Mudanças

Dilma diz que ninguém governa se não há pacto pela estabilidade política

Acerto entre Executivo e partidos inclui comprometimento prévio e apoios a serem anunciados formalmente até o dia 11. Trocas acontecerão somente depois de decisão na Câmara sobre o impeachment

Lula Marques/Agência PT

Para Dilma, o clima de instabilidade “pode permanecer de forma profunda e extremamente danosa para o país”

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff confirmou hoje (5) o que desde a véspera se especulava entre vários partidos: não haverá mudança nos ministérios pelo menos até o dia 18, data prevista para votação do impeachment na Câmara dos Deputados. A mudança de posição do governo, que pretendia acelerar a troca de cargos no Executivo, se deu depois do entendimento, tanto entre ministros da coordenação política e a presidenta como das lideranças partidárias, de que o acerto seria melhor para todos.

Em solenidade realizada na manhã de hoje, Dilma disse que “ninguém vai governar o Brasil se não tiver pacto pela estabilidade política”. E acrescentou que o clima de instabilidade “pode permanecer de forma profunda e extremamente danosa para o país”, num aceno de que, mesmo decidida a realizar nova reforma ministerial depois do impeachment,  as negociações estão em curso.

Assim, caso os partidos se comprometam a reforçar a base de sustentação ao governo, terão de se posicionar oficialmente até a próxima segunda-feira (11) e, ao mesmo tempo, mostrar que cumpriram o prometido, com os votos das bancadas contrários ao impeachment. O Executivo, por sua vez, terá mais tempo para estudar os remanejamentos e não poderá descumprir qualquer compromisso feito para acomodar políticos destas legendas, uma vez que será necessária essa recomposição da base, caso saia bem sucedido na derrubada do processo de impeachment.

Parte dessa estratégia levou em conta, segundo lideranças partidárias, o fato do PMDB não ter conseguido, apesar do comunicado oficial feito oito dias atrás, que seus integrantes desembarcassem do governo. O que é observado, sobretudo, pela permanência de ministros peemedebistas nos cargos.

‘Desmoralização’

Ontem, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), da ala oposicionista do partido, disse que era preciso acelerar os pedidos de expulsão dos ministros que não acataram a posição do PMDB porque, a seu ver, eles estariam “desmoralizando a decisão da executiva nacional”. “O Temer precisa fazer alguma coisa quanto a isso”, afirmou, na Câmara.

No PP, as discussões são fortes porque o partido pediu ao Executivo um dos três ministérios considerados mais expressivos em termos de recursos: Saúde, Ciência e Tecnologia e Educação. Diante da possibilidade de a Saúde continuar nas mãos do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que é aliado do líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o Planalto tem resistido, mas estuda a possibilidade de entregar para a legenda o comando do Ministério da Educação, hoje com o ex-senador Aloizio Mercadante, um dos ministros mais próximos da presidenta.

Alguns senadores já conversam em reservado que não há outra forma de contemplar a legenda, que tem 61 deputados e apresenta hoje divisão sobre os votos em relação ao impeachment. Mas que, ao mesmo tempo, acena que, se vier a ser beneficiada da forma como pede, com mais espaço e poder na Esplanada dos Ministérios, conseguirá ao menos 50 votos que hoje são dos indecisos.

Sacrifícios

“O momento é dos aliados fazerem sacrifícios para ajudar o governo. Aconteceu da mesma forma com Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco, que morreu em 2014) na época do mensalão, que precisou deixar o Ministério da Ciência e Tecnologia e retornar para a Câmara para ajudar o governo”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

“Nossa principal questão não é só obter cargos, mas conseguir maior tamanho dentro do novo desenho de participação partidária no governo. A questão não é briga por ministérios em si, e sim ter mais representatividade dentro do Executivo, sobretudo num ano de eleições municipais”, acrescentou o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB).

Também incluído nas negociações, o PSD tem acentuado que trabalhará para conseguir o máximo de apoios contrários ao impeachment, mas quer ampliar seu espaço para além do Ministério das Cidades, hoje ocupado pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab. Anteriormente, o PSD afirmou que liberava os deputados da sigla a votar da forma como bem entendessem sobre o impeachment. Agora, o partido programa reunião com seus integrantes e tem demonstrado propensão a brigar para defender a presidenta.

Já o PR, segundo informações de um ministro, estaria negociando com o governo a titularidade de um ministério ou na Aviação Civil, na Agricultura ou na Ciência e Tecnologia. Caso a escolha seja pela Agricultura, a ministra Kátia Abreu, também ligada à presidenta Dilma, seria sacrificada e teria duas opções: retornar ao Senado para reforçar a base aliada de apoio ao Executivo no Congresso ou ser remanejada para alguma estatal ou entidade pública vinculada à sua área de atuação, a agricultura

O PRB, que inicialmente anunciou a saída da base aliada, tem participado das reuniões sobre recomposição dos ministérios. O partido a princípio demonstrou estar dividido, mas hoje já se fala que seus integrantes pedem um ministério mais forte que o do Esporte, ocupado pela legenda há até pouco tempo. Fazem parte das negociações o comando de cargos no Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco do Nordeste.

Otimismo

“O prognóstico tem saído melhor do que o esperado, mas é preciso mais margem de negociação. Não podemos contar vitória antes do tempo”, disse hoje um ministro da coordenação política, demonstrando ânimo com o andar das conversas com os partidos e a possibilidade de o impeachment ser barrado. Na oposição, o clima também demonstra preocupações neste sentido.

Ontem, o deputado Marcelo Aro (PHS-MG) fez um discurso inflamado na comissão do impeachment, dizendo que considerava “lamentável” o que chamou de “jogo político de toma lá, dá cá”. Ele foi criticado por colegas por estar usando o espaço para falar de um tema não relacionado com o assunto pautado, que era a defesa da presidenta Dilma Rousseff pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. Nesta manhã, um líder oposicionista disse que “os ventos parecem estar mudando”, dando a entender que a esperada debandada das siglas do governo não aconteceu.

Outra estratégia, que vinha sendo pouco comentada, mas tem ganhado força, é a discussão sobre novas eleições, antecipando o mandato da presidenta. De Recife (PE), em entrevista a jornalistas daquele estado, o senador Humberto Costa não descartou a possibilidade, mas disse que o assunto será amadurecido apenas após o resultado do processo do impeachment. E deixou claro que o importante é lutar, neste momento, pelo fortalecimento da democracia. “Se este for o caminho, nós não nos opomos a discuti-lo, mas no momento certo.”

Em evento na Base Aérea de Brasília, Dilma também comentou a proposta de antecipar as eleições presidenciais para outubro. “Nem rechaço nem aceito. Eu acho que é uma proposta. Convença a Câmara e o Senado a abrir mão dos seus mandatos. Aí vem conversar comigo”, disse a presidenta.

Com informações do Blog do Planalto