Eleições 2022

Chapa Lula-Alckmin: sociedade cansou de crise e clama por país estável, afirma analista

Professor de Ciência Política diz que Alckmin serve para “destravar” resistência a Lula entre as elites, além de dar um “empurrãozinho” em votos

Cleber Bonatti/Ricardo Stuckert
Cleber Bonatti/Ricardo Stuckert
"Lula está fechando acordos que vão desde o Psol ao Alckmin", disse analista

São Paulo – O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin se filiou ao PSB nesta quarta-feira (23), pavimentando o caminho para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições deste ano. Ele não poupou elogios ao líder petista, dizendo que é quem melhor representa a “esperança do povo”. Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Josué Medeiros, a chapa Lula-Alckmin apontaria para um governo de “reconstrução nacional”. Por outro lado, ele destaca que a sociedade brasileira clama por um período de estabilidade. “Ninguém aguenta mais crise econômica nem crise social. Basta andar pelas cidades para ver o que está acontecendo com o povo pobre. Ninguém aguenta mais crise política. O próprio empresariado começa a perceber que essa situação é disfuncional.”

“Acredito que a gente vai ter, em 2023, caso Lula e Alckmin vençam as eleições, um governo de reconstrução nacional. Reconstrução econômica, social e das instituições políticas”, disse ele em entrevista a Rodrigo Gomes, para o Jornal Brasil Atual nesta quinta-feira (24).

De acordo com o especialista, Lula está construindo uma espécie de “frente ampla” para derrotar o bolsonarismo. “Muitos afirmavam que não seria possível uma frente ampla com partidos de centro-direita. Mas o Lula, percebendo isso, atraiu uma liderança da centro-direita para um partido de centro-esquerda, que é o PSB”, diz.

Risco de golpe?

Ele também acredita que Alckmin sirva para destravar “vetos das elites” a Lula. O ex-governador tem bom trânsito entre os setores empresariais e do agronegócio. Seu nome também garantiria maior “estabilidade” a um eventual novo governo. Além disso, Lula está entusiasmado com a possibilidade de Fernando Haddad vencer a eleição para governador de São Paulo.

Nesse sentido, Medeiros destacou também costuras do PT à esquerda. No início da semana, Guilherme Boulos (Psol) retirou sua candidatura ao governo de São Paulo para apoiar Haddad, e também Lula, já no primeiro turno. Em contrapartida, devem ter apoio em 2024, na disputa pela prefeitura de São Paulo.

O professor observa que Lula e Bolsonaro viraram “esponjas” de voto. Ou seja, concentram a preferência de grande parte do eleitorado já no primeiro turno, segundo as pesquisas. “Essa eleição pode ser decidida por uma pequena margem já no primeiro turno. Nesse sentido, uma aliança com alguém como Alckmin pode ser aquele empurrãozinho final, de 3 pontos ou 4.”

O entrevistado não acredita que Alckmin possa repetir a traição de Michel Temer, que conspirou para a derrubada da então presidenta Dilma Rousseff. Mas disse que há risco de novas tentativas de desestabilização. “O risco é real, no entanto, na medida em que nossas instituições, desde o golpe de 2016, estão em frangalhos. E a vitória de Bolsonaro confirmou isso, construída a partir da prisão ilegal de Lula. Depois, com tudo o que o Bolsonaro fez, nossas instituições só derreteram.”

Confira a entrevista