe, como a ida à homenagem à Marta Suplicy e a foto com Aécio Neves”, afirma.

Entre os apoiadores de Safatle existe a expectativa de que ele poderia inspirar, em São Paulo, o mesmo crescimento eleitoral que o deputado estadual Marcelo Freixo conquistou no Rio de Janeiro no ano de 2012, quando o partido conquistou 28,15% dos votos no primeiro turno, rompendo sequência de resultados abaixo dos dois dígitos.

Para tanto, Vladimir Safatle deu início, desde o fim do ano passado, à articulação por uma frente de esquerda com o PSTU e outros partidos de esquerda, além de ter capitaneado um processo de aproximação política com os movimentos envolvidos nos protestos de rua de junho de 2013, que se mobilizam às vésperas da Copa do Mundo. A militância envolvida nesse processo vê, na mudança do candidato, também recuo em relação a essa linha de atuação para 2014.

A convenção nacional do Psol, em que serão definidas as candidaturas e as alianças do partido nacionalmente e nos estados, ocorre nos dias 21 e 22, em Brasília.