insensibilidade

Governo Bolsonaro recusa ajuda humanitária da Argentina à Bahia

País vizinho ofereceu envio de profissionais especializados em água, saneamento e logística

Camila Souza/GOVBA
Camila Souza/GOVBA
Chuvas que atingiram o sul da Bahia: vidas perdidas, além de consequências graves para quem perdeu casa, objetos e meios de sobrevivência

São Paulo – O governo de Jair Bolsonaro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, negou, na noite da última quarta-feira (29), autorização para envio de ajuda humanitária da Argentina às cidades da Bahia afetadas pelas fortes chuvas. O pedido havia sido feito pelo governador Rui Costa (PT), mas o Itamaraty dispensou o auxílio.

De acordo com o portal G1, que teve acesso ao documento do Ministério das Relações Exteriores enviado à embaixada da Argentina, o governo federal argumenta que os recursos pessoais e financeiro são suficientes, com reserva de R$ 200 milhões para enfrentar a emergência em cinco estados.

“Na hipótese de agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o Governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio da Comissão Capacetes Brancos, cujos trabalhos são amplamente reconhecidos”, diz trecho do documento enviado pelo ministério à Argentina.

De acordo com o governo baiano, o país vizinho ofereceu envio imediato de profissionais especializados nas áreas de água, saneamento, logística e apoio psicossocial para vítimas de desastres. “Com a união de esforços, vamos superar este difícil momento. Agora, a missão argentina aguarda a autorização do Ministério das Relações Exteriores para que possam vir à Bahia. Agradeço aos argentinos e peço ao Governo Federal celeridade na autorização para a missão estrangeira”, escreveu Rui Costa, antes da recusa do governo Bolsonaro à missão estrangeira.

Desumanidade

As chuvas que atingiram o sul da Bahia já deixou 24 mortos. De acordo com a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), 91.258 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas e outras 629.398 foram afetadas diretamente pela chuva. O número de feridos aumentou de 358 pessoas para 434. Ao todo, 136 cidades estão sob decreto de situação de emergência.

A recusa do governo Bolsonaro à ajuda internacional foi duramente criticada. O infectologista Gerson Salvador lembrou que a mesma gestão federal havia dispensado, no começo deste ano, o envio de oxigênio por parte da Venezuela, durante a crise de covid-19 em Manaus. “O governo Bolsonaro não permite que a Argentina envie ajuda humanitária para a Bahia, como já tinha boicotado o envio de oxigênio da Venezuela para Manaus. É o governo da morte: pode ser vírus, fome, bala, abandono de brasileiros em catástrofes, se tiver morte pra eles está bom”, tuitou.

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) lembrou que o presidente da República segue omisso em relação às enchentes na Bahia, pois está de férias no litoral de Santa Catarina. “Bolsonaro não tem tempo para visitar o sul da Bahia porque está de férias, pescando e andando de jet-sky, mas tem tempo o suficiente para impedir, com uma canetada, a ajuda humanitária vinda da Argentina. A prioridade do presidente não é com o povo, é com a morte”, criticou.

O próprio governador da Bahia criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação às enchentes que castigaram o sul do estado nos últimos dias. “Durante três anos, em nenhum momento, em nenhum outro desastre, na pandemia, ou em qualquer situação que significasse prestar solidariedade à vida humana ele fez qualquer gesto. É um presidente que não demonstra nenhum sentimento em relação à dor do próximo”, disse Rui Costa sobre Bolsonaro, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada nesta quinta-feira (30).