Prognósticos

Ciro tem última possibilidade de salvar carreira do ostracismo perpétuo, diz analista

Para cientista político, polarização está dada, terceira via derreteu e Ciro deveria antecipar apoio a Lula

PDT
PDT
Ciro tem oscilado em torno de 6% das intenções de voto e parte de seus votos podem migrar para Lula

São Paulo – “Ciro Gomes tem a última possibilidade de salvar sua carreira política”, afirma o cientista político Paulo Niccoli Ramirez. Para isso, na avaliação do professor da Fundação Escola de Sociologia e Política, o ex-governador do Ceará e pré-candidato do PDT à Presidência da República teria de mover-se para uma aliança de centro-esquerda. Desse modo, se o objetivo do campo progressista é derrotar Jair Bolsonaro, Ciro Gomes deveria, segundo o professor, apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Caso contrário, tende a conduzir sua carreira política para o ostracismo perpétuo.

As recentes pesquisas de intenção de voto retratam pelo menos três tendências de difícil reversão na disputa presidencial. A primeira, o confronto entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) virou segundo turno antecipado. A segunda, a rejeição a Lula, na casa dos 40%, ainda tem espaço para cair – dada a construção de alianças ainda em andamento. Enquanto a rejeição de Bolsonaro, na casa dos 60%, tem pouca chance de cair – dada a incapacidade do governo de fazer a economia reagir. E também de sua postura tida como antidemocrática.

Assim, a terceira tendência apontada pelas pesquisas diz respeito ao pelotão de baixo. Os que disputam o selo de “terceira via”, que nunca conseguiram chegar a dois dígitos, agora apresentam sinais de derretimento para abaixo dos 5%. Nem a elite econômica, nem a imprensa corporativa parecem ter ainda esperança de encontrar um nome capaz de resolver esse problema.

A volta da esquerda ao governo da América Latina – Por José Luís Fiori

A mesma questão posta para Ciro Gomes pode ser dirigida a outros setores da dita “terceira via”. Pois sendo Bolsonaro amplamente rejeitado pela maioria – pelo desastre econômico, pela destruição ambiental e do Estado brasileiro –, apoiá-lo terá alto custo político no futuro.

Nesse sentido, de um lado tendem a crescer os votos decisivos e convictos, ou em Lula, ou em Bolsonaro. Mas de outro modo, os eleitores “nem-nem”, podem fazer aumentar os votos nulos e brancos. Assim, os votos válidos aumentam.

Por exemplo, se Lula tem 40% dos votos totais, Bolsonaro 30% e os nulos e brancos forem 10%, Lula passa a ter 44,5% dos válidos, e Bolsonaro 33,3%. Já se os brancos e nulos forem 15%, os votos válidos para Lula passam para 47%, e os de Bolsonaro para 35,3%. Ou seja, um possível deslocamento – ainda que parcial – dos votos de Ciro Gomes ou Simone Tebet (MDB), seja para brancos e nulos, seja para Lula, poderia levá-lo a uma vitória já no primeiro turno. Hoje, Ciro Gomes e Simone Tebet somam em torno de 8% das intenções de voto.

Centrais entregam pauta de trabalhadores a Lula: ‘O povo voltará a ser feliz’

“A polarização está posta, e dificilmente o Ciro Gomes vai alterar isso. Assim, a situação exigirá cada vez mais o voto consciente. Nesse sentido, os grupos sociais que não veem nem Lula, nem Bolsonaro com bons olhos terão de tomar uma decisão”, observa Paulo Niccoli Ramirez, em entrevista à Rádio Brasil Atual. Seja escolhendo o voto “útil” para um dos lados, seja escolhendo branco ou nulo. Nas últimas quatro eleições presidenciais, os nulos e brancos ficaram em torno de 9%. E as pesquisas têm captado tendências que vão de 7% a 12%. Nas mesmas pesquisas, Lula já aparece com 45% a 51% dos votos válidos em primeiro turno.

“Ainda é cedo para se saber qual será o cenário da distância entre Lula e Bolsonaro, pois vai depender das campanhas e também das batalhas de narrativas nas redes sociais”, diz o analista. Inclusive uma movimentação a se observar será a dos pastores e padres conservadores e sua capacidade de influenciar o eleitorado. “Mas até isso tem limite”, acredita. “Não há Deus que resolva essa crise. O que resolve são decisões políticas, e decisões políticas são humanas.”


Leia também


Últimas notícias