Agente da propina

‘Quem sustenta figuras como Roberto Dias é o próprio Bolsonaro’, afirma analista

Para cientista político Wagner Romão (Unicamp), longa permanência do ex-diretor Roberto Ferreira Dias no Ministério da Saúde, passando por diversas gestões, indica participação de Bolsonaro

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Em outubro, exoneração de Roberto Dias foi revertida por Bolsonaro, após pedido de Alcolumbre

São Paulo – O cientista político Wagner Romão, professor da Unicamp, chama a atenção para a longa permanência no governo do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Ele é acusado de ter cobrado propina de US$ 1 por dose em negociação para a aquisição de 400 milhões de vacinas da AstraZeneca. Além disso, Dias também foi citado pelos irmãos Miranda por ter feito pressão pela liberação da importação de 20 milhões de doses da Covaxin.

Dias chegou ao ministério ainda com Luiz Henrique Mandetta e permaneceu na função durante as gestões Teich, Pazuello e Queiroga. Ele foi exonerado oficialmente apenas na última quarta-feira (30), após denúncia de Luiz Paulo Dominguetti Pereira ao jornal Folha de S.Paulo sobre o pedido de propina.

“Se ele permaneceu esse período todo, quem sustenta figuras como Roberto Dias é o próprio Bolsonaro”, disse Romão, em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (1º). Ele lembrou que a nomeação do ex-diretor antecedeu à formalização da aliança de presidente com o Centrão.

O nome de Dias volta ao centro das atenções nesta quinta. É quando a CPI da Covid vai ouvir o depoimento de Dominguetti, a respeito das negociações suspeitas para a aquisição de vacinas.

Trajetória

A nomeação de Dias foi atribuída ao deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. Barros, no entanto, negou envolvimento na escolha do agente. Ainda nesta quarta (30), o ex-deputado Aberlardo Lupion (DEM-PR) assumiu ter feito a indicação do ministério. Em outubro, Dias chegou a ser indicado, com apoio do DEM, para ocupar cargo na diretoria da Anvisa.

Mas Bolsonaro voltou atrás na indicação, após a revelação de que Roberto Dias havia assinado um contrato com suspeita de irregularidades para a compra de 10 milhões de kits para testes de covid-19. Diante disso, o então ministro Eduardo Pazuello encaminhou a exoneração do diretor, contudo, sua demissão não foi consumada por Bolsonaro. Fontes do Palácio do Planalto dizem que sua saída teria sido revertida pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), em conversa com o presidente.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira