CORRUPÇÃO

E-mails revelam negociação entre gestão Bolsonaro e empresa que denunciou propina

Mensagens confirmam agendamento de reunião oficial entre o ministério da Saúde e representante da empresa que denunciou proposta de superfaturamento para compra da vacina Covaxin

Bharat Biotech/Reprodução
Bharat Biotech/Reprodução
Negócios envolvendo a Covaxin no Brasil são cheios de suspeitas

São Paulo – E-mails mostram que a gestão Bolsonaro negociou oficialmente venda de vacinas Covaxin com representantes da Davati Medical Supply. Um deles afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1, cerca de R$ 5, por dose. As mensagens, recebidas pela jornalista Constança Rezende, da Folha de S.Paulo, foram trocadas entre Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do ministério, Herman Cardenas, que aparece como CEO da empresa, e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador dela.

O autor do pedido de propina teria sido Roberto Ferreira Dias. Ele foi exonerado na noite de ontem (29). Na conversa, Herman Cardenas informa sobre a possibilidade de aquisição de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca. É também citado Luiz Paulo Dominguetti Pereira como representante da Davati Medical Supply. Dominguetti disse que jantou na noite anterior àquela manhã com Roberto Dias no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, na capital federal, quando ouviu, segundo ele, o pedido de propina de US$ 1 por dose de imunizante negociado.

‘Superpedido’ de impeachment de Bolsonaro aquece terceiro ato nacional do sábado, #3J

“Ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo”, afirmou Dominguetti ao jornal. Ele diz também que a empresa não aceitou pagar a propina e, portanto, o contrato não foi assinado.

A reunião

Dominguetti conta ainda que recebeu um e-mail do Departamento de Logística do Ministério da Saúde chamando para uma reunião oficial na tarde do dia 26, no ministério e com a participação de Roberto Dias. “Este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos. Para tanto, gostaríamos de verificar a possibilidade de agendar uma reunião hoje às 15h, no Departamento de Logística em Saúde.”

Lá, o representante da Davati Medical Supply afirma ter sido colocado por Dias em uma sala, onde recebeu uma ligação perguntando se ia ter o acerto sobre a compra das doses de Covaxin e disse ter respondido negativamente. Logo depois foi chamado e informado de que a empresa seria contatada para tentar fazer a vacina, o que não ocorreu. Ele acrescenta que a Davati Medical Supply tentou novas conversas, que nunca prosperaram. “Ninguém queria vacina”, afirmou.

CPI da Covid: Bolsonaro, Covaxin e outras

Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), que nega a indicação. Barros está no centro de graves denúncias de superfaturamento da compra de vacinas Covaxin. Ele teria sido citado por Jair Bolsonaro como o responsável pelo suposto esquema, de acordo com o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). O parlamentar paranaense, além de Roberto Dias e Luiz Paulo Dominguetti, serão convocados a depor na CPI da Covid no Senado. A comissão afunila as investigações para conferir as conexões de Bolsonaro com o escândalo não só da Covaxin, mas que pode se estender a outras negociações.