Aliança com Gabeira garante palanque para Serra no RJ, mas inaugura primeira crise do “novo PV”

Aliança em torno de Fernando Gabeira se consolida a cada dia (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr) Rio de Janeiro – A árdua luta para garantir um palanque no Rio de Janeiro […]

Aliança em torno de Fernando Gabeira se consolida a cada dia (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Rio de Janeiro – A árdua luta para garantir um palanque no Rio de Janeiro ao candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, já provoca uma reacomodação das forças políticas de direita no estado. Testado com sucesso pelo bloco PSDB/DEM/PPS nas eleições municipais de 2008, quando chegou ao segundo turno na capital, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) parece ser o nome mais forte para enfrentar o governador Sérgio Cabral (PMDB) em sua tentativa de reeleição. No entanto, a decisão do PV de lançar a pré-candidatura da senadora Marina Silva à Presidência deixou em crise verdes e tucanos no Rio.

O pano de fundo desta crise é a aparente falta de unidade nos objetivos da atual direção do PV. Ao contrário de Gabeira e da corrente comandada pelo presidente regional do partido, Alfredo Sirkis, que defendem a aliança com Serra ainda que isso aconteça em um eventual segundo turno, o grupo que saiu do PT com Marina para ingressar no PV não vê com simpatia esta adesão imediata à candidatura tucana. Enquanto o “novo PV” não sai do campo das idéias, o que aconteceu na prática política é que um setor do partido dialogava com o PSOL de Heloísa Helena ao mesmo tempo em que outro setor conversava com Serra.

Reuniões realizadas nos últimos dez dias fizeram com que prevalecesse a visão do grupo majoritário do PV. Após algumas idas e vindas _ ora dizia que disputaria vaga no Senado ora a reeleição na Câmara _ Gabeira declarou publicamente que concorrerá mesmo ao Governo. Após conversas com Serra e com o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, o deputado verde foi convencido de que o apoio do bloco de direita agregará à sua candidatura o tempo de exposição necessário para tornar a vitória um sonho possível: “As chances são grandes. Eu teria cerca de seis minutos de propaganda diária na tevê”, disse Gabeira.

O declarado apoio do PSDB à candidatura Gabeira, claramente associado à busca por um palanque para Serra no Rio, causaram mal-estar no grupo ligado à Marina. Este grupo, em sua maioria, é formado por ex-petistas que não cogitam colocar em seu currículo, ao menos por enquanto, o fato de ter subido em um palanque de apoio a Serra. Mesmo após reafirmar seu apoio a Gabeira, a própria senadora manifestou preocupação: “Agora, nos caberá debater como vamos viabilizar isso. A questão prioritária é que não tenhamos aí uma ambigüidade, para não entrar em contradição com o projeto nacional”, disse Marina.

O fato é que o PV ainda não apresentou um projeto nacional e a aliança do campo PSDB/PPS/DEM em torno de Gabeira se consolida a cada dia. Os tucanos já teriam até escolhido um nome _ o ex-deputado federal Márcio Fortes _ para ser o vice na chapa encabeçada pelo candidato do PV. Fortes, que foi secretário-geral do PSDB durante boa parte do governo FHC, se reuniu na terça-feira (26) em São Paulo com Serra para acertar as bases do acordo político.

Palanque do vice

O principal ponto do acordo entre verdes e tucanos, que é garantir um palanque para José Serra no Rio, foi equacionado de forma curiosa. Ficou decido que Gabeira receberá apenas Marina Silva em seu palanque, enquanto Serra subirá no palanque do vice, que será do PSDB, e dos candidatos ao Senado do mesmo campo político.

Poderia ser um acordo desvantajoso para Serra, não fosse o principal desses candidatos ao Senado o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), favorito a levar uma das duas cadeiras que estarão em disputa. Aliado de Serra, ultimamente Cesar andava melindrado com a pressão que vinha sofrendo para, em caso de desistência de Gabeira, se candidatar ao Governo e garantir um palanque forte para o tucano. A idéia de trocar uma eleição quase certa para o Senado por uma derrota quase certa para Cabral irritou o ex-prefeito a ponto de ele passar um pito público no filho Rodrigo, presidente do DEM.

A reviravolta do PV, no entanto, reacomoda o campo político da direita no Rio. A candidatura de Cesar ao Senado funcionará na prática como uma candidatura ao Governo, dando a Serra já no primeiro turno o palanque que ele precisava no Rio. No inédito acordo, Gabeira deixará seu vice subir em outro palanque e, em troca, receberá preciosos minutos de exposição na propaganda política. No segundo turno, onde todas as forças desse campo político esperam que estejam Serra e também Gabeira, os dois candidatos subirão no mesmo palanque para enfrentar respectivamente a dupla Dilma Rousseff (PT) e Sérgio Cabral (PMDB).

PSOL fora

A primeira conseqüência concreta do pragmatismo verde no Rio foi a decisão do PSOL de não mais apoiar a candidatura de Marina Silva à Presidência, anunciada em nota oficial do partido. Principal nome do PSOL no estado, o deputado federal Chico Alencar foi didático: “Um dos pontos fundamentais do acordo era construir uma candidatura da Marina que estivesse fora de um acordo com o PSDB. A relação do PSOL com o PSDB é como água e azeite”, disse.

Por mais que ninguém admita abertamente, a decisiva aproximação entre Gabeira e Serra e o afastamento do PSOL da candidatura presidencial desagradam à boa parte do grupo que saiu com Marina do PT e pode ter reflexos no que será de fato o “novo PV”. Diante do evidente desconforto, Alfredo Sirkis ao menos achou um ótimo slogan de campanha: “A Marina não está à esquerda ou à direita da Dilma. Está à frente!”, disse o vereador. O tempo e a campanha dirão se estas palavras se justificam.