Candidatura

Escolha de gaúcho para vice de Marina provocou insatisfação no grupo de Campos

Nome dos sonhos do PSB, viúva Renata Campos não quis integrar chapa presidencial e abriu espaço para escolha do deputado Beto Albuquerque, o que desagradou a pernambucanos, que temem perda de força

gustavo lima/câmara dos deputados

Para os mais próximos do ex-governador, Albuquerque não segue a mesma linha que Campos seguia

Brasília – A direção nacional do PSB preferiu fazer em Recife, na noite de ontem (19), a reunião que definiu de uma vez por todas o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), como o vice na chapa que tem à frente a ex-senadora Marina Silva para a Presidência da República, em substituição ao ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto na semana passada.

Inicialmente, a reunião estava programada para ocorrer no apartamento de parlamentares do partido, na Asa Norte, em Brasília, logo após a realização, na capital, da missa de sétimo dia de Campos. A decisão, no entanto, foi tomada com a participação direta da viúva do ex-governador, Renata Campos, na presença do candidato socialista ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, e demais integrantes da cúpula da legenda que preferiram permanecer mais um tempo na cidade após o funeral.

Segundo o presidente do PSB, Roberto Amaral, a iniciativa foi uma forma de, ao contar com os assessores e apoiadores mais próximos do ex-governador, homenageá-lo e, principalmente, mostrar que tudo o que foi programado por ele terá continuidade, inclusive os compromissos firmados a nível estadual.

Incômodo

Se por um lado esse foi o entendimento retórico, a notícia de que um gaúcho estará à frente da candidatura do PSB, em vez de um pernambucano mais próximo de Campos, causou incômodo a alguns representantes da legenda. O problema foi a falta de nomes de representatividade que pudessem ser cogitados – falou-se, antes, na viúva de Campos para encabeçar a chapa, mas a possibilidade acabou sendo descartada depois.

A leitura feita é de que, embora sendo um nome forte dentro do partido e com atuação destacada na liderança na Câmara, Albuquerque não segue a mesma linha dos mais próximos do ex-governador. No início da sua militância no PSB, na década de 90, ele teve várias divergências com a ala do então governador Miguel Arraes, um dos criadores e então presidente nacional do partido.

Embora tais arestas tenham sido aparadas nos últimos anos com Eduardo Campos, Albuquerque foi considerado alguém com condições de representar o PSB numa chapa majoritária, mas não o candidato ideal (ou de consenso) entre os socialistas. “O problema é que candidatura tem que ser feita assim. Nem sempre o melhor nome para o partido é o da melhor candidatura e vice-versa”, disse um deputado estadual por Pernambuco que pediu para não ser identificado.

Na reunião que definiu a candidatura de Beto Albuquerque a vice de Marina Silva, também se avaliou que Albuquerque, que nos últimos quatro anos tem transitado muito bem entre parlamentares de vários estados, é importante, também, para acalmar os ânimos dos diretórios estaduais que apresentem resistência à candidatura de Marina Silva na cabeça de chapa.

Convenção

O encontro teve a participação do presidente nacional interino do PSB, Roberto Amaral, o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira, o próprio Beto Albuquerque (PSB-RS), o presidente do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes, e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, além do candidato a governador pela Frente Popular de Pernambuco, Paulo Câmara. Ao final, Roberto Amaral divulgou uma nota destacando que a decisão foi fruto de várias consultas internas.

Marina e Albuquerque terão seus nomes levados à reunião da executiva nacional do PSB, programada para se realizar a partir das 15h de hoje (20), em Brasília. A chapa será ratificada em convenção programada para o próximo domingo. A nota destaca ainda que todos os compromissos assumidos por Eduardo Campos serão mantidos, assim como as alianças estaduais. Inicialmente se pensou em ser formalizado um documento para assegurar tais acordos, mas os dirigentes nacionais descartaram a hipótese, por considerarem “desnecessário”.