ASSOMBRAÇÃO

Acuado por CPI, Bolsonaro manda Pazuello para cargo de quem ‘não tem função’

Presidente transfere general da ativa e ex-ministro da Saúde da 12ª Região Militar para Secretaria-Geral do Exército

Erasmo Salomão/MS
Erasmo Salomão/MS
Pazuello e Bolsonaro no posse oficial do ex-ministro

São Paulo – Assombrado pela instalação da CPI da Covid no Senado, o presidente Jair Bolsonaro transferiu nesta sexta-feira (23) o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para ocupar um cargo que, segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, é para quem “não tem função”. Desta forma, Pazuello deixa a 12ª Região Militar e vai para a Secretaria-Geral do Exército.

“O camarada, quando não tem função específica, fica adido. Então, a Secretaria-Geral é um órgão subordinado diretamente ao comandante, então, ele fica adido à Secretaria para receber missões eventuais do comandante. Agora no mês de julho tem promoções no Exército e movimentação de general. Aí, provavelmente, o Pazuello será movimentado para algum lugar”, explicou Mourão, segundo o portal G1.

A Secretaria-Geral, ainda de acordo com o G1, prepara reuniões do Alto Comando, conduz o processo de concessão de medalhas, regula o Cerimonial Militar e assessora o comandante do Exército, dentre outras funções. Já a 12ª Região Militar, segundo o site da própria 12ª Região, tem a “missão é realizar o apoio logístico da Amazônia Ocidental”.

Senhores da morte

Até agora, Pazuello foi o ministro do governo Bolsonaro que mais tempo ficou à frente da Saúde durante a pandemia da covid-19. O general assumiu a pasta em maio do ano passado, primeiro interinamente e, depois de quatro meses, como titular. Saiu somente em meados de março deste ano com o país batendo recordes de mortes pela doença após seguidos erros cometidos, como insistência no tratamento precoce com cloroquina, azitromicina e similares, envio tardio de socorro para Manaus na crise do oxigênio e demora para a compra de vacinas. A mais emblemática foi a recusa de 70 milhões de doses oferecidas pela Pfizer em agosto de 2020.

O descalabro das ações da dupla levou à CPI da Covid, que deve ser instalada oficialmente no Senado na próxima terça-feira (27). Como o ex-ministro da Saúde é um dos principais alvos, Bolsonaro deve ficar em uma posição delicada. Se rifar o general, que é da ativa e tem patente de três estrelas, pode provocar insatisfações nas Forças Armadas, uma das avalistas de seu governo. Se bancar, pode alimentar seu próprio impeachment ou enterrar qualquer pretensão eleitoral em 2022.

Além do Senado, a gestão de Pazuello está na mira do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público e da Polícia Federal.

Responsabilidades

O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten, em entrevista à revista Veja desta semana, engrossou ainda mais o caldo. Ele afirmou que o “presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade” na catástrofe causada pela pandemia, sugerindo que o problema foi Pazuello. A frase de Wajngarten, porém, vai de encontro ao episódio em que Bolsonaro desautorizou publicamente o ex-ministro em outubro do ano passado, um dia após ele anunciar um protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac. “É simples assim: um manda e o outro obedece”, disse Pazuello, visivelmente constrangido.