retrocessos

Dilma: ‘É próprio do golpe não querer ser identificado como tal’

Ao discursar ontem no Circo da Democracia, em Curitiba, presidenta defendeu pacto que ouça a população sobre eleições e reforma política e criticou cerceamento às manifestações contra Temer

Facebook Circo da Democracia/Reprodução

Dilma (ao lado do senador Roberto Requião) disse que a saída da crise requer um pacto nacional

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff disse ontem (8), no Circo da Democracia, em Curitiba, que o impeachment não vai permitir que a crise econômica seja superada no país. “Nós temos condição para retomar o crescimento, mas para isso é fundamental um pacto nacional”, afirmou. Ela também destacou que o ônus da retomada do crescimento não pode se dar apenas sobre os trabalhadores e a classe média, como tem mostrado que quer o governo interino conduzido por Michel Temer.

Dilma disse que a saída da crise requer um pacto nacional, mas que ele não pode ser realizado por cima. “Hoje não tem como fazer um pacto por cima, mas tem que ser por baixo, para que as pessoas digam o que pensam”, afirmou, e depois defendeu a realização de um plebiscito para que a população indique como deseja conduzir a política daqui por diante.

“Eu apoio a realização de um plebiscito que coloque duas questões, a eleição direta para a presidência e a reforma política. O país tem uma fragmentação política assustadora, 25 partidos no Parlamento e 35 no total. E vamos ter mais partidos, porque toda a estrutura leva à fragmentação partidária, à desprogramação dos partidos”, disse. A presidenta considera que essa situação impõe a necessidade de uma reforma política já que a diversidade partidária tem sido até agora a “mãe e o pai” do fisiologismo ou, como ela disse, “de um certo tipo de política nefasta”.

Ao abrir o discurso, a presidenta falou da importância de refletir sobre os caminhos que o país tem a trilhar. Ela disse também que no contexto de exceção em que o país foi colocado pelo golpe é importante dar nome às coisas, uma atitude que ela classificou de subversiva. “Isso faz com que as máscaras caiam e a realidade surja; quando ocorreu o debate se está ou não em curso o golpe de estado começaram a negar, porque o golpe é o uso de tanques de guerra, significa armas na mão, mas é fundamental que saibamos que esse golpe é diferente do que nós vivemos em 64”, afirmou.

Dilma lembrou do Ato Institucional número 5, de 1968, que rasgou as garantias constitucionais, “um golpe dentro do golpe”, como ela disse, que guarda semelhança com a situação vivida hoje no país. “É próprio do golpe não querer ser identificado como tal”, afirmou. “Não surpreende que nos últimos dias tenham proibido as pessoas de manifestar ‘Fora, Temer’. É uma característica desse golpe essa tentativa de impedir que as pessoas o identifiquem.”

Em seguida, nomeou os responsáveis pelo golpe no país: “Parte da mídia oligopolista; uma parte da oposição do meu governo, que é a parte mais pragmática que foi substituída pela parte mais fisiológica, nem por isso menos ávida; uma parte do PMDB, o ex-vice-presidente e atual interino e também o presidente afastado da câmara, o senhor Eduardo Cunha; e toda uma parte do capital especulativo e financeiro, esse é o núcleo duro do golpe”.

A presidenta enfatizou também que o sentido do golpe é aplicar no país o programa que nunca seria aprovado nas urnas. “Quem de nós apoiaria o fim do modelo de partilha”, perguntou Dilma. “Quem aprovaria uma PEC que congela gastos em saúde e educação por 20 anos?” Dilma também lembrou dos ataques que a classe empresarial quer destinar à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e disse que a polêmica recente sobre a jornada de trabalho semanal, quando um empresário representante da CNI “defendeu 80 horas semanais”, busca atacar as horas extras. Dilma também criticou a ideia do ministro da Saúde, Ricardo Barros, de criar planos de saúde alternativos ao SUS.