Indecisão no 2º voto para o Senado dá esperança a “azarões” no RJ

Apesar dos 3% de intenção de votos, Milton Temer (PSOL), à direita na foto, é um dos que sonham com reviravolta na hora da decisão do voto (Foto: Divulgação/Flickr) Rio […]

Apesar dos 3% de intenção de votos, Milton Temer (PSOL), à direita na foto, é um dos que sonham com reviravolta na hora da decisão do voto (Foto: Divulgação/Flickr)

Rio de Janeiro – De acordo com a recente tradição eleitoral, nos anos em que ocorre a eleição de dois senadores por estado, alguns candidatos costumam apresentar nas urnas boas performances que não haviam sido anteriormente detectadas pelas pesquisas de opinião. Muitas vezes “escondido” nas pesquisas, o segundo voto para o Senado permanece na atual campanha aberto em vários estados, mas é no Rio de Janeiro – onde os institutos de pesquisa colocam os indecisos em relação ao segundo voto numa faixa que varia entre 45% a 70% – que as possibilidades de um “azarão” surpreender nas urnas é maior.
 
Existem dois candidatos que, por sua história e qualificação política, e até mesmo pelos bons desempenhos eleitorais obtidos no passado, podem surgir como surpresa no dia 3 de outubro. Um deles é o candidato do PSOL, o jornalista e ex-deputado Milton Temer. O outro é o candidato do PPS, o advogado e ex-deputado Marcelo Cerqueira. Além dos dois, um terceiro nome tem chances de surpreender graças à enorme popularidade: o pagodeiro Waguinho, ex-vocalista do Grupo Os Morenos, que concorre a uma vaga de senador pelo PTdoB.
 
Na mais recente pesquisa, divulgada pelo Datafolha em 10 de setembro, Temer e Cerqueira aparecem cada um com 3% das intenções de voto. O índice baixo, no entanto, deve crescer nas urnas, pois o candidato do PPS é considerado a segunda escolha natural para quem vai votar no ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e o candidato do PSOL, por sua vez, será o segundo voto da maioria dos militantes do PT no estado, que também votarão no petista Lindberg Farias, ex-prefeito de Nova Iguaçu.
 
Além do repúdio da maioria dos militantes e candidatos do PT ao “companheiro” de chapa de Lindberg, o deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa Jorge Picciani (PMDB), Milton Temer conta também com a proximidade ao PT, já que foi um dirigente destacado do partido e várias vezes deputado entre 1988 e 2003, quando saiu para ajudar a fundar o PSOL.
 
“Eu me considero o melhor candidato ao Senado pelo que eu fui como parlamentar. Não foi por acaso que, como parlamentar de oposição ao governo FHC, eu fui escolhido duas vezes para disputar a presidência do PT. Eu não era de tendência nenhuma e fui escolhido duas vezes para isso. Eu fui duas vezes vice-líder da bancada, disputei duas vezes a liderança da bancada do PT. Eu tenho uma experiência parlamentar e uma definição política e ideológica que me autoriza a dizer que não pode continuar o Senado do Rio de Janeiro com o tipo de representatividade que tem”, diz Temer.

“Desprezíveis”

Nas ruas, Temer tem mostrado ao eleitor o resultado da pesquisa realizada pelo Congresso em Foco com jornalistas que cobrem o Congresso Nacional e que escolheram os 30 melhores parlamentares do país: “Os três deputados do PSOL estão dentro, sendo que o considerado melhor foi o carioca Chico Alencar. Agora, não tem nenhum senador do Rio nessa lista. Quando você olha para a história e lembra que, mesmo quando falamos da direita, o Rio já teve no Senado representantes do quilate de um Afonso Arinos, é realmente de envergonhar a atual representação”.
 
Temer nutre esperanças na virada. “O que aparece aí, com exceção do meu amigo Lindberg, me dá um imenso medo. Todos esses candidatos que estão no alto das pesquisas são, a meu ver, absolutamente desprezíveis como representantes do Rio de Janeiro. Então, eu acredito que possa acontecer uma virada”, diz, apesar de lamentar a falta de estrutura e recursos financeiros para a campanha. “Não tenho placa no interior do estado. Quem tem antena parabólica no interior e não pega a propaganda da tevê nem sabe que eu sou candidato. É uma batalha absolutamente desigual”.
 
Apesar das fragilidades de sua campanha, Temer aposta em outros trunfos além da “carona” com Lindberg. Um deles é a força das candidaturas de Chico Alencar para deputado federal e de Marcelo Freixo para deputado estadual, pois ambos os candidatos do PSOL, segundo as pesquisas, estarão entre os mais votados do Rio. Outro trunfo é a força da internet e dos blogs, setor onde atuam muitos militantes do partido. Em seu site, Temer aposta no apelo de vídeos com declarações de voto de figuras como Frei Betto, Ziraldo, Leandro Konder, Silvio Tendler e Carlos Nélson Coutinho, entre outros.

Na “carona” de Cesar

Outro nome com história na política do Rio de Janeiro que pode surpreender ao receber o segundo voto dos fluminenses é Marcelo Cerqueira (PPS), apesar da dificuldade de estar atrelado aos maus desempenhos dos aliados Fernando Gabeira (PV) e José Serra (PSDB) no estado. No caso de Cerqueira, a “carona” pode ser conseguida na limusine do DEM pilotada por Cesar Maia, que aparece como um dos favoritos na corrida pelo Senado. Mesmo com seu passado de esquerda, Cerqueira seria a tendência natural de segundo voto para a parcela mais conservadora do eleitorado fluminense (em torno de 25%) que certamente votará em Cesar.
 
Se comparado a Temer, Cerqueira tem a vantagem de uma campanha mais presente no interior, ainda que relegada a um segundo plano frente à propaganda de Cesar Maia. Outro trunfo do candidato do PPS é sua presença no imaginário político dos fluminenses mais velhos, onde ainda é lembrado como exilado, advogado de presos políticos e parlamentar que combateu a ditadura militar ao integrar o chamado “Grupo dos Autênticos” do MDB.
 
Além de relembrar essa trajetória de vida na campanha, Cerqueira procura sensibilizar os eleitores ao afirmar que está bancando financeiramente sua candidatura sem auxílio: “Na minha campanha, estou gastando dinheiro do meu próprio bolso. Quem está bancando os outros candidatos vai cobrar depois. Eu não tenho o rabo preso com ninguém”, diz.

Pagodeiro e evangélico

Com apenas 6% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, outro candidato ao Senado que também apresenta condições de surpreender como segundo voto dos fluminenses nas urnas é Waguinho. Ex-cantor de pagode e militante evangélico, o candidato do PTdoB goza de grande popularidade em importantes bolsões de voto, como o município de São Gonçalo e as zonas Norte e Oeste do Rio, entre outras.
 
Além disso, no caso de Waguinho as “caronas” para o Senado podem ser duas. De um lado, existe a proximidade com Jorge Picciani, candidato que mais utiliza a máquina do governo estadual para penetrar no interior do Estado e que não tem um segundo voto natural, dada as diferenças com o PT e Lindberg. De outro, há a parceria assumida com o também evangélico Marcelo Crivella (PRB), que tenta a reeleição ao Senado e divide a liderança das pesquisas com Lindberg Farias e Cesar Maia.
 
Durante um evento realizado na semana passada no município de Nova Iguaçu, Crivella pediu para Waguinho o voto dos evangélicos da Baixada Fluminense (onde 50% da população é evangélica). “Quando os pastores me dizem que o Waguinho não tem experiência para ser senador, digo a eles que eu também comecei a carreira política como senador. Waguinho conhece a alma do povo, por isso peço para ele o segundo voto dos meus eleitores”, disse Crivella.