Simone ou Marina?

‘A frente é ampla, mas capitaneada por Lula’, diz cientista sobre intriga contra PT, MDB e Rede

Avaliação é a de que a imprensa comercial coloca Simone Tebet (MDB) e Marina Silva (Rede) como pivôs de uma possível crise antes do início do mandato de Lula. “É prerrogativa do presidente a escolha (por ministérios) e isso ninguém pode tirar dele”, diz Rosemary Segurado

Ricardo Stuckert/Divulgação
Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula fez acenos, ontem, às aliadas, ao dizer que alguns nomes de pessoas que tiveram coragem de enfrentar “esse governo fascista” de Bolsonaro serão contemplados de alguma forma nos ministérios

São Paulo – A cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rosemary Segurado, critica a intriga que vê sendo criada pela mídia comercial em torno de Lula, Simone Tebet e Marina Silva. Na sua avaliação, há um esforço para minar a frente ampla ao tentar colocar em choque a deputada eleita da Rede-SP e a senadora do MDB-MS como pivôs de um possível racha. E isso ainda antes da posse em 1º de janeiro.

“Gosto do termo intriga porque, na verdade, quando setores da grande imprensa fazem isso, fazem em nome daquelas forças políticas que eles representam”, observa Rosemary em entrevista à edição desta sexta (23) do Jornal Brasil Atual. De acordo com a cientista política, a mídia reproduz o que fez, no início do mês, quando o ex-prefeito e ministro Fernando Haddad (PT) foi anunciado como chefe do Ministério da Fazenda. 

No caso da ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva, porque ela ainda não foi anunciada para o comando do Meio Ambiente. Mas, principalmente sobre a senadora Simone Tebet, que não foi indicada para ocupar a pasta de Desenvolvimento Social. O ministério foi designado, nesta quinta-feira (23), para o ex-governador e senador eleito Wellington Dias (PT-PI). A interlocutores, Tebet teria afirmado que esse era o posto que gostaria de chefiar no governo Lula. A não contemplação, contudo, ganhou destaque na imprensa que criticou a ausência de seu nome entre os escolhidos. 

‘Wellington Dias é o nome mais adequado’

Conforme lembrou, os veículos tentaram a princípio mostrar que Haddad não seria qualificado para o cargo. “Quando ele é mais do que qualificado para o cargo, é o nome adequado e ideal para recompor essa área econômica que foi desmantelada por Paulo Guedes à frente desse projeto neoliberal que ele implantou ao longo de seus anos no ministério (da Economia)”, rebate a professora. E o nome de Wellington Dias é o mais adequado para o Desenvolvimento Social, segundo a professora. 

Ao anunciá-lo em evento nesta quinta, o próprio Lula lembrou que foi no Piauí que o programa Fome Zero foi lançado, em 2003. A medida social se tornou uma referência mundial e deu origem ao Bolsa Família. Além disso, nas eleições deste ano, o estado garantiu a maior votação ao presidente eleito, com 76,84% dos votos válidos. 

Mesmo com as credenciais da senadora para ocupar o cargo, Rosemary avalia que o Ministério do Desenvolvimento Social precisa ter como perspectiva a reconstrução das políticas públicas e sociais que foram elaboradas pelos governos do PT e destruídas desde o golpe que depôs a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Por conta disso, é importante que um nome do próprio partido com trajetória na área chefiasse a pasta.

Reunião de Lula com Simone Tebet

“E talvez não tivéssemos um nome mais adequado. Wellington Dias foi governador de um estado que nós sabemos que enfrentou e enfrenta muitas dificuldades nessa área. Um ex-governador muitíssimo bem avaliado, com sensibilidade social e política para estar à frente dessa pasta e reafirmar uma das marcas do Partido dos Trabalhadores”, ressalta. 

Lula deve, contudo, se reunir com Tebet nesta sexta, a quem fez acenos ontem, ao dizer que alguns nomes de pessoas que tiveram coragem de enfrentar “esse governo fascista” de Bolsonaro serão contemplados de alguma forma nos ministérios. As opções para ela seriam Planejamento, Meio Ambiente e Cidades. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a senadora teria dito que gostaria de aceitar a pasta do Meio Ambiente, desde que não passe na frente de Marina Silva. O presidente eleito, porém estaria tentando um acordo para que a deputada aceitasse o posto de Autoridade Climática. 

A cientista política pondera que o novo governo não deve mesmo ignorar o papel de apoio de Tebet durante o segundo turno. Mas ela também destaca que é “prerrogativa do presidente essa escolha e isso ninguém pode tirar dele”. Ela frisa que Lula tem buscado contemplar o conjunto de diferentes forças políticas que o apoiaram. “É sim uma frente ampla, mas uma frente ampla capitaneada por Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Partido Trabalhadores que esteve à frente da resistência a todos esses desmandos que ocorre desde o golpe de 2016. Me parece que questionar Wellington Dias é no mínimo não querer olhar ou dar um foco para isso”, contesta. 

Diversidade e conhecimento

Ela conclui afirmando que a imprensa comercial também precisa “deixar essas intrigas” para olhar para os projetos dos 21 ministros que já foram anunciados. “Porque teremos muito trabalho para reconstruir o estrago feito pelo governo Bolsonaro”. Diferente da gestão de Michel Temer (MDB) e do futuro ex-presidente, a fotografia do próximo alto escalão do governo federal “expressa o que é o povo brasileiro”, com mulheres, negros e nordestinos ocupando postos de poder. 

Nas indicações de Lula, segundo Rosemary, a diversidade também foi combinada com questões técnicas. “Cada um desses ministros anunciados, em cada uma das pastas, têm uma trajetória que demonstra um conhecimento, acompanhamento e construção em muitos casos das áreas que vão coordenar”, defende a cientista política. 

Confira a entrevista completa


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