São Paulo – O apoio da cantora Anitta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgado na segunda-feira (11), provocou entusiasmo do próprio pré-candidato à Presidência da República, do PT, de aliados e lideranças. Não por acaso. A enorme influência da artista nas redes sociais é confirmada por dados. Analistas de rede avaliam que a mobilização provocada pela cantora produziu efeitos em diversos setores representados nas redes sociais.

A secretária nacional de Juventude do PT, Nádia Garcia, percebe esse movimento – e se mostra confiante. “Com o apoio de Anitta a Lula, a gente avalia que vai conseguir chegar a um público que não chegava antes”, afirma. “Devido a toda a violência que os bolsonaristas pregam, as pessoas se sentem acuadas em manifestar seus votos no Lula. Mas agora se sentirão à vontade pra compartilhar o que Anitta posta. Foi uma grande felicidade quando ela declarou voto a Lula, apesar da motivação ter sido a morte do companheiro Marcelo (Arruda, assassinado por um bolsonarista em Foz do Iguaçu). Ele foi morto simplesmente por ser petista”, diz.

Ainda na segunda-feira, o analista de redes Padro Barciela destacou no Twitter que “a miríade de clusters e pequenos agrupamentos que Anitta traz consigo é algo muito, muito grande”. E acrescentou: “Pensando em uma eleição polarizada, essa incrível capacidade de disseminar informações, propostas e alternativas pode ter um peso enorme”.

A cultura com Lula

Para Nádia, a influência do gesto de Anitta significa alcançar nichos de jovens com formação e pensamento muito diferentes entre si. “Significa falar pra fora da bolha petista, falar com os jovens que talvez não se sentissem atraídos pela política pra procurar conhecer a verdade do que aconteceu nos últimos anos”, continua a dirigente. Esses jovens talvez não se aproximassem sozinhos do ideário de Lula. “Mas agora podem vê-lo com bons olhos, graças à Anitta.”

Este ano, vários artistas e celebridades – brasileiros e internacionais – incentivaram os jovens brasileiros a se cadastrar para votar em 2 de outubro. Além de Anitta, Bruna Marquezine, Zeca Pagodinho, Pablo Vittar e Luíza Sonza, entre os brasileiros, e Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo, entre os estrangeiros, são alguns deles.

Além de Anitta, Nádia cita mais artistas e influenciadores que têm contribuído para “a construção de um Brasil mais justo e igualitário”: Ludmilla, Doutora  Deolane, “ainda fortemente a galera do rap”, os Racionais (“Que ainda influenciam a juventude”), atores e atrizes da Rede Globo etc.

Em postagem no Twitter no dia 3 de maio, Anitta contou a chamada “fofoca do dia” e – aproveitando o ativismo ambientalista do ator Leonardo DiCaprio – ironizou o presidente brasileiro. “Ontem eu passei horassss com o @LeoDiCaprio falando sobre a importância dos jovens tirarem seu título de eleitor. Está na reta final. Vocês sabiam que ele sabe mais sobre a importância da nossa floresta Amazônica do que o presidente do Brasil? Pois sabe”, postou a cantora, em uma série de tuítes.

Ela acrescentou que a primeira coisa que pediu a DiCaprio foi “permissão pra contar essa fofoquinha pra vocês”. Dias antes, o ator falou em sua página sobre a floresta brasileira. “O Brasil é o lar da Amazônia e outros ecossistemas críticos para as mudanças climáticas. O que acontece lá importa para todos nós e votação entre jovens é chave em motivar mudanças por um planeta saudável”, escreveu em inglês no final de abril, perto do fim do prazo para requerer o título.

Dois milhões de jovens

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022 foram registrados 2.042.817 milhões de novos eleitores entre 16 e 17 anos, de janeiro a abril. O número representa um aumento de 47,2% em relação a igual período em 2018, e de 57,4 % em relação a 2014.

“Não concordo que a juventude não se interessa pela política. Se interessa, mas não pela política engessada, velha, que a gente tem hoje no Brasil”, diz a secretária petista para a juventude. “É muito difícil se interessar por uma política que você não constrói. A juventude não quer ser mais telespectadora da política, quer ser protagonista”, resume Nádia.

O ódio contra 63 milhões

Em reação ao apoio de Anitta a Lula, como argumento, os aliados de Bolsonaro só podem acionar a máquina do ódio. A deputada Carla Zambelli (PL-SP), por exemplo, recomendou à cantora: “Anitta, arruma um psiquiatra, você deve ter um problema grave de baixa estima”.  O deputado Bibo Nunes (PL) também atacou: “Cantora Anitta diz que vai votar em Lula. Que baita ajuda para a vitória de Bolsonaro!”.

A cantora tem 63 milhões de seguidores no instagram e 17 milhões no Twitter. Sabendo disso, o próprio Bolsonaro, ao falar da cantora e o apoio a Lula nesta quinta-feira (14), foi ameno. “É o limite dela”, disse o chefe de governo a apoiadores.