Cadê?

Aguardado por gestores, trabalhadores e estudantes, Alckmin ignora debate sobre saúde

Representantes de vários setores lotaram auditório à espera de cobrar governador por falta de água, de investimentos e de diálogo. Mais uma vez, saíram frustrados na tentativa de conversar com tucano

Marcelo Camargo/ABr

Ausente no debate, Alckmin foi duramente criticado pelo descaso com a saúde, gestão da água, das universidades e institutos de pesquisa

São Paulo – Candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não compareceu e nem mandou representante ao debate realizado hoje (8) pela Associação Paulista de Saúde Pública (APSP) para apresentar suas propostas para os problemas da área.

Sua ausência foi criticada por secretários municipais e profissionais de saúde, pesquisadores, professores, estudantes, servidores da USP em greve e militantes que lotaram auditório na expectativa de cobrar do governador providências sobretudo em relação à falta de água, de investimentos nas universidades e institutos de pesquisa, de diálogo com trabalhadores em greve nas universidades estaduais e de investimentos no setor.

O candidato do PT, Alexandre Padilha, foi representado pelo seu coordenador do programa de governo, Eduardo Tadeu Pereira. Estiveram presentes os candidatos Gilberto Natalini (PV), Gilberto Maringoni (Psol) e Wagner Farias (PCB). Paulo Skaf (PMDB), Laércio Benko (PHS), Raimundo Sena (PCO) e Walter Ciglioni (PRTB) seguiram exemplo de Alckmin e ignoraram o debate.

Presidente da Associação Brasileira dos Municípios (ABM) e ex-prefeito de Várzea Paulista, Pereira criticou a aliança entre o PSDB e os setores conservadores do empresariado, que puseram fim na cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em janeiro de 2008, e a queda de investimentos em saúde nas gestões tucanas em São Paulo. “O estado está aquém de sua pujança e de suas necessidades. Tudo o que se faz aqui se faz de maneira insuficiente e, para completar, o governo se ausenta do financiamento do SUS, forçando as prefeituras a aumentarem o investimentos muito além de sua obrigação constitucional (15%). Em média, os municípios aplicam na saúde 22%, e muitos até mais de 30%.”

De acordo com o representante do PT, Padilha deverá reativar a mesa de diálogo permanente com os trabalhadores do setor, valorizar a formação e a carreira do setor e investir na melhoria da infraestrutura. “As universidades e os institutos de pesquisa paulistas, como o Butantan, voltarão a receber recursos”, disse, alfinetando Alckmin, que vem reduzindo investimentos nesses setores em estado de sucateamento.

Médico, o candidato Natalini reforçou sua história no setor e saiu em defesa do Sistema Único de Saúde, que na prática está cada vez mais distante de poder oferecer saúde de qualidade para todos, motivo pelo qual foi criado. Criticou as isenções fiscais que têm levado ao crescimento do setor de planos de saúde, defendeu o aumento, pelos estados, do percentual a ser investido na conta da saúde, que hoje é de 12%, passando para 15%. “Colocar o mínimo constitucional é muito pouco para melhorar os serviços, como incentivar o programa de saúde da família.”

Outro crítico das organizações sociais (OSs), Wagner Farias, do PCN, defendeu o fim dos contratos com essas entidades e uma auditoria ampla em todas as Santas Casas, cujas dificuldades financeiras vieram à tona nas últimas semanas, depois que a Santa Casa de São Paulo paralisou por um dia o atendimento em seu pronto-socorro. Ao mesmo tempo, Farias alfinetou o representante petista. “Concordo que necessitamos de Mais Médicos, mas eles não bastam para melhorar o atendimento à população.”

Maringoni, do Psol, criticou a crescente participação das Organizações Sociais (OSs) na gestão de postos de saúde e hospitais estaduais e de parcerias público-privadas (PPP). “Os recursos públicos devem ser aplicados em equipamentos públicos, não em PPP, que geralmente são mais privadas do que públicas.”

Sem água

Diretora do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems-SP), a secretária de Salto, Claudia Meirelles, chamou atenção dos candidatos quanto a propostas para o enfrentamento ao problema da falta de água, que já atinge a sua região.

O professor Áquilas Mendes, da Faculdade de Saúde, reclamou do desrespeito da atual gestão pelos trabalhadores das universidades estaduais, que além de não terem aumento de salário ainda estão tendo seus pontos cortados. “O governo Alckmin não quer conversa. Por isso o Hospital Universitário acabou entrando em greve, o que não acontecia há 10 anos”, reclamou, recitando trechos do artigo Tucanistão, que o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Vladimir Safatle, publicou esta semana.

Único parlamentar a comparecer, o deputado Carlos Neder (PT), que preside a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa paulista e coordena a Frente Parlamentar em Defesa dos Institutos de Pesquisa e Fundações Estaduais, lamentou a falta de quem não veio – em especial Alckmin – e anunciou a convocação, para o próximo dia 27, do reitor da USP, Marco Antonio Zago, para explicar as dificuldades financeiras nas universidades estaduais.