Vladimir Palmeira deixa PT por discordar de volta de Delúbio

Fundador da legenda critica readmissão do ex-tesoureiro em abril

Ao lado de Lula, o ativista Wladimir Palmeira, em campanha para deputado federal pelo Rio, em 2010 (Foto: vladimirpalmeira.com.br/arquivo)

São Paulo – Vladimir Palmeira anunciou sua saída do PT em carta ao diretório municipal do partido no Rio de Janeiro. Expoente da legenda no Rio de Janeiro, ele nega divergências políticas fundamentais, embora deixe claro que está “mais à esquerda da linha oficial”. O motivo decisivo, segundo o comunicado, foi a resolução do diretório nacional do PT, em abril, de readmitir a filiação de Delúbio Soares.

O ex-tesoureiro e protagonista da crise política de 2005, conhecida como “Mensalão”, havia sido expulso naquele ano. Apesar de a denúncia de distribuição de caixa 2 durante as eleições de 2002 e 2004 não ter sido julgada no Supremo Tribunal Federal (STF), o PT aceitou o argumento de que ele já teria pagado por seus erros.

“A volta de Delúbio faz com que todos se pareçam iguais e que, absolvendo-o, o DN (diretório nacional) esteja, de fato, se absolvendo. Ou, mais propriamente, se condenando, ao deixar transparecer que são todos iguais”, critica.

Palmeira citou três aspectos da decisão: “moral”, “político” e “orgânico”. O primeiro diz respeito ao reconhecimento de que houve corrupção. “Não se pode acreditar que um empresário qualquer começasse a distribuir dinheiro grátis para o partido. Exigiria retribuição, fosse em que esfera fosse”, acusa.

Do ponto de vista político, a crítica é que o partido teria deixado de lado o compromisso de punir os responsáveis pelo caso. Por “questão orgânica”, ele define violações a “todas as normas de convivência partidária, ao agir à revelia da Executiva Nacional e do Diretório Nacional”.

O intervalo entre a decisão do partido e a comunicação da desfiliação decorre da necessidade de comunicar a aliados e amigos sobre seus motivos, diz Palmeira. Ele ainda aponta a crise no governo da presidenta Dilma Rousseff provocada pelas acusações contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil como outro motivo para a demora.

Líder estudantil durante a Ditadura Militar, Palmeira foi preso em 1968 e exilado no ano seguinte, em troca do embaixador americano Charles Elbrick, então sequestrado pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Com mais 14 presos políticos, perdeu todos os direitos de cidadania, até 1979, após a Anistia. Fundador do PT no Rio, foi deputado constituinte pelo PT em 1986.

Foi candidato à prefeitura da capital carioca em 1985 e ao governo em 2006 – derrotado por Sérgio Cabral (PMDB). Em 1998, seu nome chegou a ser aprovado para a disputa estadual, mas uma intervenção do diretório nacional do PT exigiu que a legenda apoiasse Anthony Garotinho (então no PDT, atualmente no PR).

 

Leia a carta

(clique aqui para a original)

Ao Diretório Muncipal do PT-R.J.

Meu caro Alberis (Lima),

Venho, por meio desta, me desfilar do PT. Não o faço por divergências políticas fundamentais, embora minha carreira minoritária seja de todos conhecida. Sempre me coloquei mais à esquerda da linha oficial, mas nada que, nas circunstâncias brasileiras, me levasse a deixar o partido.

No entanto, a volta ao partido de Delúbio Soares, justamente expulso no ano de 2005, me impede de continuar nele. Pela questão moral, pela questão política, pela questão orgânica. Pela questão moral porque é evidente que houve corrupção: Não se pode acreditar que um empresário qualquer começasse a distribuir dinheiro grátis para o partido. Exigiria retribuição, em que esfera fosse. O procurador federal alega que são recursos oriundos de empresas públicas, sendo matéria agora do STF. Mas alguma retribuição seria, ou a ordem do sistema capitalista estaria virada pelo avesso.

Pela questão política  porque o PT assumiu um compromisso com a sociedade, quando apareceram as denúncias: o compromisso de punir. E sustentamos que punimos. Punição limitada, na opinião dos petistas do Rio de Janeiro, que por seu DR pediram mais dureza, ao mesmo tempo que apontavam o caminho da Constituinte exclusiva para a reforma política imprescindível. Punição limitada, repito, mas efetiva.

Pela questão orgânica, porque o ex-tesoureiro não só agiu ilegalmente com relação à sociedade, mas violou todas as normas de convivência partidária, ao agir à revelia da Executiva Nacional e do Diretório Nacional.

A volta de Delúbio faz com que todos se pareçam iguais e que, absolvendo-o, o DN esteja, de fato, se absolvendo. Ou, mais propriamente, se condenando, ao deixar transparecer que são todos iguais.

Não creio que o sejam.

Já tinha definido que sairia caso o ex-tesoureiro voltasse. Mas, em primeiro lugar, tive que advertir amigos e companheiros mais próximos, sob pena de lhes causar embaraços. Por outro lado, o governo Dilma entrou em crise, em função das acusações contra (Antonio) Palocci. Sanada a crise, comunicados os companheiros, posso, afinal, lhe entregar esta carta.

Mando um abraço para você e para todos os que, dentro do PT, lutam por uma sociedade mais justa.

Rio de Janeiro, 27 de junho de 2011.

Vladimir Palmeira