No centro da disputa

Haddad sobre eleições: ‘Democracia e direitos sociais devem estar acima de tudo’

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, ex-prefeito falou sobre a aproximação do PT com outros partidos da esquerda à centro-direita como “pavimentação de um caminho de entendimento no país”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Isso tudo faz cair a ficha desses setores de que não dá para continuar nesse pesadelo que o Brasil vive", destaca Haddad sobre frente ampla contra Bolsonaro

São Paulo – O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) defende que a democracia e os direitos sociais estejam “acima de tudo” perante a formação de alianças prévias com diferentes partidos em torno da cogitada candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República no próximo ano. Em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, na edição desta terça-feira (21), Haddad afirmou que, ainda que o apoio não seja mútuo no primeiro turno, as siglas devem sair unidas em um eventual segundo turno para “evitar o desastre”, em suas palavras, que foi o segundo turno de 2018. 

Ex-presidenciável à época, Haddad acabou derrotado por Jair Bolsonaro. O então candidato pelo PSL, agora no PL, contou com apoio de pelo menos três governadores do PSDB, três candidatos do PDT, entre outras siglas. De acordo com ele, desde o começo deste ano o PT está se aproximando de forças que no pleito de 2018 ficaram ao lado de Bolsonaro, mas se arrependeram. “E isso está rendendo bons frutos”, justificou. O ex-prefeito e ministro citou que desde o primeiro momento a sigla vem priorizando conversas com legendas de maior identidade ideológica.

Entre elas, o PCdoB, o Psol, a Rede, o PV, o Solidariedade e o Pros, que o apoiou em 2018. Mas não descartou que há contato com o PSB, o PSD, que tem relações regionais com o PT, e ex-opositores, como o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, cotado para ser vice da chapa com Lula.

Chapa Lula-Alckmin

No último domingo (19), durante encontro promovido pelo grupo de juristas Prerrogativas em São Paulo, os dois fizeram a primeira aparição pública juntos. Haddad não deu detalhes sobre a possibilidade dessa aliança. Mas ressaltou que “independente do desfecho das negociações, eu tenho certeza que vamos ter um segundo turno, se houver, muito diferente do que foi em 2018”, anunciou. Embora fosse um nome ligado ao PSDB – Alckmin se desfilou do partido na semana passada –, caso venha a ocorrer, essa chapa será provavelmente por meio do PSB. A sigla já esteve com o PT e o PCdoB na primeira candidatura de Lula à Presidência, em 1989.

“O desfecho vai depender de muita negociação, das partes envolvidas, dos partidos envolvidos, ainda temos etapas para cumprir. Agora o balanço das aproximações é muito bom e tem que ser celebrado. (…) Estamos pavimentando um caminho de entendimento no país, em que a democracia tem que estar acima de tudo. Os direitos sociais e dos trabalhadores têm que estar acima de tudo, a educação, a saúde, a segurança, a democracia e a justiça social. E isso tudo faz cair a ficha desses setores de que não dá para continuar nesse pesadelo que o Brasil está vivendo”, completou o ex-prefeito. 

Plano de governo

Haddad avalia que em 2018 “tudo estava fora do lugar”. “Houve uma escalada de intolerância, incompreensão, desinformação e manipulação de setores da justiça” que impediu um diálogo de oposição a Bolsonaro. Ele lembra que assumiu a candidatura faltando três semanas para o primeiro turno. O que também garantiu pouco tempo hábil para essa construção que se desenha atualmente, segundo o ex-ministro. 

A possibilidade de uma aliança com a centro-direita e até a direita não é consenso, no entanto, internamente e entre apoiadores do PT. Esses setores apontam um temor de que o campo progressista acabe cedendo mais em suas pautas. Nessas negociações, Haddad, contudo, argumenta que há diversos pontos de uma agenda comum que a esquerda não abrirá mão. Ele destaca a crise do enfrentamento da crise econômica. “Temos que gerar emprego no Brasil, as pessoas estão desalentadas, não sabem para onde correr. Temos que mudar vários parâmetros para corrigir os erros desse governo em relação à inflação. Ele foi o grande produtor de inflação no país, aumentando tarifas, preço de combustível”, contesta. 

Inclusão e educação

Na pauta do trabalho, Haddad diz ainda que o partido pretende promover uma inclusão semelhante à adotada nos programas de acesso à universidade, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e a construção de instituições federais. Segundo ele, o Brasil também precisa empregar toda a mão de obra crítica patrocinada por essas iniciativas tanto no setor público como na iniciativa privada. 

“A nossa tarefa agora é dar esse passo. Precisamos fazer com que o Brasil todo chegue ao mundo do trabalho e a gente consiga se ver representado melhor nele. Essa é uma tarefa importante que diz respeito a negros, a mulheres, a toda a diversidade da população brasileira. Sobretudo aqueles que menos renda têm e que hoje estão com um diploma na mão. Esses dias mesmo eu vi uma reportagem de um filho de um cortador de cana que estava se formando em medicina e que ia tirar o pai do corte de cana. Esse o Brasil que a gente quer, essa é a foto que a gente quer do Brasil para o futuro próximo, não para daqui a 100 anos, mas para já”, frisou. 

Ao final da entrevista, Haddad também comentou a eleição de Gabriel Boric à presidência do Chile, como prenúncio do avanço progressista na América Latina. 

Confira a entrevista completa

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima