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Emendas e acusação de ‘negociatas’ suspendem votação da MP dos Portos

Embate entre Eduardo Cunha (PMDB) e Anthony Garotinho (PR), ambos do Rio de Janeiro, pode acabar na Comissão de Ética da Câmara. Alterações propostas teriam virado 'show do milhão'

Para o Deputado Anthony Garotinho, ‘tudo na vida tem limites’ (Foto: Renato Araújo/ABr)

São Paulo – Acusações de “negociatas” entre o líder do PMDB na Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, e o líder do PR, Anthony Garotinho, impediram ontem a votação da Medida Provisória (MP) 595, conhecida como MP dos Portos. A MP dispõe sobre a exploração direta e indireta, pela União, de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos operadores portuários. Sua aprovação é considerada prioritária pela presidenta Dilma Rousseff (PT).

Uma emenda aglutinativa apresentada por Cunha, contendo sugestões de parlamentares de vários partidos para alterações pontuais ao texto deram início aos debates e as acusações.

Vários requerimentos de retirada de pauta e de adiamento da votação foram apresentados. Muita obstrução foi feita na tentativa de impedir a votação do texto do governo. Os petistas criticaram a emenda aglutinativa do PMDB com o argumento de que ela quebrava a espinha dorsal da medida.

Ao questionar as propostas de mudanças, principalmente em função da apresentação da emenda aglutinativa, Garotinho disse que a proposta virou a “MP dos Porcos” e que a votação não poderia ser transformada em “show do milhão”. “Para tudo na vida tem limites”, disse ele.

As declarações do líder do PR irritaram vários líderes partidários, que passaram a pedir explicações sobre as acusações e se declararam contrários à votação da medida provisória. “A discussão e votação da MP está moralmente abalada”, disse o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL).

Os líderes pediram que Garotinho desse os nomes das pessoas que teriam se envolvido nas negociações e recebido dinheiro e anunciaram que vão representar na Comissão de Ética da Câmara contra o líder do PR.

Na tribuna, Garotinho reafirmou suas acusações e disse que houve muitas negociatas envolvendo “muito dinheiro nas negociações em torno da MP” e que na Comissão de Ética daria os nomes.

O líder Eduardo Cunha rebateu Garotinho. “Mostre seus interesses. Não venha macular a honra de todos que aqui estão”. Cunha anunciou que o PMDB vai apresentar uma representação contra Garotinho no Conselho de Ética e pediu apoio de outros partidos.

O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que ouviu os ataques e as acusações, disse que em seus 42 anos de vida parlamentar nunca presenciou uma sessão tão tumultuada. “Essa foi uma das mais constrangedoras sessões já vivida por esse plenário”.

Os líderes do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do PT, José Guimarães (CE), pediram calma aos deputados e defenderam a votação da MP ainda na noite de hoje. Em seguida, Eduardo Cunha anunciou que o PMDB não votaria mais nada. Ao anunciar que era responsável pela imagem da Casa e de cada parlamentar, Henrique Alves encerrou a sessão sem votar a medida provisória.

Ao deixar o plenário, o presidente da Câmara declarou que vai conversar com os líderes partidários para verificar a possibilidade de colocar a MP em votação na próxima terça-feira (13). “Vamos discutir com os líderes. A votação depende dos líderes”. Em relação aos ataques em plenário, Alves disse que irá examinar as notas taquigráficas para verificar as denúncias. “Vou examinar, com muita cautela. As acusações deixaram muito mal esta Casa”, ressaltou.

A Medida Provisória dos Portos perde a validade no próximo dia 16, caso não seja aprovada pela Câmara e pelo Senado até aquela data.