Na vanguarda

À frente do Conselho do Sesi, Vagner Freitas fala sobre sindicalismo e educação

“Me preocupa a crise do sindicalismo porque me preocupa a crise da democracia”, afirma o presidente do Conselho do Sesi

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"Queremos formar cidadãos para fortalecer o Brasil. O Sesi é um instrumento de educação", disse Vagner Freitas

São Paulo – O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé promoveu nesta quinta-feira (16) uma conversa com o presidente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi), Vagner Freitas. Os jornalistas Talita Galli (TVT), Lourdes Nassif (GGN), Miguel do Rosário (Cafezinho e Revista Fórum), Conceição Lemes (Viomundo) e Rafael Duarte (Agência Saiba Mais – RN), sob condução do jornalista Lalo Leal, debateram temas relevantes do Sesi e também aproveitaram a ampla experiência de Vagner na área sindical.

Primeiros passos

Vagner tem uma longa carreira no mundo do trabalho e na política. Começou a trabalhar com 15 anos como carregador no Ceagesp. Ainda com 20 anos, ingressou na carreira bancária, onde começou sua trajetória no mundo sindical. Ao longo dos anos, ocupou posições de destaque na CUT (foi presidente por duas gestões), Confederação Nacional dos Bancários (CNB), co-fundou e presidiu a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Assumiu o Sesi neste ano.

“Começamos como todo menino da periferia. O seu Luiz (comerciante para o qual trabalhava) tinha uma banca de mexerica. Ajudávamos ele bastante. Depois disso passei por outras empresas sem registro antes de entrar no Bradesco com carteira assinada. De lá, construímos essa trajetória. Sou da época que fundamos a Rádio dos Bancários. Também sou da época que precisamos fundar a TVT. Hoje temos outros canais que abrem para outras opiniões. É essencial isso, democratizar as comunicações, termos outras expressões na mídia”, disse Vagner Freitas, ressaltando o valor da imprensa dita alternativa, sem amarras econômicas dos veículos hegemônicos.

Questão sindical

Na sequência, Vagner falou sobre o campo que possui mais expertise, o sindical. O mercado de trabalho passou e passa por transformações importantes. De um lado, investidas neoliberais como a “reforma” trabalhista abriram caminho para a terceirização sem limites, a pejotização e a precarização dos empregos. Por outro, a natureza do trabalho muda com novas tecnologias e novas formas de inserção do cidadão na cadeia produtiva. Contudo, há certo consenso entre aqueles que defendem melhor qualidade de vida e dignidade para os trabalhadores a necessidade de organização.

“Me preocupa a crise do sindicalismo porque me preocupa a crise da democracia. O sindicato é um instrumento importante da democracia. Nos últimos ataques à democracia, mesmo os liberais que atacaram a organização sindical, quando a democracia entra em risco, percebemos que instrumentos da democracia a defende. Podemos ter sindicatos com visões ideológicas diferentes, mas democratas. A democracia contou com apoio dos sindicatos para mantê-la”, afirmou.

“Deforma” trabalhista

Freitas recorda que grande parte das dificuldades das organizações sindicais em ampliar seus trabalhos vêm de ataques de agentes do capital. “No Brasil e boa parte do mundo tivemos ofensivas contra sindicatos com a ascensão da extrema direita. Lamentavelmente alguns liberais foram juntos. A reforma trabalhista foi uma tragédia para o Brasil. Enfraqueceu os sindicatos não apenas na questão financeira, mas constrói relação direta entre patrão e empregado. A destruição do sindicato é uma ferida.”

Contudo, o enfraquecimento dos sindicatos, como argumenta Freitas, é uma via que sequer privilegia os setores produtivos. “Entendiam que enfraquecer o sindicato é fortalecer patrões. Fortalece, mas enfraquece outros lados. Você não consegue ter relação organizada. O enfraquecimento do sindicato significa o enfraquecimento da economia. Dizia isso quando era presidente da CUT. Desalinhou parte da economia brasileira. Precisamos modernizar os sindicatos, mas eles precisam existir. Qual ele será, será uma determinação dos trabalhadores”, disse.

Chegada ao Sesi

O Sesi é um instrumento que organiza o ensino e o desenvolvimento da ciência nacional, através do fortalecimento dos trabalhadores. Talita Galli, questionou Vagner Freitas sobre a possível expansão e maior democratização de equipamentos de ensino do Sesi, que são referência nacional em qualidade. “Sei que existe um número de vagas que talvez não seja tão alto quando a demanda. Uma segunda questão é se há espaço para a formação política no Sesi, para além da formação para o mercado de trabalho”, disse Talita.

“Queremos formar cidadãos que vendam sua força de trabalho para fortalecer o Brasil. O Sesi é um instrumento de educação. Temos escolas e não fazemos capacitação profissional, temos outro ente que é o Senai e o Senac que fazem isso. O Sesi é de indústria e faz educação. Então, precisamos de uma classe operária que trabalha. Isso vem com consciência política. Não digo preferência partidária, mas consciência. As pessoas precisam ser cidadãs. Nada disso é novidade. Para termos um grande engenheiro, médico, precisamos de um cidadão”, respondeu Vagner.

Sobre iniciativas para democratizar, Freitas lembrou do contraturno. “Crianças da escola pública vêm estudar no Sesi para complementação. Sou presidente do Conselho, somos o órgão fiscalizador e auditor das contas e do processo de atuação. Mas procuro dar opiniões em conjunto com dirigentes nacionais e regionais. Lula me indica para trazer um olhar a partir das minhas experiências. Então, para melhorar e amplificar o Sesi, não é tanto aumentar vagas, e sim termos parcerias com a escola pública. Teremos possibilidade de atuar para muito mais gente. Obviamente podemos ampliar, mas é um caminho mais longo. O caminho mais curto é a parceria do setor público e privado para ajudar a rede pública.”

Assista na íntegra: