Fim do prazo

Governadores que não disputam reeleição se movimentam no tabuleiro político

Entre os 12 chefes de executivos estaduais em fim de segundo mandato estão o tucano Antonio Anastasia, em Minas, o petista Jaques Wagner, na Bahia, e o peemedebista Sérgio Cabral, no Rio

Bruno Poppe/Frame/Folhapress

Palanque no Rio de Janeiro, segundo colégio eleitoral do país, é um dos mais disputados

São Paulo – Faltando dez dias para se esgotar o prazo, em 5 de abril, determinado pela legislação eleitoral para que os governadores deixem seus cargos se quiserem concorrer nas eleições de outubro, alguns chefes de executivos que estão no fim de segundo mandato já anunciaram que vão renunciar. Outros garantem que ficarão até o fim e um terceiro grupo mantém o mistério sobre o futuro. São 12 os governadores que não poderão se reeleger em 2014.

Entre os chefes de governo dos cinco maiores colégios eleitorais do país, três estão terminando o segundo mandato: Antonio Anastasia (PSDB-MG), Jaques Wagner (PT-BA) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). O paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e o gaúcho Tarso Genro (PT) – a não ser que haja surpresas improváveis – devem disputar a reeleição.

O petista Jaques Wagner, reeleito em 2010, disse que ficará até o fim do mandato na Bahia e, segundo ele próprio e o PT do estado, vai trabalhar na coordenação da campanha da presidenta Dilma Rousseff. “Ele não vai se candidatar, não é candidato, isso já está definido. Ele quer ajudar no processo da campanha nacional, não só na Bahia, mas no nordeste, e também, obviamente, fazer o sucessor”, explica o presidente do diretório estadual do PT, Everaldo Anunciação.

O pré-candidato de Wagner ao Palácio de Ondina é o deputado federal licenciado Rui Costa (PT), secretário da Casa Civil do governo baiano, e o escolhido para disputar o Senado é o vice Otto Alencar, do PSD. Jaques Wagner seria nome certo para ocupar um ministério no eventual segundo mandato de Dilma.

Segundo Anunciação, o partido atualmente passa por um processo de discussão de programa de governo na Bahia, realizando “plenárias territoriais” e debatendo com aliados e sociedade civil para a construção de um programa participativo.

Em Minas Gerais, o governador tucano Antonio Anastasia anunciou de maneira taxativa, na semana passada, que deixará o cargo. De acordo com ele, para se dedicar à campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à presidência. As principais lideranças do PSDB de Minas consideram Anastasia o candidato ideal para disputar uma vaga ao Senado, que este ano vai renovar apenas um terço das cadeiras e, portanto, terá apenas uma em disputa por estado. O próprio governador, porém, ainda não anunciou que disputará a cadeira no parlamento.

“O governador Anastasia provavelmente será nosso candidato a senador, mas isso vai ser construído nos próximos meses. Ainda depende de uma série de conversações. Eu diria que há 80% de chances de ele ser candidato ao Senado”, acredita o deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e bastante próximo de Aécio.

Sobre as especulações, alimentadas pelo próprio Aécio Neves, segundo as quais as divergências com o PT de Dilma poderiam levar o PMDB de Minas aos braços da campanha tucana ao Planalto, Pestana diz que ainda é cedo para conclusões. “Isso ainda tem muitos passos para serem dados. O PMDB precisa se posicionar, ele está dividido. Não foi colocado nos termos que chegou a vazar. Há muita coisa ainda para acontecer, muita água para passar debaixo da ponte”, afirma.

A vitória da presidenta Dilma na votação do Marco Civil da Internet na noite da última terça-feira (25), com o apoio do PMDB, arrefeceu os ânimos do movimento de aproximação entre o partido do líder Eduardo Cunha e o PSDB em Minas.

Entre os governadores tucanos em fim de segundo mandato, Teotonio Vilela Filho, em Alagoas, “está falando em ficar até o final ao governo”, diz Pestana. Renunciando ou não, trabalhará na campanha de Aécio, mas está estudando o cenário, que não é muito favorável na disputa por uma cadeira no Senado: pesquisas no estado indicariam que a avaliação de seu governo pode comprometer sua eleição e que, por enquanto, os favoritos, segundo o Vox Populi, são o senador Fernando Collor de Mello (PTB) e a ex-senadora Heloisa Helena (PSOL).

O também tucano José de Anchieta Junior, governador de Roraima, será candidato a uma vaga no Senado.

Rio de Janeiro e Ceará

O governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), que luta contra uma alta taxa de reprovação (18% de “ótimo” e “bom”, segundo a última pesquisa do Ibope, em dezembro), já disse que deixará o governo antes de 5 de abril, e colocou seu nome à disposição do partido para disputar o Senado. O problema é que o PMDB está dividido no estado. Se o presidente da legenda no Rio, o deputado estadual Jorge Picciani, faz campanha aberta por ceder o palanque a Aécio, Cabral ainda acena para um acordo com o PT, que já lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias, enquanto o PMDB diz que não abre mão de fazer o sucessor de Cabral com a candidatura do vice-governador, Pezão.

Entretanto, Picciani diz que o impasse não afeta a candidatura de Cabral ao Senado. “Depende dele. Se ele quiser, a vaga é dele”, garante.

Já quanto à escolha do candidato à Presidência, as posições de Picciani e Cabral, pelo menos em manifestações públicas, têm sido opostas. “Eu trabalho como presidente do partido, na lógica do partido, até porque não tenho as responsabilidades que tem o governador. O partido aprovou na sua convenção nacional, há um ano, por unanimidade, moção à posição do PMDB do Rio de que não aceitaria palanque duplo no estado”, informou o presidente do diretório à RBA por e-mail. “No caso, não se trata nem mais de palanque duplo, mas quádruplo (Lindbergh, Pezão, Crivela e Garotinho).”

“Hoje, a posição majoritária do PMDB do Rio é manter esta posição [de não ter palanque duplo]. É nesse contexto que defendo no Rio o apoio à candidatura de Aécio e verifico que esse é o sentimento comum da maioria do partido e dos delegados à convenção nacional.”

Cabral pensa diferente: “O PMDB do Rio é Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014. Somos parceiros e não há nenhum tipo de empecilho”, declarou há dez dias.

No Ceará, o governador Cid Gomes (Pros), que já havia anunciado que cumpriria o mandato até o fim, surpreendeu na noite de ontem (25) e condicionou sua permanência no cargo à vontade do irmão, Ciro Gomes, de se candidatar à vaga no Senado. Segundo Cid, se Ciro decidir pela candidatura, ele renuncia. De acordo com a legislação (Lei Complementar nº 64/1990), parentes consanguíneos do governador se tornam inelegíveis e, por isso, Cid deve renunciar.

A saída de Cid Gomes teria também a dupla função de trazer novamente ao teatro nacional o nome de Ciro, atualmente secretário de Saúde no governo estadual, e ajudar na costura política cearense. Com Ciro na vaga ao Senado, o Pros abriria mão da cabeça de chapa para o governo do estado, que ficaria então com o senador Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado. Essa costura teria as bênçãos do Palácio do Planalto e o PT apoiaria a candidatura do peemedebista.

Ciro Gomes, por sua vez, como Jaques Wagner, teria um ministério, provavelmente da Integração Nacional, no governo Dilma, caso ela se reeleja, a partir de 2015. A pasta já está sob o comando do ministro Francisco José Coelho Teixeira, “homem de confiança” de Cid Gomes.

Outros estados

No Amazonas, o governador Omar Aziz (PSD) deve renunciar no dia 4, em evento no Teatro Amazonas, passar o cargo para o vice, José Melo (PROS), e disputar uma vaga quase garantida ao Senado.

A renúncia da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), é dada como certa, mas ainda não se confirmou. Segundo comentários da imprensa maranhense, a presidenta Dilma quer Roseana no Senado, onde a governadora foi líder do presidente Lula.

No Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB) anunciou que vai ficar no cargo até o fim para “concluir tudo que nos propusemos a fazer”, segundo a imprensa local.

A candidatura do chefe do Executivo do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), ao Senado, é considerada certa. A vice-governadora Simone Tebet, filha do ex-governador Ramez Tebet, morto em 2006, deve assumir o governo.

E o pernambucano Eduardo Campos (PSB), como se sabe, almeja voo mais alto na disputa pelo Palácio do Planalto.

Wilson Martins (PSB), do Piauí, admitiu na segunda-feira (24) que deixará o governo para disputar a eleição pelo Senado.

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