Operação Sequaz

Presidente questionou ‘coincidências’ de investigação envolvendo Moro, afirma Pimenta

Ministro da Secom disse que Lula em nenhum momento questionou a investigação, “até porque foi conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça”

Tânia Rêgo/Agência Brasil
Tânia Rêgo/Agência Brasil
No Rio de Janeiro, Lula falou em "armação" sobre operação contra criminosos que queriam matar Moro

São Paulo – O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, afirmou nesta quinta-feira (23) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não questionou a Operação Sequaz, da Polícia Federal, que desbaratou planos do PCC para atacar autoridades. De acordo com a investigação, entre os alvos dos criminosos estaria o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Mais cedo, Lula comentou o episódio envolvendo o ex-juiz e ex-ministro.

“Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro”, disse Lula, levantando suspeitas sobre o ex-juiz da Lava Jato e seu perseguidor.

Para Pimenta, o presidente “em nenhum momento questiona a investigação, até porque foi conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça”. Conforme o ministro, Lula questionou “o conjunto de coincidências, fatos que acabam trazendo de volta toda uma memória sobre o método que foi utilizado contra ele (na Lava Jato). Muitas vezes, são os mesmos personagens”.

Isso porque a divulgação da operação pela PF ocorreu um dia depois da entrevista de Lula ao site Brasil 247, quando revelou que chegou a sentir desejo de vingança contra Moro, no tempo que passou preso injustamente em Curitiba, num total de 580 dias . Ele citou “muita mágoa” pelas mortes do neto Arthur Lula da Silva, de 7 anos, e do seu irmão Vavá, durante a sua prisão. Nesse período, Lula relatou que recebia visitas de procuradores, que queriam saber se estava “tudo bem”. “Só vai estar bem quando eu foder esse Moro”, contou.

As coincidências

Moro reagiu, se disse “chocado”, e provocou, dizendo que o ex-presidente teria tinha aprendido “linguajar de cadeia”. No dia seguinte à entrevista, a operação da PF é deflagrada. A juíza federal Gabriela Hardt, outra com histórico contra Lula durante a Lava Jato, foi a responsável pela ordem de prisão dos integrantes do PCC que teriam planos para atacar autoridades, inclusive Moro. Nove pessoas foram presas.

No entanto, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contou, em entrevista ao portal UOL, que as investigações contra o PCC estavam em curso desde agosto do ano passado. Além disso, Moro foi avisado das ameaças contra ele ainda em março.

Por outro lado, Gabriela Hardt substituiu Moro na Lava Jato, quando ele pediu exoneração do cargo de juiz para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ela inclusive condenou Lula no caso do sítio de Atibaia. O caso ficou conhecido também porque, na decisão, ela copiou na íntegra trechos inteiros da sentença do caso do chamado triplex do Guarujá, emitida anteriormente por Moro. Ambos os processos foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Assim, não é de hoje a “tabelinha” entre Moro e Gabriella, os “mesmos personagens” a que Pimenta se refere. Além disso, apesar de o noticiário afirmar que as razões do PCC seriam a transferência de Marcola – líder do grupo – para um presídio federal, falta esclarecer o que a organização “ganharia” com a morte ou o sequestro do ex-juiz.

Manipulação política

Ao mesmo tempo, as redes bolsonaristas passaram a distribuir fake news, ao estabelecer relações falsas entre o PCC e o PT, tentando faturar com o episódio. Em resposta, o ministro Flávio Dino lamentou o uso político da operação, e enalteceu a atuação “republicana” da PF. “O que nós fizemos foi, cumprindo a lei, proteger a vida do nosso adversário”, disse o ministro. Do mesmo modo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou como “mau-caratismo” a tentativa de Moro de politizar a questão.

Após Lula citar a suspeita de “armação”, o senador voltou à carga. “Não posso admitir que o presidente da República, o maior magistrado do país, trate um assunto dessa severidade e dessa gravidade dando risada e mentindo à população brasileira, sugerindo que poderia ser, de alguma forma, uma armação feita da minha parte”, disse Moro em entrevista à CNN Brasil.