às portas do Planalto

CPI da Covid convoca advogada de Bolsonaro e diz que Ricardo Barros comanda ‘roubalheira’

Para cúpula da CPI, é significativo que o advogado que conseguiu liminar para motoboy da VTCLog não depor nesta terça-feira defendeu Fabrício Queiroz e o miliciano Adriano da Nóbrega

Reprodução/TV Uol - Will Shutter/Ag. Câmara
Reprodução/TV Uol - Will Shutter/Ag. Câmara
Karina Kufa, advogada da família Bolsonaro, e Ricardo Barros, líder do governo, na mira da CPI

São Paulo – Nas semanas que antecedem o relatório que será apresentado pelo senador Renan Calheiros, a CPI da Covid está fechando o cerco sobre o Palácio do Planalto. A comissão aprovou nesta terça-feira (31) a convocação da advogada da família do presidente Jair Bolsonaro, Karina Kufa, para depor. Os senadores também aprovaram a reconvocação do motoboy Ivanildo Gonçalves e a quebra de sigilos da VTCLog, empresa à qual ele presta serviço.  Ivanildo deixou de comparecer beneficiado por uma decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, indicado à Corte por Bolsonaro. Em outra linha do novelo de ligações do Ministério da Saúde com esquemas considerados suspeitos, a CPI obteve relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que aponta “movimentação financeira incompatível com o patrimônio ” do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR). 

Na sessão de hoje que ouviria o motoboy, o relator comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que Barros “é o comandante de um dos maiores esquemas de roubalheira que assaltaram o Ministério da Saúde”. O líder do governo respondeu nas redes sociais: “O senador Renan e a CPI não têm nada contra mim e não terão. Minha conduta é ilibada. Entendo o desespero de não terem concretude nas suas acusações. Só querem atacar o governo do qual sou líder.”

A cúpula da CPI da Covid considerou “muito significativo” que o advogado da VTCLog, Alan Diniz Moreira Guedes de Ornelas, que defende Ivanildo e obteve a liminar em seu favor, represente também Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, como parte da banca do escritório de advogados de Paulo Emílio Catta Preta. Ornellas atuou ainda como defensor do miliciano Adriano da Nóbrega, ligado ao chamado Escritório do Crime, morto em fevereiro na Bahia.

Nunes Marques: decisão estranha

O cenário em torno na VTCLog e a “falta” do motoboy à comissão irritou os senadores. “Agora a CPI irá focar no depoimento de todas as pessoas da VTCLog. Todas, sem exceção. Nós iremos a fundo na VTCLog até a CPI concluir essa questão”, prometeu  o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). A empresa presta serviços de logística, entre eles a distribuição de vacinas. A estranheza em relação à decisão de Nunes Marques se deve ao fato de que Ivanildo não deporia como investigado, mas na condição de testemunha. Renan lembrou que, em julgamentos anteriores sobre oitivas de testemunhas, o STF determinou que os depoentes seriam obrigados a responder as perguntas formuladas. “O que aconteceu, lamentavelmente, com a decisão de ontem, foi um retrocesso com relação a essa jurisprudência adotada pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro alegou que não havia pertinência temática. Como não?”, questionou o relator.

Segundo relatório do Coaf, a VTCLog movimentou de maneira atípica R$ 117 milhões nos últimos dois anos e o motoboy teria feito saques para a empresa que somam R$ 4,7 milhões. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, garante que o colegiado tem a comprovação de pagamentos feitos por Ivanildo em favor de Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, acusado de esquema de propina e único depoente que foi  preso por ordem da CPI.

O relatório do Coaf que aponta “movimentação financeira incompatível de Ricardo Barros foi obtido pelo jornal O Globo. Segundo o documento, o líder de Bolsonaro movimentou R$ 169.849,97 acima da capacidade declarada. Somente em março de 2021, as transferências envolvendo pessoas físicas e jurídicas que têm o deputado como sócio chegaram a R$ 418 mil, 94% dos R$ 446 mil que ele declara ter como patrimônio líquido.

A advogada do presidente

De acordo com Randolfe, o nome de Karina Kufa foi levantado pela quebra de sigilo do lobista Marconny Faria, que segundo a CPI trabalhava em favor da Precisa Medicamentos. Para a comissão, Marconny e Ricardo Santana, ex-secretário executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos da Anvisa, que depôs na semana passada, teriam se conhecido na casa da advogada de Bolsonaro.

No requerimento da CPI da Covid em que é convocada, Randolfe argumentou que ela explique “um jantar em sua residência onde Marconny Faria foi apresentado a Ricardo Santana, depoente que se revelou como uma espécie de consultor informal do Ministério da Saúde”.