Hora da Verdade

Investigados por tentativa de golpe, Bolsonaro e ex-auxiliares depõem à PF nesta quinta

Além do ex-presidente, foram intimados os generais Augusto Heleno e Braga Netto. Depõem ainda Anderson Torres, diversos militares e Valdemar Costa Neto. PF quer ouvi-los sobre a minuta golpista e a reunião que pedia ações para manter Bolsonaro no poder

Lula Marques/Agência Brasil
Lula Marques/Agência Brasil
A defesa já informou ao STF que Bolsonaro irá permanecer em silêncio durante o depoimento

São Paulo – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 10 alvos da operação que investiga uma suposta tentativa de golpe para mantê-lo no poder, prestam depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (22). As oitivas ocorrerão de forma simultânea, no início da tarde, às 14h30, na sede da PF, em Brasília. A estratégia é evitar que os investigados combinem versões.

Além de Bolsonaro, serão ouvidos seus ex-ministros, os generais Augusto Heleno e Braga Netto, Anderson Torres, Mário Fernandes e Paulo Sérgio Nogueira. Assim como o ex-assessor Tércio Arnaud e os militares Marcelo Costa Câmara, Almir Garnier, Cleverson Ney Magalhães, Bernardo Ferreira de Araújo Júnior e Ronald Ferreira de Araújo Junior. O presidente do PL, partido de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, também depõe hoje.

Os depoimentos fazem parte da Operação Tempus Veritatis (Tempo ou Hora da Verdade, em latim), deflagrada no último dia 8. A ação, que teve como alvos o ex-presidente e seus ex-ministros militares e ex-assessores, investiga suspeitas de formação de uma organização criminosa que, de acordo com a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado, com abolição do Estado democrático de direito para invalidar as eleições de 2022.

Trama golpista

As suspeitas estão baseadas em documentos que mostram que Bolsonaro “analisou e alterou” uma minuta de decreto que determinava o rompimento constitucional. Os agentes encontraram em seu gabinete, na sede do seu partido, em Brasília, uma minuta com conteúdo golpista que ele teria editado. Nela anunciaria a decretação de um estado de sítio. E também a imposição da operação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

A trama golpista também ficou evidente em uma reunião ministerial em julho de 2022, que mostra Bolsonaro apressando seus ministros a tomar providências e de não esperar pelo resultado da eleição, em outubro daquele ano, para só então agir. A gravação, que foi apreendida no computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, colocou o ex-presidente no centro das investigações.

Isso porque, segundo a fala do então presidente mostrada no vídeo, de julho de 2022, fica evidente que ele convocava ministros para discutir ações para se manter no poder. Tanto que em dado momento da reunião se falava em acionar um “plano B”. Além disso, o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defende uma “virada de mesa” logo, ainda antes do resultado das eleições, já que as pesquisas mostravam vantagem do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Moraes nega adiamento a Bolsonaro

Os advogados do ex-presidente afirmam, no entanto, que Bolsonaro nunca pensou em golpe. A defesa já informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ele irá permanecer em silêncio durante o depoimento, sob a alegação de que não tiveram acesso ao conteúdo das investigações. A argumentação foi apresentada no início da semana com um pedido para que o depoimento fosse adiado.

No mesmo dia, o ministro do STF Alexandre de Moraes decidiu que Bolsonaro não poderia escolher a data e o horário de seu depoimento por já ter acesso ao conteúdo dos celulares apreendidos pela operação da PF.

Redação: Clara Assunção