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‘A sociedade começou a andar’, diz Lula sobre os atos #19J de sábado

Ex-presidente considera mobilização um movimento da sociedade democrática e dá a entender que não comparecerá para não ser acusado de transformar ação espontânea do povo em ato político

Reprodução / YouTube
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Momento agora é de construção de conversas entre os campos políticos

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as manifestações do próximo sábado (19) contra o governo Bolsonaro, os atos #19J, são uma convocação da sociedade “para protestar contra o desgoverno e contra o genocídio”. Os atos estão marcados para pelo menos 319 cidades em todo o país. “A sociedade começou a andar”, acrescentou o ex-presidente, que não deve comparecer. “Minha participação não pode ser explorada pelos meios de comunicação, de que o Lula manipulou o ato e virou uma peça de campanha.”

Lula falou em entrevista ao vivo para o Pan News em Revista Natal, nesta quinta-feira (17). Lembrou da preocupação entre os manifestantes com medidas de precaução nos atos #19J. “Todo mundo usa máscara, a maioria está com álcool em gel. Embora estejam nas ruas, as pessoas gostam de suas vidas e estão se protegendo. Uma diferença substancial com o ato do presidente, que não usa máscara e nega efetivamente a vacina como solução. Nós queremos construir o Brasil e ele que destruir o Brasil.”

Inocentes

No programa, o presidente foi muito questionado sobre eleições – sobre uma terceira via de uma maioria silenciosa – além de polarização e candidatura. Sobre a suposta maioria silenciosa, brincou. “Em política vale tudo, menos ser inocente. Não existe essa tal dessa maioria silenciosa”, disse, acrescentando ter sido o empresário Guilherme Afif Domingos o criador da expressão na campanha presidencial de 1989. “Ele dizia que a maioria silenciosa ia votar nele e a maioria silenciosa apareceu no segundo turno votando em mim, votando no (Fernando) Collor.”

Lula foi lembrado sobre almoço recente entre partidos de um campo em busca da terceira via. Respondeu que o país precisa ter partidos políticos com base real na sociedade. “O que nós temos é um conjunto de cooperativas de deputados”, que se juntam para uma eleição. Acrescentou ser um dos que defende que partidos coloquem nomes na corrida presidencial: “Todo mundo colocar a cara, pedir voto e depois a gente valorizar o povo. Escolhe os dois melhores, que vão disputar o segundo turno e um vai virar presidente da República. Esse é o jogo democrático”. “Cada partido político devia ter direito e a honradez de lançar um candidato a presidente da República, ponto!”

Polarização

O ex-presidente afirmou não haver polarização ideológica hoje no país. “É uma polarização entre a sociedade brasileira democrática e uma pequena parte de milicianos que servem ao Bolsonaro”, diz. “Hoje tem um fascista no poder, um genocida, que mente todo santo dia”, lutando contra a democracia. “Um cidadão que usa a fake news. O prazer dele é contar mentira, fazer provocação, desrespeitar as pessoas. E lamentavelmente ainda tem uma parcela da sociedade, que não é maioria, graças a Deus, que concorda com esse tipo de bobagem que ele fala.” Acrescentou que o presidente tem de se comportar com respeito à sociedade e às pessoas. “Nada mais é que o síndico de uma nação.”

Ainda assim, lembrou que disputou diversas eleições polarizadas. “A sociedade não é estática, um poste fincado na areia, ela se move. E é por isso que tem campanha. Pra gente tentar comover as pessoas com suas ideias e tentar conquistá-las. Eu prefiro uma eleição polarizada a uma eleição apática”.

Temos de conversar

Em seus movimentos políticos, Lula disse que procura pessoas que querem construir um programa para consertar o Brasil. “Eu vou procurar as pessoas para conversar, porque eu acho que em um país democrático e civilizado, as pessoas quando disputam uma eleição são apenas adversários momentâneos”, diz. “Temos de conversar. Hoje, nós temos um presidente da República que não tem demonstrado ser civilizado, que não respeita a ciência, não respeita a medicina, não respeita negros, LGBT, a universidade. É um destruidor das coisas. Não tem relação internacional, ninguém quer conversar com ele. O Brasil só não está mais isolado por causa das commodities”, afirmou.

Teto de Gastos

A ampliação do Bolsa Família foi abordada em confronto com o teto de gastos, e Lula foi incisivo ao dizer que vai revogar a regra. “A quem interessa o teto de gastos? Ao sistema financeiro, aos banqueiros? O teto de gastos não pode existir em um país que tem os compromissos com o povo que o Brasil tem de ter. Tem de parar de confundir investimento no pobre com gasto. Quando você pega um bilhão e dá pra um rico é investimento, nem sabe se ele vai investir corretamente. Quando pega R$ 300 e dá pra um pobre é gasto. Não é gasto investir na educação. Gasto é quando você investe dinheiro e não tem retorno. E num ativo como a cisterna ele traz qualidade de vida, benefícios para a população. O salário traz poder de compra. Nós vamos revogar o teto de gastos. É importante todo o eleitor saber.”

CPI e Economia

A CPI da Covid, no Senado, também foi assunto no programa, e Lula disse que a comissão tem de fazer o trabalho da forma mais justa possível, sem pressa. “Eu não sou daqueles apressados.” Foi perguntado, mais de uma vez, sobre candidatura, e voltou a dizer que agora é o momento de outras lutas, como aumento do auxílio emergencial, crédito aos pequenos empresários e investimento em infraestrutura. “Para que eu seja candidato é preciso que os partidos queiram, que o meu partido queira, que eu esteja muito bem de saúde, porque eu não vou brincar com o povo brasileiro, e é preciso a construção de um leque de apoios nos estados.”

O ex-presidente falou sobre economia local e lamentou a perda de quase R$ 4 bilhões em investimentos da Petrobras no Rio Grande do Norte. “Estão tentando privatizar tudo o que existe da Petrobras no Rio Grande do Norte”, disse. “Pode perder até mais de 100 mil empregos no estado”, acrescentou.