Contra a democracia

Em nove horas de depoimento, Mauro Cid reforça trama golpista para manter Bolsonaro no poder

Segundo ex-ajudante de ordens, o então presidente manteve planos mesmo alertado de que as urnas eletrônicas eram seguras e confiáveis

Lula Marques/Agência Brasil
Lula Marques/Agência Brasil

São Paulo – Em seu sétimo depoimento à Polícia Federal (PF), ontem (11), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, reforçou indícios da trama golpista para manter o ex-presidente no poder, mesmo derrotado nas eleições de outubro de 2022. Embora o conteúdo das falas do militar sigam sob sigilo, pessoas ligadas à investigação avaliam que o depoimento acrescentou informações e detalhes relacionados à tentativa de evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Dessa forma, Cid teria afirmado que o entorno de Bolsonaro, além do próprio ex-presidente, já haviam sido alertados que o sistema eletrônico de votação era seguro e sem fraudes. Mesmo assim, continuaram tramando. Nesse sentido, eles avaliavam que questionar as urnas eram uma forma de “justificar” o golpe. Por outro lado, o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, era contra a articulação.

Além disso, o ex-ajudante de ordens reforçou declarações anteriores, segundo as quais soube que Bolsonaro pressionou comandantes militares para aderir à tentativa de golpe. Conforme já revelado anteriormente pelo portal UOL, Mauro Cid afirmou que em novembro de 2022 o ex-assessor Filipe Martins apresentou a Bolsonaro uma minuta de decreto que tinha como objetivo convocar novas eleições e prender adversários. Segundo afirmou há alguns dias a revista Veja, a lista de possíveis presos incluía os os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entre outras autoridades.

Comandantes dizem não

Assim, o então presidente pediu alterações no texto, que posteriormente teria sido apresentado aos comandantes das Forças Armadas. Além de Freire Gomes, o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, manifestou-se contra o plano, que não foi adiante.

O militar não é investigado no inquérito que apura tentativa de golpe de Estado, que deu origem à Operação Tempus Veritatis. No ano passado, ele fechou acordo de delação premiada com a PF. Ontem, Cid chegou à sede da corporação por volta de 15h e só saiu após a meia-noite. O depoimento também incluiu informações sobre vacinas e joias.

Em declaração ao canal GloboNews também ontem, Gilmar Mendes disse considerar o pedido de anistia uma estratégia política do ex-presidente para movimentar seu grupo. “Muitos imputam ao ex-presidente uma falta de solidariedade. Jogou essa gente na fogueira e foi para Miami.”


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