Golpismo

General Heleno integrou grupo de militares que discutia ações golpistas, diz portal

Entre as ações discutidas no grupo de militares no WhatsApp, estava a intervenção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para impedir a posse de Lula (PT)

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro, diz não se lembrar do grupo

São Paulo – O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro (PL), general Augusto Heleno, participou de um grupo de Whatsapp com militares, em que discutiam ações golpistas. Entre elas, uma intervenção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para impedir a posse de Lula (PT). Também fazia parte do grupo chamado “Notícias Brasil” o general da reserva Sérgio Etchegoyen, comandante do GSI no governo de Michel Temer (MDB). E ainda cerca de 40 militares, entre oficiais da ativa e da reserva, integrantes do Estado-Maior, do Ministério da Defesa e militares da área de Informações da Aeronáutica.

O grupo, no entanto, foi extinto em 8 de janeiro, dia dos ataques ao Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal. Sua existência foi revelada ao UOL pelo coronel aviador reformado Francisco Dellamora, que atacou o senador, o presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Conforme o coronel, Heleno lia as mensagens sobre iniciativas golpistas. Mas não se manifestava. Ao portal, o general Heleno disse não se recordar do grupo e que nunca ouviu “essas histórias de que se vai decretar intervenção”. “Não sei quem participou. Internet é um negócio que você começa a responder uma porção de coisas, mas nunca participei disso”.

O genernal disse também que não se lembra de ter lido essas mensagens, já que não se lembra do grupo. “O coronel Dellamora está muito velho. Não sei a importância que ele tem no quadro político nacional hoje”, disse Heleno.

O grupo do general Heleno se baseava em relatório das Forças Armadas

Ao portal, o coronel Dellamora disse que a base para uma intervenção e até um adiamento da posse de Lula seria o relatório das Forças Armadas sobre o sistema das urnas, apresentado em novembro de 2022. Segundo o documento, a equipe de técnicos militares não apontou falhas no sistema eletrônico de votação. Mas não excluiu a possibilidade da existência de fraude.

“Nós não consideramos legal [a eleição]. Consideramos o STF [Supremo Tribunal Federal] na ilegalidade. O TSE [Superior Tribunal federal] na ilegalidade. E todos os dias eles praticam mais um ato de ilegalidade. Invadiram os escritórios do senador Marcos Do Val”, disse o coronel ao portal. Mas não mencionou a ordem judicial do ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT), Alexandre de Moraes, para a operação de busca e apreensão, na semana passada.

E disse mais: “Nós não entendemos como se pode tirar um cara da cadeia para ser presidente da República. O bandido, condenado, sem dúvida nenhuma”, afirma. “Você não viveu 64. Agora, 64 é um pinto perto da ditadura que está instalada no Brasil”.

Ainda segundo Dellamora, até 8 de janeiro havia anseio por alguma ação contra a posse de Lula. E havia uma expectativa de greve ou da eclosão de um movimento que permitisse o “uso da lei e da ordem”. Ele se referia a uma interpretação equivocada para o uso do artigo 142 da Constituição, que segundo o militar, concederia um poder moderador pelas Forças Armadas.

Grupo foi criado durante o processo do impeachment de Dilma Rousseff

Mas diante dos fatos, um brigadeiro, que era o administrador do grupo, o extinguiu. O coronel, no entanto, não revelou o nome.

O grupo foi criado em 2016 durante o processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), mesmo sem a prática de crime de responsabilidade. Seu objetivo era a troca de informações entre militares para que os oficiais da reserva, em certo modo, assessorassem os oficiais da ativa. O grupo foi mantido ao longo dos anos até seu fim em 8 de janeiro.

“As pessoas que estavam na ativa, como ele [Heleno], não se pronunciavam [no grupo]. Inclusive, quase todo dia que eu escrevia alguma coisa e às vezes eu olhava para ver quem tinha lido. Teve um dia que ele leu três vezes, mas ele [Heleno] não se pronunciava”, disse Dellamora.

Redação: Cida de Oliveira