São Paulo – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) disse que “não faz o menor sentido” a anistia aos golpistas de 8 de janeiro, conforme vem defendendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele classificou o episódio como a “mais grave” ameaça à democracia no pós-ditadura. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quarta-feira (28), disse ainda que via como uma espécie de “confissão” as falas de Bolsonaro assumindo que tomou conhecimento sobre a chamada “minuta do golpe“.

“Não faz o menor sentido”, afirmou Gilmar. “Estamos falando da ameaça mais grave à democracia em todos esses anos pós-ditadura. Aqueles que tiveram participação menor no evento já foram consagrados com medidas muito mais leves. A maioria dessas pessoas foi liberada. Essa dosimetria a Justiça já está fazendo”, disse o ministro.

Para ele, Bolsonaro saiu de uma situação de “possível autor intelectual para pretenso autor material” da tentativa de golpe de Estado. Além disso, o ministro afirmou que a manifestação bolsonarista que reuniu milhares na Avenida Paulista no último domingo (25) “não muda uma linha” nas investigações sobre a intentona golpista, nem no juízo do STF sobre o episódio.

“Temos esses dados e por isso talvez ele decidiu fazer esse movimento, para mostrar que tem apoio popular, que continua relevante na opinião pública. Isso não muda uma linha em relação às investigações, nem muda qualquer juízo ou entendimento do STF”, afirmou.

Em sobressalto com a possibilidade de prisão, Bolsonaro falou em “pacificação” e “conciliação”. Assim, Durante o ato, sugeriu “passar uma borracha no passado” e pediu anistia “para aqueles pobres coitados que estão presos”. Além disso, ontem, em entrevista à Revista Oeste, veículo de viés bolsonarista, Bolsonaro chegou a dizer que a anistia “precisa vir do lado de lá”. “Partindo do Executivo, seria muito bem-vindo.”

Desespero

O apelo desesperado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva revela o temor cada vez maior de Bolsonaro em relação a provável condenação. Da mesma forma que o ministro Gilmar, Lula afirmou ontem que Bolsonaro está “confessando o crime” ao pedir anistia a si e aos seus apoiadores.

Para o presidente, Bolsonaro está pedindo anistia de forma “antecipada”. Antes, porém, deverá passar por julgamento, respeitando o devido processo legal. “Ele cometeu muita barbaridade, vai ser julgado, apreciado, terá seu advogado de defesa. Eu só quero que ele tenha a presunção de inocência que eu não tive. Vai ficar pedindo anistia? Quer apagar a bobagem que fez?”, disse Lula ao jornalista Kennedy Alencar.