Perspectivas

Próximo governo, e espero que seja de Lula, vai ser de frente ampla, diz Nelson Barbosa

Para ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, o maior desafio do futuro governo vai ser recuperar a governabilidade “muito deteriorada do país”

Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas
Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas
"Se a melhor forma de chegar a essa coalizão é com um vice do PSB ou não, é uma coisa a ser discutida”

São Paulo – Recuperar a governabilidade do país, o diálogo e a transparência de gestão é a primeira tarefa de um possível novo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do ponto de vista da economia, essa seria uma plataforma urgente de uma candidatura unificadora das forças democráticas do país, no contexto de destruição promovida pelo governo de Jair Bolsonaro. O economista Nelson Barbosa, ex-ministro do Planejamento e também da Fazenda de Dilma Rousseff, considera fundamental o debate sobre a governabilidade na construção de um futuro de superação da crise. Nesse contexto, ele prefere não opinar sobre uma eventual chapa formada por Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que deve desembarcar nos próximos dias do PSDB rumo ao PSB ou PSD.

“Acho que o próximo governo – e espero que seja do presidente Lula, e defendo a candidatura dele não é de hoje – provavelmente vai ser um governo de frente ampla. Uma coalizão até para ter base no Congresso. Se a melhor forma de chegar a essa coalizão é com um vice do PSB ou não, é uma coisa a ser discutida”, diz Barbosa, em entrevista à RBA.

“Me concentro mais na economia, que já é desafiadora o bastante (risos). Uma eleição no Brasil não é só para presidente, mas para todos os 27 governadores, deputados, um terço do Senado. Esse tipo de discussão (formação de chapa) é natural, sempre foi assim e continuará sendo. Espero que, quem quer que seja o vice, agregue apoio político e às propostas progressistas que o presidente Lula tem feito.”

“Incertezas, ruído político”

Para Barbosa, o mais importante desafio do próximo governo vai ser, de fato, recuperar a governabilidade “muito deteriorada do país, por excesso de regras fiscais, perda de transparência no orçamento”. “É preciso recuperar a capacidade de discussão, acordos transparentes e prestação de contas no Congresso. Esse é o primeiro passo, antes mesmo da economia. Recuperar a governabilidade com os órgãos de controle, TCU, Ministério Público, Supremo. Houve muita interferência de algumas esferas de poder umas nas outras. Isso tudo só cria incertezas, ruído político, e dificulta a ação orçamentária”, avalia.

“E o resultado está aí: o Brasil cresce pouco. Já estava crescendo pouco antes da Covid e voltará a crescer pouco após a crise da pandemia. Para sair disso precisa ser por um acordo político, com transparência, prestação de contas, e recuperar a capacidade de investimento do governo.”

A tarefa de recuperar a enorme destruição bolsonarista não será fácil. “É difícil recuperar. Leva tempo, mas o Brasil já se recuperou de crises no passado. Vai ser difícil, mas tem solução.”

O cenário envolvendo alianças em 2022 é objeto de intensas negociações. Fiel a seu estilo que privilegia o diálogo, Lula tem feito interlocução com diversos atores políticos. Foi assim que o ex-presidente se elegeu por duas vezes, trazendo a suas campanhas de 2002 e 2006 a presença do empresário do setor industrial José Alencar.

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De discordância a apoio

As negociações com Alckmin desagradam a setores da esquerda, mas também têm o apoio de antigos aliados de Lula. Celso Amorim, ex-chanceler do petista e ex-ministro da defesa de Dilma, afirmou à TV 247 que não vê “contradição absoluta entre o que defende Lula e o PT, e certas linhas do antigo PSDB, encarnado pelo Alckmin”.

Na opinião de Amorim, se Alckmin for para o PSB significará “alguma negociação, algum refinamento para um lado mais progressista”. Ele destacou ser “muito importante a união das forças democráticas”. Já uma possível aliança entre Lula e o ex-governador de São Paulo é um “elemento dificultador” para o apoio do Psol em 2022, segundo disse o presidente do partido, Juliano Medeiros, ao portal Uol.

Pré-candidato do partido ao governo de São Paulo, seu correligionário Guilherme Boulos afirmou à GloboNews, na sexta-feira (3), acreditar que “Lula é o candidato que tem melhores condições de derrotar o Bolsonaro, de tirar o Brasil desse pesadelo”. Explicou que, por isso, defende a candidatura do ex-presidente. “Acho que a tendência é que o meu partido, o PSOL, também deve apoiá-lo”, acrescentou, mas com ressalva: “essa discussão sobre o vice ser o Alckmin, eu considero um mau sinal”.

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