Falta justiça

Ser humano a ser celebrado, Lula voltará, disseram Haddad, Dilma e Gleisi

Live dos 75 anos do ex-presidente destacou ainda lawfare que tirou Lula da disputa presidencial de 2018 e o manteve em prisão política por 580 dias

Oruê Brasileiro
Oruê Brasileiro
Lawfare que manteve presidente preso por 580 dias em Curitiba, foi lembrado durante a live dos 75 anos do ex-presidente

São Paulo – Amigos, familiares, personalidades do mundo político, das artes, lideranças internacionais renderam nesta terça-feira (27) homenagens aos 75 anos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A live organizada pelo Instituto Lula, PT e comitês em defesa da liberdade do ex-presidente durou quase três horas. Lula, em depoimento gravado, falou sobre sua trajetória no que chamou de conversa consigo mesmo. “A vida é um eterno aprendizado. Quando comecei a vida sindical, achava que estava maravilhoso. Depois comecei a perceber que a luta economicista não ia resolver nosso problema. Foi aí que descobri a necessidade da luta política. Que a gente não devia brigar só pra reivindicar. Mas para exercermos o direito de governar, de ser o gerente da riqueza produzida por nós mesmos.”

Lula afirmou que a desigualdade não é normal, e que, conforme, seu governo “provou”, pobre é a solução, não o problema. “Quando ele vira consumidor a economia cresce, tem emprego, tem salário, tem alegria. Sem isso o mundo não vale a pena. Como alguém pode dizer que é cristão, dormir tranquilo, se perto da casa dele tem criança que não tem um copo de leite pra beber. Não tem de ser comunista nem socialista, tem de ser cristão.”

Nos 75 anos de Lula, live celebra o amigo, o político e o estadista que mudou o Brasil

Para ele, só a crença em Deus e no povo brasileiro, explica “um cara da minha origem chegar aonde cheguei”. “Por que virei presidente do Sindicato, fui ajudar a criar a CUT, o PT? Por que fui candidato, virei presidente da República?”, questionou. “Não é normal na história ter acontecido isso que aconteceu comigo. Pra me conformar eu falo: foi Deus que fez. E a força, a coragem do povo brasileiro, a generosidade. Por isso trabalho muito para não faltar nunca com esse povo.”

Porta da educação

O ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, falou sobre a habilidade do metalúrgico. “Grande parte da política externa, como ela pode ser realizada, se deve à atração da personalidade do Lula”, disse, “As coisas que aconteceram com ele, a maneira como ele agia, pedindo perdão pela escravidão na África. Ou fazendo uma grande cúpula sobre a fome e a pobreza. Nunca tinha visto uma coisa tão grande, tão forte. O Brasil abraça o mundo, comentavam.” 

Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ministro da Educação, destacou o ser humano que merece ser celebrado. “Você é o presidente de muitas causas: do salário mínimo, da geração de emprego, do combate à fome, da soberania nacional. E, para mim, será sempre o presidente da educação. Digo por ser professor e saber o que representou seu trabalho e de todos nós em proveito da educação.”

Para o ex-prefeito, que perdeu a eleição para Jair Bolsonaro em 2018, às vezes um governo antipopular, como o atual, pode reverter conquistas como a criação de empregos e o fim da fome. “Mas a oportunidade que fomos capazes de abrir para a juventude pobre, ninguém tira. Você abriu a porta da educação para milhões de brasileiros. Isso terá um valor e um retorno inestimável”, afirmou. “Tenho muito confiança nessa geração.”

Haddad falou, ainda, da capacidade de Lula de respeitar o próximo e não discriminar ninguém. E da relação pessoal que mantêm. “Ser seu amigo é gozar do privilégio de conhecer a verdadeira amizade. Uma prova diária de fraternidade, de companheirismo. Acho que a palavra companheiro brotou da sua alma.”

Que você seja o próximo

A ex-presidenta Dilma Rousseff chorou na live dos 75 anos de Lula. Com fama de durona, a ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil do governo Lula emocionou-se ao falar de tudo que ela e o ex-presidente passaram juntos nos 13 anos de administração federal petista.

“Conviver com você é viver processo de aprendizado e crescimento permanentes. Aprendi e cresci muito nestas quase duas décadas de companheirismo político e amizade pessoal.”

E lembrou de avanços que estão sendo apagados pela gestão Bolsonaro, como o controle do pré-sal e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Ao desejar vida longa ao ex-presidente, Dilma lembrou o quanto o Brasil precisa de Lula. “Nenhum presidente deixou o governo com tanta aprovação. Nenhum presidente deixou tanta saudade, porque nenhum elevou tanto a confiança e a autoestima do povo. O seu legado, ao qual dei prosseguimento como sucessora, representa a maior mudança estrutural, econômica e social pela qual este país passou em muitas décadas.”

Dilma falou sobre o momento doloroso que vive o Brasil e desejou que Lula seja o próximo presidente da República. “A chama do povo não se apaga. Tanto quanto não se apaga o sonho que você fez o Brasil sonhar e ver transformado em realidade por mais de uma década. Este período de sombra, intolerância e violência contra os direitos do povo certamente vai passar, assim como outros períodos difíceis também passaram. O lugar deles é a lata de lixo da história, na qual serão despejados por nós e pelo povo. O seu papel, Lula, continuará sendo o de condutor da reconstrução. Agora com mais experiência, com força redobrada.”

Perseguição perversa

O amparo de Lula quando enfrentaram, juntos, o movimento que a destituiu da Presidência da República, foi destacado por Dilma. “O primeiro passo do longo processo de degradação da democracia, a que se seguiu o poder abusivo e ilegítimo da Lava Jato e a perseguição movida contra você para interditar sua atuação política. E impedi-lo de ser eleito de novo presidente da República, o que abriu caminho para a ascensão de um governo de índole neofascista e modelo econômico e social perversamente neoliberal.”

Trata-se do uso estratégico do direito para fins políticos contra Lula. O chamado lawfare. “Metodologia perversa, violenta demais, que o senhor vem sofrendo há pelo menos cinco anos quando resolveu não aceitar mais as denuncias falsas que uma parte da mídia fazia contra o senhor”, disse Valeska Zanin, advogada do ex-presidente, na live dos 75 anos de Lula. “Denúncias que não têm lastro na verdade. Hipóteses acusatórias absolutamente fantasiosas, sem lastro probatório. O que sempre descobrimos eram provas reiteradas da inocência do senhor, da impossibilidade de todos os crimes que lhe imputavam.”

Atuando há mais de 20 anos, Valeska que divide com o marido Cristiano Zanin a responsabilidade de defender o líder petista, afirma nunca ter visto um processo com tamanho requinte de crueldade. “Estratégias e táticas por trás desse grande inimigo que não se via, sem poder se defender. Desde 2014 víamos essa parceria de parte do Judiciário e da mídia. Boatos e hipóteses, com um grande processo de fakenews que começou com o senhor e violou a presunção de inocência. Sempre havia a hipótese. E fazia parte desse fenômeno engendrado pelos Estados Unidos, que se chama lawfare.”

Até o fim da vida

Para a advogada, trata-se de uma guerra. “O senhor disse que tem de lutar até o final dos seus dias e isso me marcou muito. Só o fato de responder a um processo já é uma pena em si. Ser um suspeito, um réu, ter seus bens bloqueados, perder a esposa, o neto, um irmão. Passou dias sozinho naquela prisão. Aos finais de semana e feriados nem advogados podiam falar com ele. Todas as regras de Mandela foram violadas”, relatou Valeska.

Desde 2016, o caso de Lula tramita pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU. “Um inimigo político julgando, que visava retirar o senhor das eleições. Com o advento da Vaza Jato, temos alguns bastidores. Há muito coisa ainda a ser descoberta. Não descansaremos enquanto toda verdade não vier à tona. Sofremos retaliações, mas não descansaremos. Não só pelo que o senhor é, mas pelo que representa: hoje a maior violação a um Estado democrático de direito. Se fazem com o senhor, fazem com qualquer um. De violação em violação vai ser tornando mais tolerante e traz à ruina o Estado democrático de direito e as instituições. É o que estamos vivendo há um tempo.”

Ser extraordinário

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), lembrou durante a live dos 75 anos, de tentar consolar Lula, quando de sua prisão, e ouvir: “Não estou triste porque estou preso. Claro, isso é muito ruim. Mas sei que tem muita mais gente que tem liberdade, mas não tem condição de vida. Que está passando fome, está desempregado. E isso me dói mais”, contou.

“Achei aquilo muito bonito, isso é uma qualidade do Lula, a solidariedade. Se colocar no lugar do outro. Talvez seja por isso que ele fez tantas coisas boas pelo Brasil. Porque ele sabia o que as pessoas passavam, ele conseguia sentir isso. Lula é um ser extraordinário. Não é só um estrategista, um líder político, mas um ser humano de grande qualidade”, ressaltou Gleisi. Por isso a gente luta muito por ele. Pela liberdade dele e pela referência que ele é na sociedade e para o povo mais pobre. Esses seus 75 anos significam muito para o povo brasileiro. Espero que o senhor tenha muitos anos de vida para estar junto com a gente nessa luta e poder recuperar um pouco justiça que nós começamos e construir nesse país.”

O vídeo completo