Construção coletiva

Lula instala conselho e espera PPA participativo: ‘Errou feio quem achou que seria possível governar sem ouvir a sociedade’

Presidente espera que as 68 entidades do colegiado permitam ao governo apresentar um plano plurianual com mais demandas populares

Reprodução/YouTube
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Presidente afirmou que a construção se dá pela divergência: 'Não gosto de trabalhar com iguais'. PPA seguirá para o Congresso em agosto

São Paulo – Com a instalação, nesta quarta-feira (19), do Conselho de Participação Social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera entregar ao Congresso, em agosto, um Plano Plurianual (PPA) – para o período 2024-2027 – com mais demandas populares. “Errou feio quem, nos últimos anos, achou que seria possível governar decentemente sem ter que ouvir a sociedade civil”, afirmou, durante a cerimônia.

O PPA é uma das três leis orçamentárias do Brasil. As outras são a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O plano quadrienal deve ser apresentado sempre no primeiro ano do mandato. O Executivo espera a participação de milhões de pessoas no PPA, via conferências, e também pela plataforma digital.

Plenárias estaduais

No total, 68 organizações compõem o conselho instalado hoje. No caso do PPA, estão programadas 27 plenárias estaduais, de 11 de maio até o início de julho. O processo está sob responsabilidade dos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência da República) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento).

O dia a dia do conselho ficará com o secretário nacional de Participação Social, Renato Simões. Terá ainda participação do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, da Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).

Márcio Macêdo assina decreto de criação do conselho: plano com ‘impressões digitais’ da população (Foto: reprodução/YouTube)

“Hoje, estamos replantando o planejamento no Brasil”, afirmou Simone Tebet. “E são os senhores que vão replantar a terra”, acrescentou, dirigindo-se às entidades. Segundo ela, nos quatro anos anteriores, “esta terra foi comandada por um capataz insensível”. Que usou o joio em vez do trigo e fez “passar a boiada do desmatamento ilegal, das armas em substituição aos livros e da ordem extremista do ódio em lugar do diálogo”. Ela terminou citando versos da música Cio da Terra, de Chico Buarque e Milton Nascimento.

Impressões digitais do povo

“Eu e a ministra Simone vamos rodar este Brasil”, disse Macêdo. “Esta é uma construção a várias mãos.” Assim, ele definiu o conselho como o “reencontro com a democracia participativa no Brasil”, após seis anos de desencontros. Para entregar, conforme sua definição, um “planejamento com impressões digitais do povo”.

Kleber Karipuna, da Apib: compromisso do novo governo após anos de ‘conselhos sufocados’ (Foto: reprodução/YouTube)

Coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna destacou o compromisso do governo após anos de conselhos “sufocados, extintos”. Lembrou que o conselho foi instalado justamente no Dia dos Povos Indígenas e destacou a realização, nos próximos dias 24 a 28, do Acampamento Terra Livre.

Construção pela divergência

“Eu não gosto de trabalhar com iguais”, disse Lula antes do discurso formal. “É pela divergência que a gente pode construir algo melhor. (…) O sujeito da história são vocês”, acrescentou o presidente.

“As políticas públicas necessárias para construir esse Brasil são tão amplas e complexas que precisam ser pensadas em conjunto com quem está na luta diária de nosso povo. Com as pessoas que conhecem e representam os desafios locais, as diferentes realidades que existem em nosso país.” Por isso, disse Lula, “estamos indo aonde o povo está”.

Entidades resistiram ao desmonte

Segundo ele, o governo anterior pensava que, acabando ou esvaziando os conselhos, as críticas desapareceriam, mas as entidades resistiram. “E o que aconteceu com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, o Consea, é um exemplo disso. As organizações que já haviam participado do Consea não se desmobilizaram após ele ser extinto. Pelo contrário: se tornaram ainda mais fortes e atuantes.”

Lula lembrou que seu governo já recriou cinco conselhos nacionais e está reformulando outros sete. Nos oito anos dos dois primeiros mandatos, foram realizadas 74 conferências temáticas.

“Quando um governo não sabe de tudo, tem que ouvir quem sabe, que é o conjunto da população brasileira.”

Agora, cinco conferências estão previstas pra este ano: Saúde Mental, Direitos da Criança e do Adolescente, Cultura, Assistência Social e Direitos da Pessoa com Deficiência. A ideia é iniciar, ainda em 2023, as conferências da Juventude e da Segurança Alimentar e Nutricional.

Estado aberto a demandas

“A verdadeira democracia requer que, a todo tempo, o Estado se torne cada vez mais aberto e permeável às demandas da sociedade”, afirmou ainda. “Isso passa pela construção participativa do Plano Plurianual, pelo fortalecimento dos conselhos e a retomada das conferências nacionais. (…) Como governante, quero e preciso ouvir de vocês, da sociedade, as reais demandas e anseios de nosso povo. Quero e preciso ouvir de vocês as cobranças e as críticas que forem necessárias.”

No final, o presidente fez referência aos atos golpistas e a necessária responsabilização pelos crimes. Segundo ele, cada pessoa que participou será julgada “e vai ter direito à presunção de inocência que eu não tive”. E concluiu afirmando que “neste país não existe espaço para nazista, para fascista e para quem não gosta de democracia”.

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