Aposta no tumulto

Bolsonarismo quer CPI para apurar fatos que já são investigados no STF

Deputado André Fernandes, investigado no Supremo por convocar invasão de Brasília em 8 de janeiro, é autor de requerimento por uma CPMI

Reprodução/TV Senado
Reprodução/TV Senado
Prédio do Supremo Tribunal Federal, onde centenas de golpistas são investigados, foi o atacado com maior fúria na invasão

São Paulo – Há no momento duas propostas de criação de comissões parlamentares de inquérito (CPI) para apurar os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro. Principal entusiasta da investigação, a oposição bolsonarista pressiona o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pela imediata instalação de uma comissão.

Na segunda-feira (27), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu a Pacheco que enviasse, em até 10 dias, informações sobre a criação da CPI. Esse tipo de pedido é protocolar. De acordo com o senador, a leitura do requerimento para a CPI ser instalada ainda não foi feita porque a coleta de assinaturas pela criação do colegiado ocorreu na legislatura anterior, encerrada em 31 de janeiro. Assim, é necessário um novo documento, elaborado pela legislatura, alega.

O requerimento mais avançado na tramitação foi apresentado logo após o terrorismo em Brasília de 8 de janeiro pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS). Ela reuniu assinaturas de 38 senadores atualmente em exercício. O documento superou com folga o mínimo exigido, que é de 27 signatários. A senadora Soraya se elegeu em 2018 na onda bolsonarista. Depois, no decorrer da CPI da Covid, criticou duramente o governo Bolsonaro, pelo negacionismo do então presidente e aliados, e se afastou dele.

Requerimento de um bolsonarista típico

Já o outro requerimento comprova cabalmente que a base bolsonarista no Congresso está empenhada na criação de uma CPI. O autor do pedido de uma comissão mista (CPMI) é o deputado André Fernandes (PL-CE), um bolsonarista radical. Para os governistas, tal iniciativa é em si mesma suspeita, considerando que Fernandes é um dos parlamentares investigados no inquérito do STF sobre os autores políticos e intelectuais do 8 de Janeiro.

Fernandes consta das investigações por vídeos publicados no Twitter, que divulgou com dois dias de antecedência, convocando “ato contra o governo Lula”. Neles, promete que estaria presente. Depois dos atos terroristas, postou imagem da porta de um armário vandalizado do STF, com o nome do ministro Alexandre de Moraes e a legenda: “Quem rir vai preso”.

Como deputado estadual, Fernandes foi condenado em 2021 pela Justiça de São Paulo a indenizar a jornalista da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello em R$ 50 mil após acusar a profissional de oferecer sexo em troca de informações contra Bolsonaro.

Lula é contra

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já respondeu objetivamente, em janeiro, em entrevista a Natuza Nery, da GloboNews, ser contra a CPI do 8 de Janeiro. “Nós temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu”, disse. “Uma comissão de inquérito pode não ajudar e ela pode criar uma confusão tremenda. Nós não precisamos disso agora”, acrescentou.

Para Lula e aliados, uma CPI hoje só daria palanque ao bolsonarismo e tiraria o foco do Congresso e mesmo da imprensa das reformas que o governo quer desencadear, a começar da tributária.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), tem defendido posição semelhante a Lula. Para ele, as investigações estão em andamento e centenas de pessoas que atacaram Brasília estão presas. Então, para quê uma CPI senão para servir de palco aos seguidores do ex-presidente hoje refugiado nos Estados Unidos?

Ontem, deputados bolsonaristas fizeram um ato para pressionar o senador Rodrigo Pacheco, ostentando cartazes com a frase “Justiça aos inocentes”, em defesa dos presos. Participaram dessa manifestação “democrática” deputados como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Carlos Jordy (PL-RJ), o agitador Marcos do Val (Podemos-ES) e outros.

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