CUT destaca coragem e afirma que Gushiken enfrentou má-fé

Despedida

Roosewelt Pinheiro/Arquivo ABr

Gushiken liderou a maior greve já promovida pelos bancários no país e participou da criação da CUT

São Paulo – A Central Única dos Trabalhadores (CUT) destacou na nota de pesar por conta da morte do ex-ministro Luiz Gushiken a coragem e a determinação do líder sindical. O comunicado, assinado pelo presidente da central, Vagner Freitas, recorda que o petista enfrentou a resistência cultural de uma família japonesa, atuou na resistência à ditadura, acabou demitido do Banespa por causa da militância política e, por fim, enfrentou um câncer que lhe custou a vida.

“Liderar a maior greve dos bancários que o Brasil já teve e depois organizar o Partido dos Trabalhadores, ajudar na fundação da CUT, liderar o PT e ir para o governo do presidente Lula para ajudar a mudar o Brasil e ainda conseguir tempo para cuidar dos filhos, tudo isto Gushiken enfrentava e fazia ao mesmo tempo”, argumenta o texto, acrescentando que o líder sindical representa um “exemplo de vida”.

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A nota recorda ainda que Gushiken chegou a ser denunciado no curso da Ação Penal 470, chamada de mensalão, por suposta participação em esquema de desvio de verbas públicas na condição de ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República – ele acabou deixando o governo em 2006, e apenas em 2012 deixou de ser réu no processo, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) admitiu que não havia provas que o pudessem incriminar.

“Já bem doente e com Lula presidente, Gushiken também teve que enfrentar a má fé de parte da Procuradoria Geral da República e da imprensa no famigerado processo da Ação Penal 470, que a mídia apelidou de mensalão, quando todos sabiam que Gushiken era inocente, como foi comprovado pelo Supremo Tribunal Federal anos depois. Gushiken resistiu com dignidade”, afirma Vagner Freitas.

Gushiken, 63 anos, morreu ontem no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde se tratava de um câncer. Na última semana ele se despediu de amigos e parentes que o visitaram.

Ele nasceu em Osvaldo Cruz, no interior paulista, em 8 de maio de 1950. Na década de 1970, em meio à ditadura, começou a militar na tendência Liberdade e Luta (Libelu), e em 1979 passou a integrar a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, chegando à presidência em 1985. À frente da categoria, comandou uma greve nacional que paralisou 700 mil bancários.

Na década seguinte, foi um dos fundadores do PT, em 1980, e da CUT, em 1983. Em 1986 foi eleito deputado federal pelo partido, e no ano seguinte atuou como parlamentar no Congresso Constituinte, que concluiu seus trabalhos em 1988.

Em nota, o Sindicato dos Bancários afirmou que Gushiken soube exercer o poder com “talento e humildade”, com importantes conquistas para a categoria. “Sua força, ética e competência serão sempre lembrados por nossa militância. Com sua morte, o Brasil e toda a nossa geração perdem  uma referência intelectual.”

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) recordou que Gushiken deu início ao trabalho de organização que resultaria na Contraf. “Com a morte de Gushiken, o Brasil e toda uma geração de militantes sindicais e lutadores políticos e sociais perdem uma referência intelectual e um símbolo de dignidade.”