Escritório do crime

Corpo do miliciano Adriano da Nóbrega é exumado para passar por novos exames

Adriano da Nóbrega foi morto em fevereiro. É acusado de participar da morte de Marielle, de esquemas com Fabrício Queiroz e pode ter sido alvo de queima de arquivo

Reprodução
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São Paulo – O corpo do miliciano Adriano da Nóbrega foi exumado nesta segunda-feira (12) para realização de novas perícias sobre as condições de sua execução, em 9 de fevereiro. Na ocasião, o Capitão Adriano foi alvo de cerco policial no município de Esplanada (BA), a 155 quilômetros de Salvador, e acabou morto após alegado “tiroteio” com policiais. As circunstâncias da morte – devido às ligações de Adriano com o chamado Escritório do Crime – levantaram suspeitas de que a operação tenha efetuado uma “queima de arquivo”.

A ligação de Adriano da Nóbrega com a organização criminosa miliciana foi apontada por investigações desencadeadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Tanto a Justiça do estado quanto a da Bahia autorizaram a exumação, que foi requerida pelo MP. O Escritório do Crime tem como um de seus mais conhecidos integrantes o ex-policial Ronnie Lessa, que está preso, acusado pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018.

Além disso, os crimes que pairam sobre o currículo do ex-policial, remetem desde as milícias de Rio das Pedras ao esquema das “rachadinhas”, cujas apurações, também pelo MP-RJ, envolvem Flávio Bolsonaro. Isso porque o filho Zero Um do presidente é investigado por suspeita de contratação de funcionários fantasmas por seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era deputado estadual. O esquema consistia da apropriação, pelo gabinete, de parte dos salários desses funcionários. As investigações chegaram a levantar suspeitas de que a prática ocorria também no gabinete de Jair Bolsonaro quando era deputado federal.

Adriano da Nóbrega, homenagens de Flávio

De acordo com as investigações do MP-RJ, Adriano da Nóbrega fazia parte do alto comando da organização miliciana. A mãe do ex-polical, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça da Costa estão entre os funcionários contratados pelo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O responsável por operar o esquema das rachadinhas seria o miliciano e ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, amigo da família Bolsonaro.

O corpo de Adriano já passou por duas necropsias indicando que o miliciano foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância. Laudo do Instituto Médico Legal do Rio indicou ainda que ele tinha nas costelas fraturas compatíveis com tiros e não apresentava “lesões violentas” – que poderiam indicar tortura.

Capitão Adriano estava foragido desde 2019, mas vinha sendo alvo de denúncias por práticas criminosas desde 2003. Naquele ano, ele e Fabrício Queiroz foram acusados pela morte de um técnico de refrigeração, em operação policial realizada em Cidade de Deus. No ano seguinte, foi preso acusado de matar um guardador de carros, sendo inocentado e solto dois anos depois. Posteriormente, foi processado por suspeita de participação em pelo menos mais dois homicídios, relacionados a bicheiros. Acabou expulso da Polícia Militar em 2013, mas sem condenações.

Antes, em 2003 e 2005, Adriano da Nóbrega recebeu “homenagens” na Alerj, propostas por Flávio Bolsonaro. A primeira, uma moção de louvor por sua “dedicação e brilhantismo” no desempenho de suas funções. Na segunda, não pode comparecer para receber a Medalha Tiradentes, mais alta honraria concedida pela Assembleia fluminense, por estar preso.

Caso Marielle

adriano da nóbrega 
marielle franco
Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro - 11.mai.2017
Adriano da Nóbrega era apontado por envolvimento no crime que matou Marielle Franco, ainda sem respostas (foto: Renan Olaz/Câmara Municipa Rio de Janeiro)

As promotoras de Justiça Simone Sibílio e Letícia Emile se afastaram da força-tarefa que investiga o assassinato da vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. Embora o Ministério Público do Rio de Janeiro tenha informado que a decisão foi voluntária, ambas teriam deixado as investigações incomodadas por interferências externas. Anielle Franco, irmã de Marielle, disse ao jornal O Globo que a família foi pega de surpresa com a notícia.

“Saiu o delegado. Agora, as promotoras. A gente não consegue saber o que está acontecendo. É desesperador. Não podemos perder as esperanças. Mas com tantas mudanças…”, afirmou Anielle. Ela se refere também ao delegado Moysés Santana, substituído por Henrique Damasceno como titular da Delegacia de Homicídios (DH) da capital fluminense. A mudança de delegado, no último dia 7, foi a terceira desde o início das investigações.

Desse modo, há 1.217 dias o Brasil e o mundo ainda não têm respostas sobre quem mandou matar Marielle e Anderson, e por quê, em 14 de março de 2018.

Com informações do Estadão e do G1