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Bolsonaro faz aceno à extrema direita em encontro com Salvini

Presidente brasileiro apareceu ao lado do líder da ultradireita italiana em homenagem aos soldados brasileiros que lutaram contra o fascismo

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Até mesmo uma autoridade da Igreja Católica se recusou a participar de cerimônia com Bolsonaro e Salvini

São Paulo – Evitado por líderes mundiais durante reunião de cúpula do G20, em Roma, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou nesta terça-feira (2) com Matteo Salvini, líder do partido italiano de ultradireita Liga Norte. Escancarando a contradição, eles participaram, em Pistoia, de uma homenagem aos pracinhas que lutaram contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial. Até mesmo o padre Dom Tardeli, que todos os anos conduz a cerimônia em memória aos soldados brasileiros cancelou sua participação. Ele alegou ser “totalmente contrário à instrumentalização da celebração”. No dia anterior, em visita à basílica de Santo Antônio, em Pádua, Bolsonaro também não foi recepcionado por nenhuma das autoridades católicas.

De acordo com o cientista político Paulo Nicolli Ramires, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), “nem mesmo lideranças religiosas querem manter qualquer vínculo com Bolsonaro”.

Em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual nesta quarta-feira (3), Nicolli também destacou o isolamento do presidente brasileiro no cenário internacional. “Nenhum chefe de Estado quer estar com Bolsonaro para não ter sua imagem associada àquilo que há de mais bárbaro e selvagem na política internacional”, afirmou.

O cientista político destaca que o encontro com Salvini serve como aceno de Bolsonaro aos apoiadores mais radicais, ressaltando que desde a derrota do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o brasileiro se tornou um dos principais expoentes da extrema-direita mundial.

Negacionismo

Além do discurso radical, Nicolli aponta que a condução da pandemia do governo Bolsonaro contribuiu para ampliar seu isolamento no campo diplomático. Quanto aos religiosos, apesar do afastamento por parte de autoridades católicas, o ocupante do Palácio do Planalto ainda goza de apoio entre grupos mais conservadores. Contudo, esse apoio vem declinando, até mesmo entre os evangélicos, justamente em função da gestão catastrófica durante a crise sanitária.

Moro congestiona a ‘3ª via’

Enquanto Bolsonaro perambulava por terras italianas, sendo recebido com protestos nas localidades em que passou, o ex-juiz Sergio Moro desembarcou no Brasil, na última segunda-feira (1º), vindo dos Estados Unidos. Na semana que vem, ele deve se filiar ao Podemos, com o objetivo de disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Caso sua candidatura venha a ser confirmada, Moro quebraria assim promessa feita em 2016, e reiterada em outras ocasiões, quando disse que “jamais entraria para a política”.

Niccoli ressalta que essa promessa já havia sido quebrada quando o ex-juiz aceitou ser ministro de Bolsonaro. Ou, ainda antes, quando promoveu a caçada política ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, Moro tem potencial para ser o principal nome da chamada “terceira via”. Por outro lado, a profusão de candidatos nesse campo deve expor conflitos no campo da direita.

Uma eventual candidatura servirá ainda como “prova de fogo” para o ex-juiz da Lava Jato. Sua viabilidade vai depender, segundo Nicolli, se o eleitorado ainda vai identificá-lo como um suposto “caçador de corruptos” ou se, por outro lado, será lembrado como um juiz parcial que usou a toga para fazer política.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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