Alvo do ódio

Delegado da PF pede inquérito contra empresário que deu tiros em imagem de Lula

Bolsonarista que metralhou alvo com imagem do ex-presidente disse que é contra a violência e preza “pelos valores morais e da família”

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais
Nas últimas eleições, Crestani foi multado em R$ 90 por tentar aliciar votos de seus empregados

São Paulo –  O delegado da Polícia Federal (PF) Andrei Augusto Passos Rodrigues solicitou nesta quinta-feira (22) à Corregedoria da instituição a abertura de inquérito contra empresário Luiz Henrique Crestani, de Santa Catarina, que postou um vídeo nas redes sociais disparando tiros numa imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também hoje, o PT catarinense registrou um boletim de ocorrência por ameaça, injúria, calúnia e difamação contra o empresário.

O delegado Passos Rodrigues é chefe da segurança da campanha de Lula. Ele foi secretário extraordinário de Segurança de Grandes Eventos, responsável pela Copa do Mundo em 2014 e pelos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, no Rio.

Por sua vez, Crestani é dono do Luke Group, com empresas que atuam com logística, engenharia, restaurantes e clubes de tiro. No vídeo, com a legenda “quem é o ladrão?”, ele está num dos clubes de tiro do qual é sócio, ao lado da sua mulher, ambos portando fuzis. “Qual que é o ladrão? Estou na dúvida. Vamos ver onde a arma pega”. Na sequência, ele dispara várias vezes contra a imagem, que é destruída.

De acordo com Andreia Sadi, colunista do g1, o delegado da PF solicita também a abertura de inquérito para investigar a mulher do empresário, Patrícia. Ele encaminhou um laudo pericial do vídeo, que ressalta a influência do perfil do empresário nas redes sociais.

No seu perfil do Instagram, com dezenas de milhares de seguidores, Crestani, conhecido como “Cabeça”, tem uma série de publicações em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PL). Do mesmo modo, diversas postagens são agressivas a Lula, ao PT e ao Supremo Tribunal Federal (STF)

“Cidadão de bem”

Crestani é mais um “cidadão de bem”, que, em atitude covarde, busca negar os seus próprios atos. Assim, após repercussão negativa do vídeo, ele publicou uma nota afirmando não ser a favor da violência e nem de agressões “a quem quer que seja”. Disse prezar “sempre pelos valores morais e da família”. Além disso, afirmou que o desenho usado “está restrito às atividades internas (do clube de tiro) e não deve ser entendido com qualquer outra conotação, sendo apenas usado em caráter recreativo, sem cunho político”.

Em 2018, o empresário, que também é dono da fábrica de peças e acessórios para caminhões Fibroplast, foi condenado por tentar cooptar votos de empregados. Às vésperas das eleições de 2018, ele chegou a prometer folga aos trabalhadores caso Bolsonaro vencesse a eleição no primeiro turno. Da mesma forma, disse que faria uma churrascada e serviria chope para os funcionários em comemoração à vitória do seu candidato.

Para a Justiça do Trabalho de Santa Catarina, Crestani tentou “induzir o voto dos colaboradores”, condenando o empresário a pagar multa de R$ 90 mil.

Machões armados, Justiça morosa

O caso dos tiros de Crestani em imagem de Lula lembra outro similar, ocorrido no ano passado. Na ocasião, o empresário José Sabatini, da cidade de Arthur Nogueira, no interior de São Paulo, também postou vídeo com uma arma em punho ameaçando Lula, após disparar tiros em alguns alvos. “Lula, seu filho da puta, eu quero dar um recado pra você: se você não devolver os R$ 84 bilhões que você roubou do fundo de pensão dos trabalhador (sic), você vai ter pobrema (sic)”, dizia, enquanto olhava para a câmera. Assim como o empresário catarinente, Sabatini também apagou o vídeo, após a repercussão.

Ele foi processado pelos advogados de Lula, que pedem R$ 50 mil de indenização por danos morais “para efeitos pedagógicos”. O caso, no entanto, tramita lentamente. A pedido da Ministério Público de São Paulo, o processo foi transferido de São Bernardo do Campo, onde o boletim de ocorrência foi registrado, para Arthur Nogueira, cidade em que vive o acusado.

Na semana passada, a Justiça chegou a marcar uma audiência de conciliação entre Lula e o acusado. O ex-presidente, entretanto, avisou que não compareceria. Em seguida, os advogados do ex-presidente disseram que ele não tem interesse na conciliação. Além disso, alegaram dificuldade de agenda, em função dos compromissos de campanha. Assim, a juíza Paloma Carvalho agendou somente para fevereiro do ano que vem a audiência de instrução do processo.