Quebra-quebra

Após atos de vandalismo, Bolsonaro atinge o pior nível de popularidade nas redes dos últimos quatro anos

Monitoramento digital da Quaest mostra que os atos golpistas atingiram a credibilidade de Bolsonaro e da oposição ao novo governo, associados ao vandalismo que depredou Brasília

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Os itens foram apropriados de forma irregular por Bolsonaro. Joias suíças encravadas de diamantes e armas do Oriente Médio

São Paulo – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atingiu o menor nível de popularidade na internet dos últimos quatro anos, após os atos de vandalismo de seus apoiadores ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesse domingo (8). É o que revela o Índice de Popularidade Digital (IPD), calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest, e divulgado nesta terça-feira (10) pelo jornal Folha de S. Paulo. 

De acordo com o indicador, Bolsonaro registrou nessa segunda (9) a marca de 21 pontos, numa escala que varia de 0 a 100. Sendo que no sábado (7), um dia antes da ação dos vândalos, seu desempenho estava na casa dos 40 pontos. O IPD é calculado por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia Google. Nessa métrica, são consideradas a fama (número de seguidores), o engajamento (comentários e curtidas por postagem), a mobilização (compartilhamentos), a valência (proporção de reações positivas e negativas) e o interesse (volume de buscas). 

Até então, o pico da popularidade do ex-presidente havia sido em 7 de outubro do ano passado, entre o primeiro e o segundo turno. Na época, Bolsonaro chegou a 88,1 pontos. Sua melhor perfomance desde que o IPD passou a ser medido diariamente, em janeiro de 2019. A queda, contudo, sinaliza que o saldo dos atos terroristas foi negativo para o ex-mandatário em terreno que lhe é caro, o virtual. 

Em queda desde a derrota

“Se o objetivo das manifestações era atingir a governabilidade do presidente Lula, o que aconteceu foi que os atos atingiram a credibilidade do bolsonarismo, dificultando o trabalho da oposição, já que ela está sendo associada àqueles eventos”, destacou o diretor da Quaest, Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e cientista político. 

O histórico do IPD também mostra que a popularidade de Bolsonaro nas redes já vinha em queda desde sua derrota para o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apenas nos primeiros dias de mandato, Lula teve 70 pontos no monitoramento digital, enquanto o ex-presidente seguiu numa média de 40 pontos. De acordo com o pesquisador ao jornal, perder a influências nas redes sociais “é uma derrota significativa para Bolsonaro”, que ascendeu e se estabeleceu a partir da agitação nesse ambiente. 

A queda, ainda segundo Nunes, revela um racha na base bolsonarista e incerteza sobre o seu potencial mobilizador. O especialista avalia que a postura dúbia de Bolsonaro, que se calou por semanas após a derrota nas urnas e só voltou a falar para, de maneira indireta, insuflar ainda mais seus seguidores a acirrar atos antidemocráticos, além da viagem para os Estados Unidos antes do término do mandato, dividiram o capital político do ex-presidente no espaço digital. 

Associação ao terrorismo

O monitoramento identifica que Bolsonaro se desidratou principalmente no quesito valência. Nesse caso, há mais comentários negativos sobre ele do que positivo. “E também porque ele não consegue, ou não quer, produzir uma articulação mais coordenada. Em resumo, ele perde um ativo que foi importantíssimo para ele na Presidência da República”, destaca o diretor da Quaest. 

“A base bolsonarista hoje está rachada, e dividir a base resulta em perda. Todas as vezes ao longo da campanha eleitoral que Bolsonaro radicalizou o discurso, a popularidade caiu. Agora, com seu nome associado aos eventos em Brasília, ele acaba prejudicado na seara digital”, conclui o pesquisador. 


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