Nova apuração

Envolvido em outra denúncia, Cunha diz que objetivo é ‘tirar foco’ do caso Delcídio

Presidente da Câmara negou acusações de que teria recebido R$ 45 milhões do BTG Pactual para votar MP. Votação do relatório preliminar contra ele no Conselho de Ética está prevista para amanhã

Bruno Poletti/Folhapress e Antonio Cruz/Agência Brasil

André Esteves, do BTG, teria pago R$ 45 milhões a Cunha por favorecimento com alteração de medida provisória

Brasília – A capital brasileira vive mais um escândalo envolvendo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-PE). Às vésperas da leitura do relatório preliminar sobre o processo que o investiga no Conselho de Ética, o deputado foi alvo de documentos segundo os quais ele teria recebido R$ 45 milhões do BTG Pactual – banco de André Esteves – para alterar uma medida provisória de forma a beneficiar a referida instituição financeira. Cunha declarou hoje (30) que a história é “inverossímil” e teria sido criada “para mudar o foco das investigações, depois da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS)”.

Cunha afirmou há pouco, em entrevista coletiva, que a emenda apresentada por ele à Medida Provisória 608, de 2013, não favorecia o banco BTG Pactual. E, ainda por cima, não foi aprovada na comissão que apreciou a matéria. O deputado disse que pediu aos seus advogados para checarem estes documentos.

Mas a informação sobre estes papeis – cuja veracidade está sendo checada – foi divulgada ontem (29) e confirmada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que investiga mais esse caso envolvendo o parlamentar. Teriam sido encontradas em meio às investigações sobre o dono do BTG Pactual e o senador Amaral, após a prisão dos dois.

A semana, portanto, promete ser agitada para o presidente da Casa, que tem pela frente outras duas representações feitas à PGR pedindo para que seja afastado do cargo enquanto tramita o processo contra ele no Conselho de Ética e a votação do relatório,  amanhã.

Nesse clima tenso, tanto base aliada como oposição aguardam a possibilidade de Cunha usar como um possível último trunfo a deliberação, nos próximos dias, do requerimento de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

‘Chantagem’

Nos bastidores, o gesto é visto como uma forma dele chantagear o Executivo para conseguir negociar a votação a seu favor ou a abstenção dos três parlamentares petistas que integram o Conselho de Ética. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), vice-líder do governo na Câmara, negou recentemente essa possibilidade. E o ministro de Comunicação Social, Edinho Silva, disse na semana passada que o PT tem autonomia para se posicionar no órgão da forma como os seus integrantes acharem melhor.

Notícia divulgada esta manhãpelo jornal O Estado de S. Paulo ressaltou que o Judiciário da Suíça rejeitou três recursos apresentados por Eduardo Cunha, sua mulher Claudia Cruz e uma das empresas que administra seus negócios fora do país. O MP suíço teria condenado o deputado, a esposa e a empresa ao pagamento de R$ 22,3 mil por tentarem impedir que extratos de suas contas fossem enviados ao Brasil. Também foi pedido naquele país, segundo o jornal, a abertura de processo penal contra o parlamentar.

Ao ser questionado sobre o assunto, Cunha disse que seus advogados ainda estão entrando em contato com o MP suíço, mas que tudo o que se trata, num primeiro momento, é de “cobrança de custa processual e não de multa”.

“Estamos otimistas que as coisas vão andar, porque a situação do presidente da Câmara chegou ao limite dos limites”, afirmou, na última quinta-feira, o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).

Entre os deputados dos mais diversos partidos, ficou nítido o abatimento tanto de Cunha como dos seus aliados depois da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para prisão do senador Delcídio do Amaral – uma vez que a decisão pode vir a abrir um precedente, também, em relação ao caso dele: uma prisão sem o flagrante determinado pela Constituição para casos envolvendo parlamentares.