Processo histórico

Para Laerte, lutas da esquerda e histeria contra elas não mudaram

“O país que a gente vive é o mesmo. As questões colocadas agora são as de sempre. Temos de fazer o que nosso coração manda fazer, como sempre foi”, diz cartunista

André Seiti/Divulgação

Laerte: em vez de combater a corrupção, o que se busca é destruir uma corrente de pensamento

São Paulo – Reconhecida pela força e ironia de seus traços no papel, a cartunista Laerte Coutinho não tem se omitido em dar opinião sobre o momento político brasileiro. Reconhecendo que a direita do país cresceu nos últimos anos com um discurso moralista claro e agressivo, Laerte também acredita que há hoje uma “histeria” contra o PT, como parte de uma preocupação de combater o pensamento identificado com a esquerda.

“A ideia de liquidar a esquerda e, especialmente o PT, tomou conta de todos os discursos. A agressividade contra o PT está realmente doentia e é preocupante que seja assim, porque não corresponde a uma posição antagônica construída, é só uma histeria mesmo”, afirmou Laerte, ontem (8), em entrevista para a rádio Linha Direta, ligada ao partido

Durante a conversa de quase uma hora, Laerte também disse acreditar que está em curso uma perseguição articulada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele não é o grande chefe daquele powerpoint, mas é o grande alvo dessa sanha, que é uma sanha que vai se esvaziar assim que conseguir isso. Essa não é uma busca por moralidade administrativa e nem pelo fim da corrupção. Está cada vez mais claro que é uma campanha política de destruição de uma corrente de pensamento que é simbolizada pelo PT, mas não se restringe a ele.”

Instada a comentar o atual momento da esquerda brasileira e as ideias de reorganização do campo progressista, a cartunista disse que todas as formas de reflexão são bem-vindas, mas ponderou sobre alguns aspectos do debate que a preocupam. “Tenho um pouco de receio dessa ideia de que há uma esquerda a ser reconstruída e que isso é um castelo que estava em ruína e precisa ser reconstruído. Acho que não é bem assim. A população sente falta de quem a represente, mas não por ser de esquerda ou de direita. Ela é sensível a quem dê alternativas, a quem se compromete, como foi a história do PT e de boa parte da esquerda, mas também é a história de outros partidos que não são só de esquerda, como o PSDB, PSB, PTB, PDT, todos partidos que em algum momento tiveram sensibilidade.”

Laerte lembrou que ano passado esteve na ocupação da Escola Estadual Fernão Dias Paes, em São Paulo, local onde estudou, e disse se impressionar com a força do movimento. “As ocupações estão mantendo um padrão de seriedade absurdo, com suas próprias forças. É um movimento livre, muito maduro.”

Apesar da atual maré contrária, para ela, as lutas não mudaram. “O país que a gente vive é o mesmo ainda. As questões que estão se colocando agora são as questões de sempre. Temos que fazer o que nosso coração manda fazer, como sempre foi.”