"Abençoados"

Igrejas e pastores ajudaram a financiar ataque a Brasília em 8 de janeiro, dizem presos à PF

Segundo reportagem do Uol, depoimentos ainda são pouco aprofundados, mas servem como “ponto de partida” para investigações

Joedson Alves/Agência Brasil
Joedson Alves/Agência Brasil
"Ao longo da viagem, a gente foi cooperando com ele. Ele pagou algumas coisas, ele estava com pouco dinheiro", disse um pastor

São Paulo – De acordo com depoimentos de criminosos que participaram do ataque a Brasília em 8 de janeiro, igrejas evangélicas financiaram ônibus e organizaram caravanas para os atos golpistas. Segundo o colunista Aguirre Talento, do portal Uol, que teve acesso a depoimentos prestados à Polícia Federal, pelo menos cinco pessoas presas no acampamento montado no quartel-general do Exército citaram a participação de igrejas.

Segundo a matéria, os depoimentos são curtos e pouco aprofundados – devido ao grande número de presos –, mas servem como “ponto de partida” para as investigações. Os depoimentos estão no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas prisões.

Os depoentes procuraram evitar entrar em detalhes. Dois moradores de Sinop (MT), lugar de onde provêm inúmeros criminosos, aparecem entre os que citam igrejas. Jamil Vanderlino disse viajou em “ônibus financiado por igreja evangélica”, mas não respondeu as perguntas dos interrogadores e fez “uso de seu direito de permanecer calado”, segundo o termo do depoimento.

AGU pede R$ 100 milhões de indenização de financiadores de atos golpistas

Também  moradora de Sinop (MT), Sirlei Siqueira afirmou que viajou em “excursão da Igreja Presbiteriana Renovada”. Também não entrou em detalhes. A reportagem do Uol ouviu a igreja, segundo a qual os pastores não participaram dos atos do dia 8 de janeiro. Declarou ainda desconhecer quem teria organizado a excursão.

Ônibus de graça

Um aposentado de Uberlândia (MG), Edinilson Felizardo da Silva, relatou que recebeu oferta de um pastor, enquanto participava de manifestação em um batalhão do Exército na cidade. “Informa que teria conversado com um pastor, que não se recorda o nome, que teria conhecido próximo ao Quartel em Uberlândia, e ele informou que o interrogado poderia ir no ônibus de graça para Brasília”, disse o preso no depoimento.

Porém, disse que não se lembrava do financiador, assim como não deu detalhes sobre qual a denominação religiosa à qual pertenceria. Respondeu ainda que, além da passagem, o pastor não lhe ofereceu nenhuma outra vantagem financeira.

Outro preso pela PF é morador de Maceió. Ademir Almeida da Silva disse que tinha remuneração mensal de R$ 400 e citou o nome de um pastor da Igreja Batista, Adiel Brandão de Almeida, como um dos financiadores de sua viagem. O pastor disse ao Uol que viajou com Ademir para Brasília e que “cooperou” durante a viagem porque ele estava com pouco dinheiro, mas que não houve relação da igreja com as despesas.

“A gente foi cooperando”

“Ao longo da viagem, a gente foi cooperando com ele. Ele pagou algumas coisas, ele estava com pouco dinheiro, alguns lanches nós rateamos, outros lanches não. Além disso, nós não tivemos participação em nada disso aí”, afirmou o pastor ao Uol.

“Isso é financiar a ida de alguém? Não é. Financiar é quando você está dizendo que todas as despesas, transporte, comida, almoço e janta eram por minha conta, aí seria financiar. E mesmo que alguém fosse financiar, não é da conta de ninguém não”, disse o “religioso”.

Soltos, com tornozeleiras

O ministro Alexandre de Moraes determinou na segunda-feira (13) que fossem soltos mais 130 homens denunciados pelos ataques a Brasília. Dos cerca de 1.400 que ficaram presos, mais de mil já foram soltos. Permanecem sob prisão preventiva 392 pessoas, dos quais 310 homens e 82 mulheres.

Os liberados são monitorados com tornozeleira eletrônica e precisam cumprir várias restrições, como recolhimento domiciliar noturno e proibição de usar redes sociais.

Na quinta-feiora (9), o ministro afirmou que o tribunal trabalha sem “nenhum atropelo” em relação ao 8 de janeiro, respeitando a lei. “O Supremo Tribunal Federal irá realizar a justiça isenta, imparcial para que isso não se repita”, disse. Segundo ele, “todas as condutas estão sendo individualizadas pela Procuradoria-Geral da República e nas denúncias pelo STF”.