Estilo bolsonarista

Ricardo Barros e Flávio Bolsonaro foram à CPI para tumultuar, diz Randolfe

Comissão vai consultar STF sobre o procedimento a adotar na segunda ida do líder do governo na Câmara à CPI, já que ele “mente depois de assumir o compromisso de dizer a verdade”, segundo Randolfe

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Ricardo Barros (esq.), Fernando Bezerra Coelho e Flávio Bolsonaro: tática de tumultuar

São Paulo – A oitiva do deputado Ricardo Barros (PP-PR) à CPI da Covid nesta quinta-feira (12) pode ser considerada a mais tumultuada da comissão até aqui. Político hábil, o líder de Jair Bolsonaro na Câmara foi à comissão com o objetivo de inverter a “narrativa” de que o governo que representa é o responsável por atrasos de vacinas e, consequentemente, por centenas de milhares de mortes que poderiam ser evitadas. Acusou a CPI de afastar “muitas empresas interessadas em vender vacinas ao Brasil”. Com essa declaração, provocou indignação, confusão e a suspensão temporária da sessão.

No retorno, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) pediu questão de ordem. O parlamentar rebateu a fala de Barros segundo a qual as fabricantes de vacina se desinteressaram de negociar com o país por conta da atuação da CPI. Vieira esclareceu que a chinesa CanSino – produtora do imunizante Convidecia – desmentiu essa informação, reafirmou o interesse em “manter integralmente” as negociações com o Brasil e relatou que suspendeu a relação com a Belcher, da cidade natal de Barros (Maringá), por falta de confiança na empresa.

Em seguida, Vieira sugeriu ao presidente Omar Aziz Que (PSD-AM) o encerramento da sessão, a retomada do depoimento do líder do governo em outra data, na condição de convocado, e não mais como convidado. “Para o Brasil ter de fato um depoimento. É um momento grave que não admite molecagem e exige resposta séria”, argumentou.  Aziz acatou a questão de ordem de imediato e encerrou a sessão. Barros voltará à comissão como convocado.

“Tropa de choque organizada”

Em seguida os senadores falaram à imprensa. O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ainda manifestando indignação, observou a presença na sessão do filho “Zero Um” do presidente da República. “Ricardo Barros veio com midia training, tropa de choque organizada.  Flávio Bolsonaro só aparece em depoimentos que interessam ao governo. Vieram para tumultuar”, acusou.

Ele afirmou que a CPI atrapalhou não a contratação de vacinas, como disse Barros, mas as negociações obscuras com as intermediárias Davati e Precisa Medicamentos. As tratativas desta última em torno da vacina indiana Covaxin envolviam “um golpe de R$ 45 milhões”, disse o senador. O contrato com a Precisa tinha uma cláusula que previa o envio antecipado dessa quantia à empresa Madison Biotech, em Singapura. A Bharat Biotech, fabricante do imunizante, posteriormente afirmou que a Madison faz parte de seu grupo.

“Temos elementos para indicar a participação de Ricardo Barros”, continuou Randolfe. “As vacinas dele e de Bolsonaro eram Davati e Precisa, que ele responde ao Ministério Público.” A referência é a uma ação de improbidade à qual o líder do governo responde pela compra de medicamentos junto à Global Gestão em Saúde, empresa sócia da mesma Precisa, feita pelo Ministério  da Saúde quando Barros ocupou a pasta (2016 a 2018). Os medicamentos nunca foram entregues.

Em depoimento de 25 de junho àCPI da Covid, o deputado Luis Miranda relatou à CPI que o presidente Bolsonaro citou Ricardo Barros como provável envolvido no “rolo” da vacina. Miranda teria levado a denúncia de irregularidades no processo de compra da Covaxin ao chefe do governo no dia 20 de março.

Na coletiva, Aziz disse que a CPI terá muito mais elementos na segunda oitiva do líder Barros, ainda sem data marcada. Isso porque os senadores esperam que até lá, se a quebra de sigilos do deputado for autorizada pela Justiça, haverá mais elementos concretos para os questionamentos. Os senadores informaram que vão consultar o Supremo Tribunal Federal sobre o procedimento a ser adotado na segunda ida de Ricardo Barros, um “deputado que mente” depois de assumir o compromisso de dizer a verdade, o que caracteriza crime.

Segundo a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), como convocado, Barros terá de se submeter às determinações da comissão, como ser obrigado a depor e estar sujeito à condução coercitiva, caso se recuse.


Leia também


Últimas notícias