Golpistas cercados

Hacker diz que Zambelli pediu invasão de urnas eletrônicas. Bolsonaro quis saber se era possível

Segundo a Polícia Federal, o “hacker de Araraquara” Walter Delgatti recebeu ao menos R$ 13,5 mil de assessores da deputada pelo serviço criminoso de invadir sistemas

Marcelo Camargo/Agência BRasil
Marcelo Camargo/Agência BRasil
Zambelli intermediou encontro de Bolsonaro com o hacker e pagou serviços

São Paulo – O “hacker de Araraquara” Walter Delgatti Neto, preso nesta quarta-feira (2) na Operação 3FA, da Polícia Federal (PF), disse aos agentes que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) lhe pediu inicialmente que invadisse o sistema das urnas eletrônicas. E que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) lhe perguntou, no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência, se seria possível invadir as urnas do sistema eleitoral brasileiro. A operação promoveu busca e apreensão em endereços da deputada em Brasília e São Paulo.

Porém, segundo o depoimento, Bolsonaro não teve relação com o acesso ilegal ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em cujo banco de dados foi incluído um mandado de prisão falso do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Trecho do inquérito da PF (que mantém a grafia original) diz que “apenas pode afirmar que a Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex-Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante”.

Hacker foi pago por assessores de Zambelli

Delgatti foi alvo de prisão preventiva (sem data para terminar). Além da invasão do sistema do CNJ, ele é acusado de ações criminosas no sistema do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. De acordo com a PF, o hacker recebeu ao menos R$ 13,5 mil de assessores de Zambelli. De Renan Goulart (secretário parlamentar em 2019) foram R$ 10,5 mil; já de Jean Guimarães Vilela (em 2023) o valor foi de R$ 3 mil.

Segundo a Polícia Federal, “os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes”.

Sem citar nomes, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou em suas redes sociais “Em prosseguimento às ações em defesa da Constituição e da ordem jurídica, a Polícia Federal está cumprindo mandados judiciais relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições”, postou Dino.

Deputada se diz “surpresa”

Horas depois de deflagrada a operação Carla Zambelli divulgou nota à imprensa se dizendo “surpresa”, já que seu advogado, Daniel Bialski, colocou-se “à disposição para prestar todas informações necessárias e em nenhum momento a parlamentar deixou de cooperar com as autoridades”.

A deputada disse respeitar a decisão judicial (que permitiu a operação), mas que refuta “a suspeita que tenha participado de qualquer ato ilícito”.

“Por fim, a deputada Carla Zambelli aguardará, com tranquilidade, o desfecho das investigações e a demonstração de sua inocência”, afirmou na nota divulgada por sua assessoria.

O nome da “Operação 3FA”  se refere à “autenticação de dois fatores (2FA), método de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de identificação para acessar recursos e dados”, explica a PF. 3FA seria, então, o terceiro fator: a própria operação.