Ligações Perigosas

Eduardo Bolsonaro é sócio nos EUA de empresário que apoiou o 8 de Janeiro

Filho de ex-presidente abriu empresa no Texas em março, em sociedade com “influenciador” Paulo Generoso e André Porciúncula, que trabalhou no governo de Jair

Reprodução/Redes Sociais
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Eduardo Bolsonaro e Paulo Generoso abriram sociedade no estado do Texas, nos Estados Unidos

São Paulo – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) abriu uma empresa no estado do Texas (Estados Unidos) em sociedade com pessoas ligadas à disseminação de fake news no Brasil, também apoiadores dos atos golpistas de 8 de janeiro. Isso ocorreu no período em que Jair Bolsonaro (PL) morou nos Estados Unidos. A reportagem investigativa foi feita em parceria entre o portal Uol e a Agência Pública nos últimos cinco meses, por Alice Maciel, Juliana Dal Piva e Laura Scofield.

Após a derrota na eleição de 2022 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro viajou para a Florida, na cidade de Orlando, onde ficou de 30 de dezembro a 30 de março. No período, seu filho “03” esteve três vezes nos Estados Unidos, pelo menos, em janeiro, fevereiro e março.

Na última visita, diz a reportagem, ele participou de eventos da extrema direita americana ao lado de Jair. Dias antes da Braz Global Holding ser registrada no Texas, em 5 de março, os dois falaram no CPAC, congresso conservador organizado pela União Conservadora Americana (ACU, na sigla em inglês), em Washington.

Eduardo Bolsonaro abriu uma empresa em 18 de março deste ano em sociedade com o influenciador Paulo Generoso e André Porciúncula. Generoso é conhecido por compartilhar notícias falsas e por ter apoiado os atos golpistas. Porciúncula foi o número dois da Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro entre agosto de 2020 e março de 2022.

A firma Braz Global Holding LLC foi registrada por Generoso no endereço de sua casa, em Arlington. No mesmo endereço, outras duas empresas dos sócios de Eduardo na holding também foram abertas. São a Liber Group Brasil, em 13 de janeiro, e o Instituto Liberdade, em 8 de fevereiro. Eduardo Bolsonaro não consta como responsável nessas duas, apenas Generoso, Porciúncula e Raquel Brugnera, que também serviu ao governo Bolsonaro.

“Prefiro não falar nada”

A reportagem procurou deputado Eduardo Bolsonaro pessoalmente na Câmara no último dia 24. Ao ser questionado sobre a empresa, ele respondeu: “Por que vocês estão me investigando? Conhecendo um pouquinho do Uol e um pouquinho de vocês, eu prefiro não falar nada”. 

Ante a insistência sobre os negócios da empresa, esquivou-se novamente: “Não tem nada demais. Explicar o quê? Estou devendo alguma coisa?”. Depois, “andando rápido pelo corredor em meio aos seguranças”, disse que “não devia explicações”. Ainda citou o TSE sem ser questionado sobre o tribunal eleitoral. “Eu estou traficando droga? Eu estou roubando alguém? É corrupção?”, acrescentando que “falaria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, se fosse chamado.

De acordo com os repórteres, os demais sócios foram procurados, mas não retornaram até a última atualização da reportagem, que obteve junto ao governo do Texas os documentos de registro da Braz Global Holding. Não há neles informações sobre qual seria o ramo do negócio.

Raquel Brugnera e Paulo Generoso são criadores do Movimento República de Curitiba, que surgiu em 2016 em apoio à Operação Lava Jato e à candidatura de Bolsonaro em 2018 e 2022.

No Facebook, apoio a Dallagnol

A página do grupo no Facebook tem 1,2 milhão de seguidores e disseminou notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e a pandemia de covid-19. Também defendeu os atos golpistas de 8 de janeiro. As postagens mais recentes da página são em apoio a Deltan Dallagnol, que teve o mandato cassado no TSE. O perfil de Paulo Generoso no Twitter foi suspenso em janeiro de 2023, por decisão judicial.

Perfil suspenso no Twitter

O grupo também possui um site, que existe desde dezembro de 2017. De acordo com o relatório final da CPI da Pandemia, o movimento publicou “informações falsas sobre tratamento precoce, lockdown e contra a vacina”. A página também foi investigada pela CPMI das Fake News, que a citou como um dos “principais veiculadores de desinformação acerca da Covid-19” em seu relatório final.

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