Da perseguição à transição

Lula: ‘Foram cinco anos de vidas destruídas. E estamos aqui, de cabeça erguida’

“Foram cinco anos de vidas destruídas”, disse Lula, sobre as perseguições sofridas. “Não desejo vingança. Mas não vou esquecer”

Reprudoção/YouTube
Reprudoção/YouTube
"Cabe a nós mostrar mais uma vez como é que se governa um país cuidando das pessoas que precisam", disse Lula

São Paulo – O presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que trabalhará para que o Brasil “volte a ser um país alegre”. Lula falou sobre o país durante a cerimônia de encerramento dos trabalhos dos grupos do Gabinete de Transição, nesta terça-feira (13). “São quatro anos. Vou me dedicar dia e noite. Não haverá chuva, sol, nada que me proíba de fazer esse país feliz de novo”, disse.

Lula resgatou sua história na política, desde sua primeira eleição, em 2002, até o ato da diplomação de ontem. “Cabe a nós mostrar mais uma vez como é que se governa um país cuidando das pessoas que precisam”, disse. Ele argumentou que conseguiu seu terceiro mandato nas urnas porque “o povo lembra dos bons momentos que viveu”. Ao dizer que “acabou o complexo de vira lata” e em retomar a autoestima do brasileiro, assinalou que o país precisa recuperar o prestígio com Estados Unidos, China, França, Alemanha, Argentina e com o mundo todo e “voltar a ser respeitado com soberania”.

O chefe de governo que toma posse em 1º de janeiro confirmou a indicação de Aloizio Mercadante para dirigir o BNDES com uma provocação aos agentes do capital financeiro. “Quem quiser ganhar dinheiro, venha para o Brasil. Invista seu dinheiro. Esse país tem espaço para todos”, disse.

“Queria dizer ao glorioso mercado, que às vezes, parece invisível. Mas digam se em algum momento da vida do mercado brasileiro os operadores ganharam tanto dinheiro como quando governei. Pergunte o mesmo ao agronegócio. Pergunte aos banqueiros. Mas também pergunte aos bancários, aos comerciários. Provamos que é possível governar para todos, de verdade”, completou.

Histórico

Lula se apresentou aos brasileiros como uma força política ligada intimamente com o humor social. “Sempre digo que sou o resultado da sociedade. Se a sociedade avança, eu avanço. Se não, eu não avanço.” E atribuiu sua candidatura à convicção de que seria a única capaz de derrotar Bolsonaro. “Era por conta do legado que deixei durante oito anos na Presidência.”

O presidente eleito disse não carregar ânimo vingativo em relação à perseguição política sofrida nos últimos anos. Um processo encerrado por parcialidade e incompetência de seu acusadores, mas que o levou à prisão e o tirou da eleição de 2018.

“Nunca aceite ser chamado de ladrão quando você é inocente. Nunca aceite a ideia de pagar o preço de um crime que você não cometeu (…) Mas não quero vingança. Depois do presente que o povo brasileiro me deu, não tenho direito de ter esse sentimento. Contudo, não me peçam para esquecer”, afirmou.

“As mentiras que Moro e Dallagnol contavam eram transformadas em verdade pelos meios de comunicação. Verdade absoluta. Foram cinco anos de vidas destruídas. E nós estamos aqui, de cabeça erguida. Tenho certeza que meus acusadores não andam de cabeça erguida como eu.”

A luta maior

As forças políticas e jurídicas que perseguiram Lula foram as que compuseram o governo Bolsonaro. Mas o presidente eleito argumentou a extrema direita é um mau maior ser combatido. “É importante saber que eles fazem parte de uma organização de extrema direita que existe na Espanha, na Itália, nos Estados Unidos do Trump, na Hungria. Vários outros países, inclusive na nossa querida Argentina. Esse grupo veio para negar. O que eles mais fazem é negar os direitos das famílias”, disse.

Ao trazer os traços da extrema direita para o Brasil, Lula apontou para os problemas do bolsonarismo. “Esse cidadão ainda não reconheceu a derrota. Além disso, continua incentivando fascistas que estão nas ruas. Ontem ele recebeu esse pessoal no Palácio da Alvorada. Ele pensou que era uma coisa eterna. Continua negando o resultado das eleições. Ele negou até na eleição que ele ganhou. Segue o rito que todo fascista segue.”

Então, não se trata de um período comum, assim como a eleição não correu em ritmo de normalidade. “Tivemos uma campanha muito difícil, possivelmente a mais difícil que participei. Não foi uma campanha habitual de um partido contra outro, de uma pessoa contra outra”, disse Lula. “Tivemos que enfrentar o Estado brasileiro. Nunca o Estado e suas instituições estiveram tão à serviço de um candidato como esteve na defesa do senhor Bolsonaro. Uma figura anômala, irracional, sem coração, sem sentimento, incapaz de um gesto de solidariedade”, completou.

Compromissos de Lula

“Quero, no dia da minha posse, assumir um compromisso com a educação básica nesse país”, disse Lula. “Não é possível a gente não compreender a necessidade desses meninos terem escola de qualidade. Inclusive, escola de tempo integral. Vamos fazer todo o esforço possível para esse país ter escola de tempo integral. Além de educação, teremos menos violência. É um compromisso a questão do ensino básico”, completou.

Da mesma forma, Lula assumiu um segundo compromisso junto aos integrantes da transição. “Então, outra questão é a saúde. Não é possível que depois da pandemia a gente não compreenda o papel sagrado que tem o SUS na história desse país. Desde quando criamos o SUS, ele é incompreendido. Muita gente ligada à medicina privada, às vezes gente dos meios de comunicação, deterioram a imagem do SUS (…) Agora, a Saúde passa a ser uma questão fundamental.”

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