Risco à democracia

Senadores se mobilizam para reeleger Rodrigo Pacheco à presidência do Senado

Senadores Humberto Costa, Randolfe Rodrigues, Eliziane Gama e a ministra Simone Tebet apoiam campana de Pacheco, para evitar que o candidato de extrema direita Rogério Marinho faça a Casa retroceder ao bolsonarismo

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
Eleição de Marinho para presidir o Senado dará combustível à ideia bolsonarista de impeachment de ministros do STF

São Paulo – Há uma “narrativa” divulgada por bolsonaristas segundo a qual a disputa entre os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela presidência do Senado não tem relação com o 8 de janeiro, dia do ataque a Brasília. Essa versão ganhou reforço com a adesão do senador Alessandro Vieira (SE), que deixou o Cidadania para se filiar ao PSDB. Segundo o tucano, apontar Marinho como representante dos golpistas que invadiram a sede dos Poderes é “equivocado”. A definição dos novos presidentes do Senado e da Câmara será amanhã.

Não é o que acham alguns experientes colegas de Vieira no Senado. Humberto Costa (PT-PE), por exemplo, é enfático ao defender o voto em Rodrigo Pacheco. “Não podemos permitir que os que jogaram o Brasil no atraso queiram agora presidir um dos mais importantes poderes da República”, escreveu o senador no Twitter.

Colega de Humberto na CPI da Covid, da qual foi vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) fez a defesa da candidatura de Pacheco dizendo que o senador “é uma candidatura pela Democracia”. Segundo Randolfe, como presidente do Senado durante o governo de Jair Bolsonaro, Pacheco “foi essencial para demonstrar a força do parlamento contra o golpismo. Agora o seu papel será fundamental para a reconstrução do país”.

Rogério Marinho é bolsonarista, sim

Não há como desvincular a candidatura à presidência do Senado de Rogério Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro, da invasão golpista e ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8, na medida em que sua eventual eleição dará combustível à ideia bolsonarista de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, sobretudo Alexandre de Moraes, entre outras pautas.

Cabe ao presidente do Senado avaliar se uma denúncia contra um ministro do STF é cabível. Marinho sempre foi muito próximo de Bolsonaro e de sua agenda. A eleição dele é também considerada essencial para o bolsonarismo respirar depois das consequências desastrosas que sofreu após o 8 de janeiro. Por isso, de seu refúgio na Florida, o ex-presidente está atuante na tentativa de ganhar votos para o aliado.

Fake news?

O adversário de Pacheco – lembra Humberto Costa – chegou a tentar desqualificar o estudo segundo o qual o Brasil tem cerca de 33 milhões de pessoas passando fome. Segundo Marinho, trata-se de uma “fake news repetida pela esquerda”. Marinho deu tal declaração em uma live no canal do YouTube do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ). É uma evidente mentira.

“Não podemos deixar que alguém que ignora as mazelas do povo brasileiro e despreza a fome ocupe a presidência do Senado”, enfatizou Humberto Costa em suas redes sociais.

Também ex-integrante da CPI da Covid, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou nesta terça (31) que é a eleição de Pacheco é “fundamental para o fortalecimento da democracia”. O mandato de Tebet no Senado termina nesta quarta (1°), quando tomam posse os parlamentares da nova Legislatura. “A estabilidade econômica passa pela estabilidade institucional”, afirmou ela, após encontro na Febraban.

Outra senadora que se destacou na CPI da Covid, a senadora Eliziane Gama anunciou que deixou o Cidadania e se mudou ao PSD. Em post no Twitter no qual marcou Pacheco, o senador Otto Alencar (PSD-BA), Gilberto Kassab e o ministro da Justiça, Flávio Dino, ela escreveu: “Vamos juntos melhorar nosso país”.

Na opinião do consultor e analista político Antônio Augusto de Queiroz, Pacheco deve ter ao menos 45 votos e vencer a disputa. Segundo Queiroz, Marinho une os votos do bolsonarismo e do lavajatismo (leia mais aqui). Para se eleger presidente da casa, são necessários 41 votos. Caso não haja vencedor em uma primeira votação, a decisão vai para segundo turno.

Time extremista

Marinho é uma das novas vozes da extrema-direita bolsonarista no Senado, que chega à casa junto com Damares Alves (Republicanos-DF), Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o ex-juiz Sergio Moro (União-PR) e o “astronauta” Marcos Pontes (PL-SP), que se somam a Flávio Bolsonaro (PL-RJ), eleito em 2018, entre outros menos conhecidos ou importantes.