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Atuação da juíza Gabriela Hardt amplia suspeitas de Lula sobre Moro

Para grupo Prerrogativas, participação da juíza “corta-cola-copia” reforça dúvidas sobre momento da deflagração da operação contra criminosos que, supostamente, pretendiam atingir Moro

Reprodução/Redes Sociais
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Ministro Paulo Pimenta e cúpula da PF também criticaram a juíza por suspender sigilo da operação

São Paulo – A atuação da juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba, reforça suspeitas de uso político da operação da Polícia Federal (PF) que desbaratou planos do PCC para atacar autoridades. Entre os alvos, estariam o senador Sergio Moro (União-PR). De acordo com as investigações, a organização criminosa estaria planejando sequestrar e assassinar o ex-juiz e seus familiares.

No entanto, chama a atenção o timing das decisões da juíza, que ficou conhecida por agir em consonância com os interesses de Moro, desde que atuou como sua substituta na Lava Jato. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse se tratar de mais uma “armação” do seu ex-perseguidor. “Vou pesquisar e vou saber o porquê da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer”, disse Lula.

Nesta sexta-feira (24), o grupo de juristas Prerrogativas soltou nota endossando as suspeitas do presidente. “Nós sabemos o que o Moro fez no verão passado. Natural, pois, que haja suspeitas sobre o seu comportamento neste episódio”, afirma o grupo, de acordo com a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.

“No mais, a participação da juíza ‘corta-cola-copia’ é mais um elemento de reforço para as dúvidas lançadas exclusivamente sobre o momento da deflagração da bem-sucedida operação em questão”, acrescentam os juristas. Isso porque na decisão condenou Lula o caso do sítio de Atibaia, Gabriela copiou na íntegra trechos inteiros da sentença do caso do chamado triplex do Guarujá, emitida anteriormente por Moro. Ambos os processos foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

As coincidências

As investigações contra o PCC estavam em curso desde agosto do ano passado. Com autorização da juíza, a operação foi deflagrada na última quarta-feira (22). Um dia antes, Lula afirmou em entrevista ao site Brasil 247 que, enquanto esteve preso em Curitiba, queria se vingar das injustiças cometidas por Moro, e chegou a falar no desejo de “foder” com o ex-juiz.

A sincronia dos eventos voltou a se repetir. Ontem, após Lula falar em “armação”, a juíza retirou o sigilo de documentos e decisões relacionados à prisão de suspeitos de planejar ataques contra autoridades. O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, reagiu.

Ontem, o ministro já havia destacado que Lula “em nenhum momento” questionou o mérito da investigação, “até porque foi conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça”. Nesse sentido, ele esclareceu que o presidente questionou “o conjunto de coincidências, fatos que acabam trazendo de volta toda uma memória sobre o método que foi utilizado contra ele (na Lava Jato). Muitas vezes, são os mesmos personagens”.

De acordo com a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, a decisão de Gabriela Hardt de levantar o sigilo sobre a operação “irritou quadros do alto escalão da Polícia Federal”. Os investigadores afirmam que a juíza expõe a investigação que ainda segue em curso e técnicas da PF em um tema sensível, como o combate às facções criminosas.

Lavajatismo

Desse modo, Gabriela parece ressuscitar os métodos lavajatistas, quando as operações eram vazadas à imprensa tradicional como forma de pautar o debate político, de acordo com os interesses dos envolvidos na operação. Moro, por exemplo, vazou um grampo ilegal da então presidenta Dilma Rousseff um dia antes de Lula tomar posse como ministro da Casa Civil, em 2016. Dois dias depois, a sua nomeação foi derrubada pelo ministro Gilmar Mendes, com base no grampo de Moro.

The Intercept atacado

Além disso, o jornalista Marc Sousa, coordenador de jornalismo da Jovem Pan no Paraná e afiliado do R7, utilizou documentos da operação que Gabriela Hardt tornou públicos para atacar o site The Intercept Brasil. Ele procurou o veículo para questionar sobre supostas doações do PCC. Em nota, The Intercept negou qualquer relação com o PCC e disse que nenhum dos 17 nomes apontados no inquérito consta na base de apoiadores do veículo.

A negativa, no entanto, não foi incluída na matéria da Jovem Pan, que foi corrigir o material somente após protesto dos editores do The Intercept. “O autor afirma que procurou o Intercept e ‘não teve resposta’. É uma mentira intencional ou uma falha grosseira dos padrões jornalísticos, se não ambos. Somente após uma conversa no WhatsApp, na qual exigimos que nossa resposta fosse publicada, o texto foi atualizado com nosso posicionamento.”, afirmaram, em nota.

Foi o The Intercept, a partir da série de reportagens da Vaza Jato, que desmontou definitivamente a farsa da Lava Jato. As conversas secretas entre Moro e os procuradores revelaram o conluio montado para prender Lula, de modo a retirá-lo da disputa eleitoral em 2018, evitando, assim, a volta do PT ao poder.

Os editores frisam ainda que Gabriela Hardt havia prometido processar quem divulgasse suas mensagens na época da Vaza Jato. No entanto, levantou o sigilo de documentos que dão vazão a teorias infundadas que circulam na esfera bolsonarista e lavajatista, de que o The Intercept atuaria em conluio com organizações criminosas.


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