Inacreditável

Deltan Dallagnol envolve ‘Bíblia’ em mentira postada sobre PL das Fake News

Extrema direita atira para todos os lados para garantir liberdade de mentir. Postagem grotesca de deputado e ex-procurador choca as redes sociais

Creative Commons/Pixabay
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Em um ataque ao projeto, Deltan divulgou uma mentira em suas redes sociais de que o PL "censuraria" a Bíblia

São Paulo – A extrema direita se mexe contra o PL da Regulamentação das Mídias Digitais (o PL das Fake News ou PL 2.630/2020), projeto que busca conter a disseminação em massa de desinformação e notícias mentirosas. Um dos representantes da ala que defende a liberdade para mentir é o ex-membro do Ministério Público, hoje deputado federal, Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em ataque ao projeto, Dallagnol divulgou uma mentira em suas redes sociais de que o PL “censuraria” a Bíblia.

Além de ser uma mentira (que tinha mais de 7 mil curtidas no meio da tarde), o conteúdo da desinformação assinado por Dallagnol inventa que trechos da Bíblia seriam “banidos” das redes. Os versículos usados pelo deputado falam, por exemplo, que as mulheres devem estar sujeitas às vontades do homem. Outros falam sobre como homens devem castigar seus filhos rebeldes.

Um exemplo é Colossenses 3;18. O trecho versa: “Vós, mulheres, estais sujeitas ao vosso marido, como convém no Senhor“. Outro pedaço extraído do livro sagrado para os cristãos é Timóteo 2;12. “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem exerça de autoridade sobre o marido. Mas que esteja em silêncio“.

Regulação urgente

O PL das Fake News em nada fala sobre censura de texto religioso. Por isso, o relator do projeto, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), prontamente respondeu a Deltan. “Alerta de Fake News! É por esse tipo de indignidade que as redes sociais estão cheias de discurso de ódio e desinformação. Quem lucra com essa campanha mentirosa, que explora a fé alheia para politicagem barata, deputado? Só reforça a urgência da regulação”, disse.

A mentira de Deltan envolvendo a Bíblia ganhou as redes sociais. A palavra “urgente” entrou para os temas mais comentados. Internautas reforçam a necessidade de combater esse tipo de desinformação. Em especial, combater aqueles que monetizam o discurso de ódio e as mentiras, faturando alto nas plataformas. “Mentiroso sem-vergonha! você tem que pagar pelas mentiras que você fala nas redes sociais assim como mentia descaradamente no MP. Não vai ter mais imunidade para deputado mentiroso”, subiu o tom a jornalista Cynara Menezes.

dallagnol bíblia
Internautas publicaram trecho do PL das Fake News que assegura liberdade de manifestação religiosa, entre outras. Postagem de Dallagnol com mentira sobre censura à Bíblia comprova urgência do projeto

Extrema direita mobilizada

O Parlamento está mobilizado em torno da matéria. Nesta terça-feira (25), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, foi ao Congresso levar contribuições ao projeto para os presidentes Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Senado, e Arthur Lira (PP-AL), da Câmara. O Congresso deve iniciar a apreciação do PL ainda hoje, com a votação do pedido de urgência sobre o texto.

Enquanto isso, bolsonaristas fazem plantão no Aeroporto de Brasília para pressionar deputados. Parlamentares do núcleo da extrema direita, além de disseminar mentiras nas redes, planejam faltar às sessões legislativas ou entrar em obstrução.

Intervenção mínima

A sociedade também está mobilizada nas redes. O influenciador digital Felipe Neto, que vem contribuindo com o debate, lembra que a ideia é a mínima intervenção estatal, mas contra a práticas de crimes. “A extrema direita deveria entender isso, pq nós defendemos uma Lei q funcione mesmo se o Bolsonaro voltar a ser Presidente. Justamente por isso a nossa luta é pela mínima intervenção governamental em posts individuais. Contudo, é fundamental que o PL seja votado com urgência”, argumenta.

Ele prossegue: “Se a votação não acontecer, a agressão dos lobistas das big techs e das grandes emissoras ficará 200x mais forte e o Projeto de Lei se tornará uma abominação protegendo os interesses dos bilionários”.

Outro medo é que, caso o PL não ganhe caráter de urgência, Orlando Silva perca a relatoria. “Se o projeto não for votado com urgência, perderemos o trabalho de 3 anos do Orlando Silva como relator. Orlando hoje é o único político capaz de dialogar entre a esquerda e a extrema-direita, ele é bem recebido em reuniões com o PT e com o PL. Tirá-lo da relatoria do projeto será o mesmo que matá-lo”, prossegue Neto.