Pária

‘Feriadão’ de Bolsonaro na Itália provoca novos protestos

Após desistir de participar da COP26, mas não retornar ao Brasil, Bolsonaro segue protagonizando tumultos. Polícia da cidade de Pádua agride manifestantes

Reproduções
Reproduções
Por onde passa, Bolsonaro provoca indignação. Desta vez, em Pádua, protestos foram reprimidos pela polícia italiana, a mando de governantes de extrema-direita locais

São Paulo – A polícia da Itália reprimiu com violência mais um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, A manifestação ocorria em frente à Basílica de Santo Antônio, em Pádua, onde o presidente brasileiro passeava nesta segunda-feira (1°). Cerca de 600 manifestantes, segundo fontes locais, foram dispersados com jatos d’água, bombas de gás lacrimogênio lançados por blindados e soldados usando cassetetes. Alguns manifestantes foram presos. Durante transmissão ao vivo pela página do Corriere Della Serra, o maior jornal da Itália, ouviram-se gritos de “assassino”, “fascista”, “genocida” e “fora Bolsonaro”.

Esse é o segundo dia seguido em que policiais ou seguranças que atuam na escolta do presidente brasileiro usam de violência para barrar manifestações contra Bolsonaro. Neste domingo, após o encerramento da cúpula do G20, durante um passeio do presidente nos arredores da embaixada brasileira, em Roma, policiais empurraram e agrediram jornalistas que tentaram se aproximar de Bolsonaro. As agressões aconteceram depois que Bolsonaro tratou de forma hostil os jornalistas.

Pela manhã, Bolsonaro esteve em Anguillara Veneta, vilarejo do norte da Itália, onde já havia sido recebido por centenas de pessoas para protestar contra a prefeitura local lhe conceder título de cidadão honorário. Uma grande faixa à frente do bloco dizia, em italiano, “Ao lado do povo brasileiro”. Após ter pousado no Aeroporto de Veneza, o presidente seguiu em comboio até Anguillara e evitou passar pela prefeitura. A mudança no itinerário foi justificada por “razões de segurança”.

Vergonha

Outro jornal italiano, o Il Gazzettino, com sede em Veneza, publicou que uma série de protestos foi registrada em diversos pontos da pequena Anguillara Veneta, o que levou ao cancelamento da cerimônia de recepção organizada pela prefeita Alessandra Buoso.

“A cidadania é inoportuna porque as posições de Bolsonaro não espelham os valores de nossa Constituição”, disse o vereador de oposição Antonio Spada, citando como exemplo as suas políticas para a Amazônia e as frequentes declarações homofóbicas e misóginas do presidente.

Por sua vez, o padre Massimo Ramundo, que passou 20 anos no Brasil, sendo 12 deles na Floresta Amazônica, afirmou que as ações de Bolsonaro “vão contra tudo aquilo que o papa Francisco professa diariamente”. “O presidente não se ocupa da defesa das minorias, a partir dos indígenas da Amazônia. O papa não se cansa de nos lembrar da importância do bem comum, enquanto Bolsonaro faz o que quer na Amazônia”, ressaltou.

Andrea Zanoni, conselheiro regional (o equivalente a um deputado estadual no Brasil) pelo Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, disse que a homenagem a Bolsonaro é motivo de “vergonha”. “É uma escolha incompreensível sob qualquer ponto de vista e que chega poucos dias depois de uma acusação de crimes contra a humanidade e outros nove delitos. Sua gestão vil da pandemia provocou mais de 600 mil mortes em todo o país”, afirmou, citando os indiciamentos de Bolsonaro no relatório da CPI da Covid.

Injustificável

A prefeita Buoso, de extrema direita, tentou justificar a cidadania honorária pelo fato de o presidente brasileiro ter um bisavô nascido na cidade. “Não queremos entrar nos aspectos políticos porque não é nosso papel nem nossa vontade. Queremos apenas recordar que os laços entre essas duas nações são extremamente fortes.”

Bolsonaro desistiu de participar da COP26 quando já estava em Roma, onde teve uma atuação vergonhosa na reunião de cúpula do G20. Mesmo assim, optou por não voltou para o Brasil e aproveitar o “feriadão” de Finados, que este ano será lembrado também pelas 607 mil vítimas da covid-19 até aqui.

O passeio de Bolsonaro pela Itália se encerra nesta terça-feira (02), com uma visita a um monumento em Pistoia em memória dos soldados brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial. Ele deverá estar ao lado do senador de ultradireita Matteo Salvini, conhecido por suas ações xenófobas e discriminatórias.

Com OperaMundi e agências