Marina critica agronegócio e pede mudanças na pecuária

Em entrevista ao Jornal da Globo, candidata do PV afirma ainda que não daria 'audiência' para o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad

Marina afirma que seus concorrentes fizeram da campanha uma “novela” (Foto: Reprodução)

São Paulo – A candidata à Presidência da República Marina Silva (PV) criticou setores do agronegócio brasileiro por adotarem técnicas menos produtivas na pecuária. Ela ainda lamentou que o governo Lula tenha passado oito anos fazendo propaganda do etanol, sem conseguir transformá-lo em commodity. Boa parte da entrevista na madrugada desta quinta-feira (2) ao “Jornal da Globo” foi dedicada a afinetadas a seus concorrentes por tornar a disputa uma “novela”. 

Para Marina, tanto José Serra (PSDB) quanto Dilma Rousseff (PT) fazem da campanha uma “para ver quem tem um mundo mais fantasioso” e uma “guerra entre o vermelho e o azul”. Ela voltou a destacar o uso de uma “favela virtual”, montada em estúdio, para a gravação da propaganda eleitoral gratuita do tucano.”É por isso que nós estamos insistindo em debater o Brasil, debater o que interessa”, insistiu. A candidata tem batido nessa tecla desde que foi oficializada na corrida ao Palácio do Planalto.

Marina foi a terceira candidata entrevistada pelo Jornal da Globo. Dilma e Serra foram entrevistados na terça (31) e quarta-feira (1º). Os jornalistas Christiane Pelajo e William Waack formularam as perguntas durante os 20 minutos de conversa, durante dois blocos da edição.

Rio-São Paulo

Ela foi bastante questionada sobre a situação financeira de sua campanha eleitoral, bem como sobre o Acre, estado governado pelo PT há três mandatos. O grupo político é ligado a Marina e, mesmo após a filiação da senadora ao PV, o apoio foi mantido. Ela admitiu que seu estado ainda tem problemas graves, mas padece de um histórico em que a oligarquia controlava a política local e negligenciou áreas como saúde, educação e saneamento básico.

“Difícil é imaginar que o estado mais rico da federação, que é o estado de São Paulo, tenha uma situação como eu vi lá na favela da Mata Virgem. (…) Por isso que eu estranhei que no programa do governador Serra ele tenha apresentado uma favela virtual. Porque tem uma favela real”, criticou. Ela criticou ainda o Rio de Janeiro, segundo mais rico do país, que amarga a segunda pior posição no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) produzido pelo Ministério da Educação.

Tanto em São Paulo quanto no Rio, o PV tem candidatos na disputa a governador. Se o paulista Fábio Feldman aparece com poucas chances, Fernando Gabeira é o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto na eleição fluminense.

Sobre política externa, Marina afirmou que não concederia “tanta audiência” ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao contrário do que fez presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ninguém pode ser criticado pelo diálogo, mas não se pode fazer em nome do diálogo um movimento político que acaba favorecendo um ditador”, disse.

Agronegócio

“Opor meio ambiente e desenvolvimento é o caminho para onde não deve ir”, disse a candidata. Mesmo reconhecendo o papel do agronegócio para a balança comercial, Marina defendeu o uso de técnicas mais modernas, muitas delas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que poderiam conter a expansão da fronteira agrícola e reduzir o desmatamento.

“Aqui em São Paulo, a produção agrícola e a produção de carne têm altíssima tecnologia. Por que não pensar em fazer o mesmo na Amazônia? Por que quando é o Cerrado, a Amazônia, o Pantanal, a caatinga, as pessoas acham que podem fazer de qualquer jeito?”, propôs. “Se nós fizermos as coisas da forma certa, vamos gerar novos empregos, novos produtos, novos materiais”, previu.

Em outra crítica ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ela defendeu um papel mais ativo do governo federal para transformar o etanol em uma commodity. O biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar tem restrições para a comercialização internacional por não ser negociado como o açúcar e outros insumos derivados de produtos agrícolas ou da mineração.

“Por que que ainda não aconteceu isso (tornar o etanol em commodity)? Porque o Brasil perdeu oito anos. Em lugar de fazer a certificação, só fazia propaganda”, criticou.